Frigideiras antiaderentes, embalagens de comida, tecidos e tapetes resistentes a nódoas e casacos impermeáveis são alguns dos produtos que usamos no dia-a-dia e que têm uma coisa em comum: são fabricados com substâncias perfluoroalquiladas (PFAS). Estes "químicos eternos" atribuem-lhes determinadas características como a impermeabilidade e a antiaderência.
“Trata-se de uma família de químicos fluorados. Podemos vê-los em produtos antiaderentes como o Teflon e Scotchgard”, explica Tasha Stoiber, cientista do grupo ambiental Environmental Working Group (EWG), em declarações à Renascença.
Impedem que a nossa comida cole à frigideira, mas, embora altamente eficazes, estudos relacionaram estes químicos com cancros, doenças renais, diminuição da imunidade, problemas hepáticos, colesterol elevado e uma série de outras doenças graves.
Nada dura para sempre? Estes químicos, sim!
Estes PFAS são conhecidos como "químicos eternos" porque não se degradam, contaminando o solo e águas, e têm sido utilizados em vários produtos de consumo desde a década de 40 do século passado.
E não existem naturalmente, são produtos químicos fabricados pelo homem. Em 1938 um químico que trabalhava para a Dupont descobriu, por acidente, um novo composto resistente à água e à gordura. Esta descoberta levou à criação da marca Teflon de utensílios de cozinha antiaderentes.
“Têm sido aplicados a produtos há décadas para lhes conferir qualidades antiaderentes e resistentes a nódoas e, desde então, explodiram, sendo utilizados em muitos produtos de consumo. Como resultado, estamos constantemente expostos a eles. E, na verdade, em muitos destes produtos, a sua utilização não é necessária. Tornou-se numa ferramenta de marketing para vender”, refere Stoiber.
Existem cerca de 15 mil destes químicos identificados, mas o número continua a aumentar. Cada um deles tem uma composição ligeiramente diferente, porém todos têm em comum a ligação carbono-flúor (F-C), que Stoiber descreve como “uma das ligações mais fortes da química orgânica”.
Estas ligações extremamente fortes significam que os PFAS não se decompõem completamente, o que os torna nocivos para a saúde humana, porque, como não são eliminados, acumulam-se nos nossos organismos e no ambiente. Atualmente, encontramos “químicos eternos” em todo o mundo.
Uma nota informativa da Agência Europeia do Ambiente de 2019 indicava que atividades de monitorização detetaram PFAS no ambiente em toda a Europa e a produção e uso destes compostos em produtos resultaram na contaminação dos abastecimentos de água potável em vários países europeus.
Em 2023, uma investigação conduzida pelo “Le Monde” e “Watershed Investigations” identificou milhares de "pontos críticos" que se pensa estarem contaminados com níveis de PFAS perigosos para a saúde (mais de 100 nanogramas por litro). Portugal, também consta deste mapa.
As localidades portuguesas com maior número de nanogramas são Muge (em Salvaterra de Magos, com 3.200 por litro), Monte da Vinha (em Elvas, com 750 nanogramas por litro), Albufeira de Crestuma-Lever (em Vila Nova de Gaia, com 460 nanogramas por litro), Ermidas do Sado (com 450 nanogramas por litro), Areias de Vilar (com 350 nanogramas por litro), Bravães em Ponte da Barca (190 nanogramas por litro) e Valeta em Arcos de Valdevez (160 nanogramas por litro).
Do outro lado do Atlântico, "de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, quase 99% das pessoas nos EUA têm-nos no seu corpo. E quando fizemos a análise da vida selvagem, à escala global, em todos os estudos que revimos havia centenas de tipos diferentes de PFAS que foram detetados em animais”, explica Stoiber, clarificando a dimensão do problema.
“Estamos universalmente expostos - seres humanos, animais e ambiente”. A investigadora especifica que a maior parte da poluição ambiental por PFAS ocorre durante o seu fabrico, quando são aplicados a tecidos ou quando o produto é deitado fora.
Quanto tempo ficam no nosso corpo?
De acordo com Tasha Stoiber, “pode variar entre 5 a 10 anos para alguns dos PFAS de cadeia mais longa" saírem do corpo humano "ou pode variar na ordem de dias a semanas, dependendo do tipo a que se está exposto”.
O problema é que somos expostos continuamente, o que dificulta a diminuição dos níveis de PFAS.
Contudo, “se houver redução da exposição, pode haver uma diminuição da acumulação nos nossos corpos, mas isso vai levar tempo”, indica a investigadora.
