O euro ameaçado pela Itália
31-08-2018 - 06:43

O governo da Itália vai aumentar o défice orçamental. A dimensão da economia italiana é demasiado grande para um resgate à maneira dos que aconteceram com a Grécia, Irlanda e Portugal. Desenha-se no horizonte uma crise do euro.

O atraso na reforma do euro torna mais perigosa a previsível crise financeira envolvendo a Itália. O presente governo italiano de coligação, mas dominado por Salvini, de extrema direita, não gosta da UE e ameaça vetar o orçamento comunitário por (tal como a Grécia e Malta) não ter recebido apoio financeiro na receção a milhares de refugiados e imigrantes – que decidiu deixar de acolher. Mas as sondagens mostram que a maioria dos italianos não quer sair da zona euro.

Como permanecer no euro sem cumprir as regras da moeda única? É que, embora existam divergências entre os parceiros da coligação – a Liga e o movimento 5 Estrelas – será difícil evitar que as contas públicas italianas tenham em 2019 um défice inferior a 3% do PIB. Será o resultado de aumentar a despesa pública e reduzir impostos. E a Itália tem a segunda maior dívida pública da zona euro (Portugal tem a terceira).

Daí que os investidores internacionais já tenham começado a vender dívida pública da Itália. Essa tendência poderá acelerar-se caso, como é provável, a Itália não atinja as metas orçamentais da moeda única, apesar de o ministro italiano das Finanças afirmar que cumprirá as regras europeias. O governo de Roma já apelou ao BCE para que lance um novo programa de compra de dívida pública para proteger os títulos obrigacionistas italianos da “especulação dos mercados”.

O BCE é liderado, até ao fim de outubro do próximo ano, pelo italiano Mário Draghi – o homem que mais lutou pela sobrevivência do euro. Há seis anos, Draghi assegurou que o BCE faria tudo para salvar a moeda única. E fez, nomeadamente o programa de compra de títulos da dívida pública de países em dificuldades, como Portugal. Mas os políticos não completaram a união bancária. E aquele programa do BCE está em vias de ser extinto, o que deverá acontecer até ao fim do ano (embora não esteja excluído um adiamento dessa extinção). Criar um programa novo para ajudar a Itália não parece possível nem aceitável pelos seus parceiros no euro.

Mas o BCE irá manter muito baixa a sua taxa diretora, cujos juros ficarão intactos até ao verão de 2019. O FMI divulgou esta semana um estudo que defende a estratégia cautelosa de M. Draghi. É que o nível da inflação na zona euro ainda não subiu aos 2%, objetivo do BCE. Nos EUA a Reserva Federal, que começou muito antes do BCE uma política monetária de estímulo à economia, já começou a subir gradualmente os juros, contrariando Trump.

Como foi aqui referido, Trump disse que os EUA poderiam comprar dívida italiana em 2019. Será a “internacional” de extrema-direita a funcionar. É duvidoso, porém, que a ajuda americana, a concretizar-se, consiga salvar a Itália de um possível colapso financeiro. E a dimensão da economia italiana é demasiado grande para um resgate à maneira dos que aconteceram com a Grécia, Irlanda e Portugal.

Talvez Salvini, um “herói” para Viktor Orbán, o primeiro-ministro húngaro, queira ter um papel de destaque na “revolução conservadora” em curso, destruindo o euro – e a própria UE – e impondo a ideologia patrocinada por Trump, de ódio aos imigrantes. Não se pode é considerar “nacionalista” o líder de um partido, a Liga, que, até há pouco, defendia que o Norte de Itália se desligasse do Sul, formando um novo país, a Padânia.

P.S.: esta coluna suspende a sua publicação até à última semana de setembro, por motivo de férias.


Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus