"Maioria dos bielorrussos são contra a invasão", diz português que saiu do país
13-03-2022 - 16:49
 • Lusa

Nuno Farelo era treinador no HC Meshkov e deixou a cidade de Brest, junto à fronteira polaca, a 1 de março, cinco dias depois de o Presidente russo, Vladimir Putin, ter lançado uma ofensiva militar na Ucrânia, partindo também de território bielorrusso.

O treinador de andebol português Nuno Farelo, que saiu no início do mês da Bielorrússia, considera que a maioria da população é contra a invasão da Ucrânia, uma posição subscrita por analistas bielorrussos contactados pela Lusa.

Nuno Farelo era treinador no HC Meshkov e deixou a cidade de Brest, junto à fronteira polaca, a 01 de março, cinco dias depois de o Presidente russo, Vladimir Putin, ter lançado uma ofensiva militar na Ucrânia, partindo também de território bielorrusso.

"As pessoas diziam-me que esta guerra não faz sentido, mas não o dizem publicamente", disse o treinador que estava num país dirigido pelo Presidente Lukashenko, acusado de abusos de direitos humanos e de perseguir opositores.

Nuno Farelo recorda, em particular um jovem que fazia parte do seu plantel e estava a prestar serviço militar obrigatório: "Há duas ou três semanas ele deixou de aparecer; provavelmente estava nas manobras conjuntas com a Rússia. Neste momento, caso haja uma invasão da Ucrânia [pela Bielorrússia], ele estará lá na frente".

"Isso entristece-me um bocado, porque nós tivemos a possibilidade de abandonar o país, mas eles [os bielorrussos] não têm essa possibilidade", lamentou o português.

Todos os estrangeiros do HC Meshkov Brest - atual campeão bielorrusso, excluído da Liga dos Campeões europeia de andebol - seguiram o conselho das embaixadas e saíram da Bielorrússia "o mais depressa possível".

Isto apesar de em Brest "não haver, mesmo na vida quotidiana, qualquer sentimento de perigo ou de estarmos em guerra".

A Bielorrússia foi abalada por meses de protestos desencadeados pela reeleição "fraudulenta" do Presidente Aleksandr Lukashenko em 2020, disse à Lusa a bielorrussa Tatsiana Kulakevich.

As autoridades responderam com uma campanha "brutal" de repressão, com milhares de pessoas espancadas e "até violadas" pela polícia, disse a investigadora da Universidade da Florida do Sul.

"Para saber como é que os bielorrussos encaram a invasão russa da Ucrânia, precisaríamos de estudos de opinião, algo que infelizmente não temos", disse, por seu turno, à Lusa o analista político bielorrusso Artyom Shraibman.

Nuno Farelo não tem dúvidas que "a maioria dos bielorrussos é contra esta invasão, embora as pessoas não estejam propriamente a fazer manifestações contra".