“As coisas não acontecem rapidamente, acontecem ao longo de anos, por vezes décadas.”
De que forma são nocivos para os humanos?
Os PFAS nos produtos de uso diário infiltram-se no nosso ambiente durante a produção, utilização e eliminação, contaminando a água, ar e alimentos. E não são um problema exclusivo da Europa ou dos EUA, afetam também economias emergentes como a Ásia. Estão em todo o lado, desde a água da chuva ao gelo do Ártico.
Ninguém está imune. Numa campanha de sensibilização sobre os perigos da exposição a estes químicos, o Gabinete Europeu do Ambiente e a ChemSec – uma organização sem fins lucrativos – realizaram análises ao sangue de vários políticos da União Europeia para testar a presença de diferentes PFAS. Todos apresentaram resultados positivos. Cinco dos políticos testados apresentaram até valores que ultrapassam os limites de segurança. Alguns dos PFAS encontrados nos decisores políticos já foram proibidos – o PFOA e o PFOS.
Temos estudos em seres humanos que demonstraram exatamente esta ligação ao cancro dos rins, ao cancro dos testículos ou ao cancro do fígado. Por isso, estamos preocupados com o seu potencial carcinogénico”
“Quase todos temos estes químicos no nosso corpo. Outra razão pela qual estamos tão preocupados e queremos reduzir quaisquer exposições adicionais é o facto de os níveis que se encontram nos nossos corpos já estarem provavelmente relacionados com algum tipo de efeito na saúde, especialmente no sistema imunitário, que é muito, muito sensível à exposição aos PFAS”, sublinha Tasha Stoiber.
O custo financeiro da exposição aos PFAS na saúde pública na Europa varia entre 52 e 84 mil milhões de euros por ano, segundo um estudo recente (Conselho de Ministros Nórdico, 2019) que relaciona os impactos na saúde com a exposição a estas substâncias. O valor poderá, porém, estar subestimado, uma vez que apenas um número limitado de efeitos na saúde foi incluído nas estimativas.
Tasha Stoiber explica ainda que estes químicos estão “associados a vários tipos de cancro”.
“Temos estudos em seres humanos que demonstraram exatamente esta ligação ao cancro dos rins, ao cancro dos testículos ou ao cancro do fígado. Por isso, estamos preocupados com o seu potencial carcinogénico. Afetam as hormonas da tiroide, podem reduzir a nossa resposta imunitária e a nossa capacidade de produzir anticorpos em resposta a vacinas. Têm sido associados a efeitos reprodutivos, pressão arterial elevada, baixo peso à nascença e não há um sistema no corpo que não seja afetado por estes químicos”, pormenoriza.
Investigadores já demonstraram também que a exposição a PFAS aumenta a probabilidade de morte por doença cardiovascular.
“É por isso que é tão importante reduzir a exposição tanto quanto possível”, alerta a investigadora.
Stoiber sublinha que a exposição é mais frequente através da água e da alimentação, apesar de também poder ocorrer através de produtos de consumo.
“Isto é mais do que apenas beber água. Quero dizer, é a comida. São os produtos de consumo e não só. Mas não é tanto [o uso] da panela [antiaderente] em si, é o processo de fazer a panela que resulta na contaminação ambiental que afeta tudo - o peixe, a água, o ar”, exemplifica.
Um dos problemas que a cientista relata são os produtos de uso doméstico com PFAS que estão desgastados, como é o caso de muitos utensílios de cozinha antiaderentes. À medida que estes são aquecidos, arranhados ou a superfície começa a desgastar-se, os PFAS podem migrar da frigideira para os alimentos que estão a ser preparados.
O mesmo acontece com roupas ou tapetes. “Se o seu filho pequeno estiver a gatinhar no chão e a mexer no pó de uma carpete tratada, por exemplo, e levar as mãos à boca, está a ingerir esse pó. Se for uma criança pequena, o pó que está a sair da alcatifa tratada será a sua exposição primária.”
Apesar de a exposição ser mais frequente através da água e da alimentação, um estudo da revista “Environment Internacional” revela que as substâncias PFAS são absorvidas pela pele humana em níveis muito mais altos do que se pensava, podendo entrar no corpo através de cosméticos ou produtos de higiene pessoal, especialmente se aplicados nos olhos ou nos lábios.
Como é que os consumidores podem evitar PFAS?
