Apanhados. Roubavam as quatro rodas de carros que deixavam apoiados em tijolos
12-11-2018 - 16:58
 • João Carlos Malta

Grupo que atuava em Lisboa ganhava entre 700 a 900 euros por roubo de "packs" de rodas e jantes, cujo valor pode, em média, chegar a dois ou três mil euros.

Três homens, um macaco hidráulico e apenas 15 minutos bastavam para tirar as quatro rodas aos automóveis. Quando os proprietários acordavam de manhã e se dirigiam aos carros, encontravam-nos assentes em dois tijolos.

Desde junho e durante os últimos cinco meses, a PSP tem registo de mais de 300 furtos deste género a carros, na zona de Lisboa. Uma média de 60 casos por mês.

O grupo agora detido pela Polícia, composto por três homens, entre os 21 e os 27 anos, procurava pneus e jantes de luxo impendentemente da marca da viatura.

No entanto, os alvos prediletos eram Mercedes, BMW e Renault. Nos últimos dois meses, a marca francesa foi mesmo a mais procurada.

O trio procurava na maior parte das vezes zonas com pouco movimento, mas à medida que o tempo passou foram ganhando confiança e num dos casos atacaram um Citröen DS em plena Avenida de Roma, um dos locais mais movimentados da capital.

Esquema altamente rentável

O negócio era altamente rentável e tinha uma estrutura montada. Os assaltantes procuravam os alvos e depois vendiam o material furtado por 700 a 800 euros, em stands e oficinas.

Os recetadores revendiam por quantias entre os 1200 e os 1500 euros. São valores muito abaixo dos dois mil a três mil euros que as jantes e os pneus valem se forem adquiridos de forma legal.

O intendente Resende, chefe da divisão de Investigação Criminal da PSP de Lisboa, explicou aos jornalistas que este grupo tinha já alguma prática e “em 10 15 minutos conseguiam retirar as rodas a uma viatura e deixá-la assente em blocos”.

“Em algumas situações os carros ficavam com danos”, sublinha o investigador.

Depois de deter o grupo em flagrante junto a uma garagem em Benfica, Lisboa, já na última semana, após dois furtos em Almada, a PSP continuou a investigação que permitiu chegar aos recetadores. São sobretudo donos de stands e de oficinais da Grande Lisboa.

Depois de várias ações de buscas, alguns dos recetadores foram constituídos arguidos. Do grupo de assaltantes, um ficou detido, −o elemento que a PSP acredita que é o cabecilha −, e os outros dois com apresentações periódicas. Dois dos assaltantes já estavam referenciados por furtos.

Até ao momento, a PSP ligou este grupo a 14 casos, sendo que acredita que estarão ligados a mais dos 306 registados desde junho.

No total dos 14 casos a que a investigação já conseguiu relacionar com os detidos, o valor furtado ascende aos 120 mil euros.

O intendente Resende não exclui, no entanto, a possibilidade de haver mais gangs envolvidos.

“Quando surge um fenómeno que pode ser rentável pode haver mais grupos”, considera.

Alvalade era alvo dos assaltantes

Na freguesia de Alvalade, há muito tempo que o roubo das rodas de carros é tema de conversa e gera preocupação entre os moradores.

Na Pastelaria D. Rodrigo, junto à Avenida Gago Coutinho, o filho do dono, Pedro Alves, fala de vários casos.

“Houve três ou quatro carros em que aconteceu esse tipo de furto, tiram as rodas e deixam os carros em cima de tijolos e dos próprios macacos”, conta Pedro.

O mesmo relata que os assaltantes procuram “carros novos, com boas jantes, bons pneus”.

“Não sei se há algum mercado que sustente isso sinceramente”, afirma.

A maior parte dos casos de que tomou conhecimento, segundo Pedro Alves, ocorreram nas noites de sexta para sábado.

O trabalhador considera que aquela zona “é muito escura à noite”, com “árvores de grande porte” e “sem iluminação”.

O facto de ser um local com pessoas de muita idade e com pouca gente na rua, no entender de Pedro Alves cria as condições para os assaltantes atuarem com grande liberdade.

Pedro critica a falta de patrulhamento policial nas ruas.

“Sentimos muita falta de policiamento de proximidade. É uma zona com comércio, estou aqui 12 horas por dia de segunda a sábado e não vemos passar um policia, EMEL é com fartura, policias zero”, remata.