“O Porto é uma cidade de surpresas”, avisam candidatos do PS e PSD
20-09-2021 - 06:15
 • Cristina Branco

São onze os candidatos à Câmara do Porto. Com a vitória de Rui Moreira dada como garantida, os candidatos procuram evitar a maioria absoluta do atual presidente. Elegem a habitação, o fim da especulação imobiliária, a mobilidade e respostas sociais como falhas dos dois mandatos de Moreira e como bandeiras para a mudança.

Na cidade onde a vitória é dada como garantida e as previsões apontam para o reforço da maioria do independente Rui Moreira, o candidato do PS, Tiago Barbosa Ribeiro, lembra que o Porto “é feito de surpresas” e traz à atualidade o exemplo de Mário Soares.

“Recomendo muita prudência na cidade do Porto, porque tem demonstrado ao longo dos anos, em sucessivas eleições, que a sondagem que verdadeiramente conta é no dia das eleições, depois dos votos colocados na urna e contados depois da urna ser aberta”.

Barbosa Ribeiro lembra que “um político que ganhou e perdeu muito foi Mário Soares. E ensinou-nos, no Partido Socialista e não só, que as eleições só se ganham depois de contados os votos e também só se perdem depois de contados os votos. Ganhou e perdeu, mas foi sempre ao combate”.

A candidatura à Câmara do Porto do candidato socialista é um combate que diz levar a sério, apesar de admitir a vantagem do atual presidente. “É evidente que um incumbente tem sempre uma vantagem, quanto mais não seja porque utiliza os meios da câmara para fazer campanha eleitoral”, ironiza Barbosa Ribeiro sobre Rui Moreira.

Barbosa Ribeiro quer dar resposta ao descontentamento que encontra nos portuenses. Diz ouvir falar, no terreno, “de uma cidade em declínio, com falta de habitação, mais pobreza e mais desemprego”.

O PS é a segunda força política na Câmara do Porto. Em 2017 obteve 28,5% dos votos, mas ainda longe do Movimento de Rui Moreira, que alcançou 44,5%, que volta a contar com o apoio do CDS e, nestas eleições, também da Iniciativa Liberal.

A distância é ainda mais difícil para o PSD, que foi terceiro, com cerca de 10%. O candidato Vladimiro Feliz, antigo braço direito de Rui Rio na Câmara, reconhece não ser fácil bater Moreira.

“Se fosse fácil, não era para mim. Estou aqui de corpo e alma, comprometido, vou fazer das tripas coração pela minha cidade”, garante o candidato social democrata. Feliz acrescenta que quem o conhece sabe que é “mais de fazer do que de aparecer e por isso dizem que não tenho muita notoriedade”.

O candidato lembra o trabalho que fez durante os oito anos em que esteve na câmara, no executivo de Rui Rio. “Sei bem o que fiz na educação, na juventude, na inovação, no ambiente, na área social”, e termina dizendo que esteve sempre “menos preocupado em aparecer, ao contrário do atual presidente, que prefere estar mais nas zonas de propaganda do que comprometido com a cidade”.

Ilda Figueiredo, que se recandidata pela CDU, quarta força política na autarquia, afirma temer que as onze candidaturas à Câmara do Porto reforcem a maioria de Rui Moreira. Ilda lembra o que a pandemia deixou a descoberto. “Tornou-se mais claro o grande défice de infraestruturas, designadamente de habitação, mas também de equipamentos de apoios sociais à população. Tornaram-se gritantes as profundas desigualdades nesta cidade”, conclui.

Já para o candidato do Bloco de Esquerda “esta é, neste momento, a luta de uma vida e a oportunidade para mudar uma cidade voltada para o lucro e especulação imobiliária” afirma, Sérgio Aires, que luta para eleger um vereador e acabar com a “gestão unipessoal” de Moreira.

