Santos Silva. "Metas europeias de doação de vacinas para África em 2022 serão ultrapassadas"
17-02-2022 - 07:33
 • José Pedro Frazão

Anunciado como um momento político importante para reforçar as relações entre os dois continentes, o encontro de chefes de Estado e de Governo da Europa e de África, que hoje arranca em Bruxelas, procura potenciar o investimento no continente africano, em particular no domínio da sustentabilidade, dar um impulso à vacinação em África e debater formas de mobilidade que ajudem a ordenar as migrações.

Desde 2017 que os líderes europeus e africanos não se juntavam na mesma reunião neste alto nível de representação. Desenhada para acontecer de três em três anos, a Cimeira União Europeia-União Africana foi sendo adiada devido à pandemia e finalmente acontece durante a Presidência Francesa do Conselho da UE.

Nesta Cimeira, o Primeiro-ministro António Costa vai participar em diversas mesas redondas de governantes e vai mesmo co-presidir a uma delas - a que trata das questões da educação e das migrações.

Em entrevista à Renascença, o Ministro dos Negócios Estrangeiros revela que o Primeiro-ministro vai dar o exemplo dos acordos de mobilidade laboral da CPLP e entre Portugal e Marrocos como modelo ideal para evitar a proliferação de tráfico de migrantes que têm levado, por exemplo, a tragédias no Mediterrâneo.

A questão da vacinação em África junta-se às outras matérias que têm vindo a ser discutidas entre as duas Uniões como a paz, o investimento económico, as migrações e as alterações climáticas.

Augusto Santos Silva diz acreditar que as metas de doação de vacinas vão ser superadas, mas subsiste o desafio da sua administração por todo o continente africano.

A pandemia juntou-se à agenda que vinha sendo preparada para a cimeira que sucedia à de 2017. A questão da vacinação tornou-se central. O que é que falta para garantir um impulso à vacinação em África?

O que falta é uma questão de escala. Julgo que o compromisso europeu de chegar aos 700 milhões de doses doadas este ano vai ser cumprido e ultrapassado. O apoio europeu foi também determinante para que África passasse a dispor das suas próprias capacidades de produção de vacinas, designadamente na África do Sul. Isso é uma mudança qualitativa muito importante.

O caso português é muito interessante. Já doámos praticamente sete milhões de vacinas, sendo que metade foi para outras geografias que não o espaço da lusofonia e outra metade dirigiu-se especificamente a países africanos de língua portuguesa e Timor-Leste. Por alguma razão os países lusófonos em África têm hoje um nível medio de vacinação muito superior ao do resto do continente.

Esse esforço de doação de Portugal fez sentido por ter acontecido num quadro de uma cooperação mais geral. Apoiamos os nossos irmãos que partilham connosco a língua portuguesa nos equipamentos de proteção individual, realização de testes. formação de profissionais ou doação e apoio à administração de vacinas. esta abordagem mais sistemática garante verdadeiramente resultados no terreno. Dito isto, a escala da vacinação universal é muito superior a esta.

A questão não é já a da doação de vacinas, mas de "absorção" da vacinação. Isso passa pelo melhoramento das estruturas de governação?

Sim, na governação e na administração. Por isso é muito importante que o esforço específico de doação de vacinas não seja algo episódico, mas uma alínea de um conjunto de práticas de cooperação. Por exemplo, no caso português, na cooperação com São Tomé e Príncipe significa o apoio ao sistema local de saúde e à prática de telemedicina. Há consultas que se realizam no Hospital de São Tomé e Príncipe apoiadas por vai remota por médicos portugueses.