​A nova escravatura
15-03-2018 - 06:20

Importa reforçar a repressão contra as condições desumanas com que por vezes são tratados, entre nós, trabalhadores imigrantes.

A falta de pessoas para trabalhar – apesar do desemprego – tornou-se um obstáculo ao crescimento de muitas empresas em Portugal. Uma empresa têxtil de Moreira de Cónegos, Guimarães, procura trabalhadores no Bangladesh; há uns anos atrás empregou numerosos ucranianos. Para albergar os trabalhadores asiáticos a empresa vai construir, junto à fábrica, uma espécie de hotel de 26 quartos.

Mas nem todos os que empregam imigrantes os tratam com um mínimo de humanidade e decência. De vez em quando descobrem-se casos de autêntica escravatura, nomeadamente em explorações agrícolas e envolvendo imigrantes asiáticos. Existem entre nós redes de tráfico humano, que se fazem pagar pelos pobres imigrantes que vêm para Portugal, enganando-os quanto ao salário (que depois não recebem) e às horríveis condições de alojamento que aqui os esperam.

Há portugueses a dirigir essas criminosas redes de tráfico de pessoas. A maior parte dos novos escravos destinam-se a trabalhos agrícolas. Mas tudo indica que Portugal funciona, também, como placa giratória para fazer entrar “escravas sexuais” na Europa.

Recentemente académicos e historiadores discutiram o papel de Portugal na escravatura dos séculos passados. Claro que os portugueses não inventaram a escravatura, mas tiveram um papel desgraçadamente importante no transporte, em condições sinistras, de escravos de África para as Américas, para o Brasil sobretudo.

Essas investigações e esses debates sobre a escravatura do passado são úteis. Conhecer o que se passou é um dever patriótico, ainda que tenhamos surpresas desagradáveis. Mas importa não esquecer os casos de uma nova e degradante escravatura que vai surgindo a público, além de muitos outros casos que permanecem escondidos. Nem poderá servir de desculpa para alguma eventual passividade das autoridades quanto a estes crimes o facto de também os portugueses serem, por vezes, vítimas no estrangeiro dessa nova escravatura.