O independente Rui Moreira, líder do Movimento “Aqui há Porto”, candidata-se a um terceiro mandato e procura a maioria absoluta na Câmara e na Assembleia Municipal, garantindo que vai melhorar a vida dos portuenses e afirmando que “deixa as promessas faraónicas” para os partidos adversários.

O atual presidente é dado com vitória garantida e maioria reforçada, apesar de estar envolvido no conhecido e polémico caso Selminho, que envolve interesses imobiliários da sua família e que o levará a julgamento em novembro, com eventual perda de mandato, em caso de condenação.

O que propõem os principais candidatos à Câmara do Porto?

Há quatro vetores comuns nas propostas dos diversos candidatos entrevistados pela Renascença, que acusam Rui Moreira de ter esquecido: habitação, fim da especulação imobiliária, mobilidade e respostas sociais.

O presidente recandidato promete continuidade. Destaca que vai apostar na melhoria da qualidade de vida dos portuenses.

“Reduzir aquilo que é o custo de vida dos portuenses, naquilo que está à altura da câmara. Ou seja, continuar a ter água mais barata, mas agora reduzir o custo da energia elétrica, produzir energia nos telhados das casas e fazer com que a energia elétrica dos portuenses fique mais atenuada”.

Questionado pela Renascença sobre se vai manter a retenção de 5% da taxa de IRS, Rui Moreira responde que sim e comenta que “aquilo que é engraçado é que os partidos que defendem a redução do IRS deviam fazê-lo no parlamento, devia ser no Orçamento do Estado (OE) que se reduziria o IRS”. “Repare, reduzir o que a câmara retém ia provavelmente abranger muito poucas famílias e em montantes muito reduzidos e não é isso que interessa”, sublinha.

Rui Moreira elege a habitação como outra das prioridades. “Tratar da qualidade da habitação. Uma pessoa que vive num bairro social paga hoje, em média, 50 euros de renda, paga 10 euros, em média, de água, mas paga, provavelmente, no inverno, 150 euros de energia e essa energia é poluente”.

“Aquilo que nós queremos fazer em toda a cidade, e por isso transformámos a empresa de águas numa empresa que produz eletricidade, é fazer com que as pessoas não vivam em pobreza energética, tenham eletricidade mais barata, mas também para que essa energia não seja poluente”, explica Moreira.

Sobre a proximidade da chamada “bazuca” europeia, o candidato independente não se compromete e deixa “as obras faraónicas para os partidos que prometem com base no PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) e nas bazucas. Nós não sabemos se vai haver. E isto que nós estamos a fazer, podemos garantir que vamos fazer”.

A habitação é eleita como a primeira prioridade pelo candidato do PS, que acusa o atual presidente de ter deixado a cidade ao abandono. “Esta é uma cidade proibida para as classes médias e para os jovens e o atual executivo não reconhece este problema. Criou uma cidade com menos habitantes, menos poder de compra, uma cidade socialmente dividida, com mais pobreza e mais desemprego”, descreve Tiago Barbosa Ribeiro.

O candidato socialista pretende “mobilizar parceiros sociais como a Santa Casa da Misericórdia e a Confederação Nacional das Associações de Solidariedade (CNIS), tendo já estabelecido contactos com o Padre Lino Maia, recuperar a dinamização de cooperativas, características do Porto, criar um programa de creches”.

Noutro plano, a mobilidade, Barbosa Ribeiro pretende acabar com “o Porto caótico criado por Rui Moreira e com a fábrica de pinos que proliferam na cidade”.

O PSD promete apostar também na habitação, “retendo cá os nossos e atraindo jovens e famílias para a cidade e isto faz-se com habitação a custos controlados e devidamente regulados”, afirma o candidato Vladimiro Feliz. Pretende, ainda, “criar mais uma creche por freguesia, reduzir a carga fiscal das famílias, baixando para metade o IRS retido pela câmara e reduzindo o valor do IMI”.
Sobre a mobilidade, outra grande linha de atuação do candidato social-democrata, a proposta é reverter o que Moreira criou. “O Porto foi considerado em 2020, pelo índice Tom-Tom, a pior cidade da Península Ibérica em termos de mobilidade. Precisamos de uma visão metropolitana para a mobilidade, que responda às necessidades dos portuenses e que seja uma verdadeira opção”.

Ilda Figueiredo, que se recandidata pela CDU, insiste no tema da habitação como prioritário. “Lutar para que esta cidade tenha habitação condigna para todos, rendas apoiadas para aqueles que não têm condições para pagar as rendas especulativas que estão aí”. Ilda

Figueiredo lamenta que não tenha existido “um travão à especulação imobiliária” e acredita que Rui Moreira está convicto da sua maioria absoluta “e, portanto, a especulação imobiliária pode continuar a reinar porque ele acha que o mercado dá resposta. Dá resposta para quem tem dinheiro para a pagar”, sublinha.

O candidato do Bloco de Esquerda elege como medida urgente e imediata “acabar com a especulação imobiliária numa cidade negócio que perde cada vez mais população”. Sérgio Aires considera que Rui Moreira “não reconhece o problema dos bairros abandonados e das reabilitações de fachada, fazendo crer que está tudo bem na cidade”.Aires lamenta, no entanto, que “não se esboce grande mudança no Porto”, onde o presidente “faz uma gestão unipessoal e é incapaz de ouvir as instituições da cidade”, dando o exemplo da CNIS, que acusa Moreira de estar de costas voltadas para as organizações sociais.

Por essa razão, o candidato do Bloco espera conseguir eleger um vereador e ter representação no executivo municipal, para que “se acabe com uma oposição que não faz frente a Rui Moreira, uma oposição tranquila e conivente que pouco serve os interesses da cidade”.

Onze candidatos à segunda maior câmara do país

Para além do atual presidente, e favorito, do movimento “Rui Moreira: Aqui há Porto”, apoiado pelo CDS e Iniciativa Liberal (IL), são dez os restantes candidatos que procuram acabar com a maioria absoluta na câmara e são, quase todos, nomes ou partidos em estreia.

Por ordem de representatividade dos partidos na autarquia, apresentam-se os candidatos.

Tiago Barbosa Ribeiro, candidata-se em estreia à presidência da câmara pelo PS. É natural do Porto e licenciado em Sociologia.

Também em estreia, o PSD apostou na candidatura de Vladimiro Feliz, que fez parte do executivo de Rui Rio, antigo presidente da Câmara do Porto. É engenheiro mecânico e dividiu a sua carreira entre o setor público e o privado.

Ilda Figueiredo, com um longo percurso político, vereadora no atual executivo, recandidata-se pela CDU. É licenciada em Economia e também já foi deputada na Assembleia da República (AR).

Pelo Bloco de Esquerda, Sérgio Aires candidata-se pela primeira vez à presidência da Câmara do Porto. É sociólogo e assessor do partido no Parlamento Europeu.

Bebiana Cunha é a candidata do PAN. É psicóloga e deputada na AR.

Diogo Araújo Dantas candidata-se pelo Partido Popular Monárquico (PPM), uma candidatura em estreia. É natural do Porto, economista e escritor.

Pelo partido CHEGA, candidata-se o independente António Fonseca. É presidente da União de Freguesias do centro histórico do Porto para onde foi eleito pelo movimento independente de Rui Moreira. É também presidente da Associação de Bares e Discotecas do centro histórico do Porto.

O VOLT Portugal candidata-se pela primeira vez e aposta em André Eira, licenciado em gestão. O partido defende o federalismo europeu, com a criação de um Parlamento, Senado e Forças Armadas Europeias.

Candidatam-se, ainda, pelo Livre Diamantino Raposinho e pelo Ergue-te (nova designação do PNR) Bruno Rebelo.