​Atrasos de vida
05-11-2018 - 06:28

A “Web Summit” está voltada para o futuro. Mas os nossos políticos há muito que estão virados para o passado.

Começa hoje a “Web Summit”, que traz a Lisboa mais de 70 mil estrangeiros interessados no aproveitamento empresarial das novas tecnologias, como a inteligência artificial. É um encontro importante, voltado para o futuro.

Mas a política portuguesa há muito que parece voltada para o passado. Como se sabe, o presente governo não faz reformas dignas desse nome, pois está travado pelo conservadorismo do PCP e do BE. E mostra-se incapaz de prever e antecipar respostas a problemas que toda a gente via que iriam surgir.

É o caso do “boom” do turismo estrangeiro, que começou a desenhar-se há meia dúzia de anos. Pois só há dias entrou em vigor uma lei sobre o arrendamento local. E a Câmara de Lisboa promete regras mais pormenorizadas sobre o assunto até daqui a 180 dias. Entretanto, nas zonas centrais e históricas de Lisboa e do Porto já poucos residentes restam.

Este não é um problema específico de Portugal – muitas outras cidades europeias e pelo mundo fora tomaram medidas para limitar os efeitos perversos do excesso de turismo, sem hostilizar os estrangeiros.

Outro exemplo: a incapacidade de reconhecer, a tempo, que o retorno à semana das 35 horas semanais na função pública não só iria levar a gastos significativos com horas extraordinárias (na altura, foi solenemente negada essa evidência) como causa inúmeras dificuldades nos serviços públicos, com prejuízo para os utentes.

Reduzir o défice orçamental, o que é positivo, através de cortes cegos ou cativações na despesa pública, o que é péssimo, conduziu à degradação crescente do Serviço Nacional de Saúde. Não se previu, ou desvalorizou-se, essa consequência bem previsível.

É chocante, por exemplo, o caso da ala pediátrica para doenças oncológicas no Hospital de S.João, no Porto. Dura há uma década a espera por novas instalações. E provavelmente as crianças doentes e os seus familiares ainda terão de esperar não se sabe quanto tempo mais até que se concretizem as promessas – se forem concretizadas.

Outro caso impressionante de cegueira quanto ao futuro, mesmo próximo, foi o estado de descalabro a que chegou a CP. Foram negados à empresa os meios financeiros necessários a um mínimo aceitável de manutenção. Faz lembrar a anedota do cavalo do inglês, ao qual o dono deixou de dar comida e, quando o cavalo já parecia habituado a não comer, azar! - morreu...

E as demoras e trapalhadas com o novo aeroporto de Lisboa, supostamente no Montijo, não poderiam ter sido evitadas com um pouco mais de planeamento a prazo, evitando transmitir uma má imagem do aeroporto Humberto Delgado?

Enfim, esperemos que a “Web Summit” contribua alguma coisa para que não continuem a multiplicar-se estes “atrasos de vida”.