Com tudo isto, parece ser impossível evitar totalmente a exposição aos PFAS, pois estão em quase todo o lado – embalagens de papel para alimentos, cremes e maquilhagem, papel higiénico, têxteis impermeáveis, edredons de cama, frigideiras, utensílios antiaderentes, fio dentário, produtos menstruais, embalagens de “fast-food”, equipamento de combate a incêndios, pesticidas, etc. No entanto, a diminuição da exposição pode ser conseguida através da utilização de produtos de consumo com rótulos ecológicos e da compra de marcas isentas de PFAS. Mas como evitar um inimigo invisível?
“Não creio que seja possível evitar todas as exposições. No entanto, se fizermos algumas escolhas e soubermos o que procurar, isso faz toda a diferença”, defende Stoiber.
A concentração destes químicos nos nossos corpos vai variar em função de vários fatores, um deles é o local onde vivemos e qual o tipo de exposição a PFAS.
Em vários locais, a poluição provém da utilização de espumas de combate a incêndios AFFF - utilizadas para extinguir incêndios de hidrocarbonetos, contra os quais a água é ineficaz -, cuja proibição foi proposta pela Agência Europeia dos Produtos Químicos (ECHA) em 2022. Estas espumas formam um "tapete" que priva o fogo de oxigénio e os PFAS que contêm infiltram-se no solo e nas águas subterrâneas.
Água não é fonte de vida eterna, mas de químicos
Um estudo publicado na “Nature Geoscience”, que visou mais de 45 mil amostras de água de todo o mundo, revelou que cerca de 31% das águas subterrâneas testadas apresentavam níveis de PFAS considerados prejudiciais para a saúde humana pela Agência de Proteção Ambiental, mesmo sem estarem perto de qualquer fonte óbvia de contaminação.
Cerca de 16% das amostras de águas superficiais testadas também apresentavam níveis de PFAS igualmente perigosos.
Perante estes dados, a investigadora sugere que, “se descobrirem que existem níveis de contaminação na vossa comunidade, a utilização de um filtro de água potável faz toda a diferença”.
Um novo estudo da Rede Europeia de Ação contra os Pesticidas (PAN) Europa encontrou ácido trifluoroacético (TFA), "químico eterno", em 94% das águas de superfície e em 63% das amostras de água engarrafada excede em muito os limites estabelecidos na diretiva revista relativa à água potável. As amostras de água potável foram recolhidas entre abril e junho de 2024.
A Diretiva Água Potável (DWD) europeia 2020/2184 prevê apenas a monitorização de 20 tipos de “químicos eternos” entre os milhares existentes. Os Estados-membros serão obrigados a cumprir estes níveis a partir de 2026.
Em 2021, para a análise destes compostos emergentes, a direção de Laboratórios da EPAL adquiriu equipamentos analíticos, com elevada sensibilidade, para determinar a presença e concentração destes compostos na água. As análises efetuadas demonstravam, em 2023, que a concentração de PFAS na água de consumo humano cumpria o limite estabelecido na diretiva da UE - os níveis de 20 PFAS individuais devem ser inferiores a 0,1 µg/l.
Pipocas de micro-ondas e “take-away”: PFAS em minutos
Uma coisa é certa: as nossas decisões e comportamentos influenciam o nível de concentração destes químicos no nosso corpo e evitar algumas embalagens de “take-away” e embalagens descartáveis pode contribuir para a redução da exposição aos PFAS.
Por isso mesmo, a investigadora sugere “limitar coisas como ‘fast-food’, alimentos gordurosos, que teriam esse tipo de embalagem revestida com PFAS”.
“Há aqueles que comem mais 'fast-food', aqueles que comem mais pipocas de micro-ondas. Esses têm, sem dúvida, níveis mais elevados [de PFAS]”.
Por isso, é “tentar, tanto quanto possível, estar atento às coisas em casa e tentar limitar essas compras”.
Em 2021, um estudo divulgado por oito associações ambientais sem fins lucrativos concluiu que mais de 70% das embalagens de alimentos utilizadas por restaurantes de 'fast-food' na Europa contêm PFAS.
"Os PFAS são amplamente utilizados nas embalagens alimentares e nos talheres descartáveis na Europa", frisava o estudo.
No início deste ano, a Food and Drug Administration (FDA) anunciou a proibição da venda de embalagens alimentares com PFAS nos EUA. Algumas cadeias de "fast-food" também anunciaram a intenção de eliminar os PFAS das suas embalagens, mesmo que gradualmente.
De acordo com um estudo publicado na revista “Science of The Total Environment”, com o objetivo de identificar os alimentos que contêm níveis mais elevados de PFAS, organismos que consomem mais arroz branco, café, ovos e marisco apresentam níveis mais altos de PFAS. Este estudo, que teve por base amostras de plasma e leite materno de três mil mulheres grávidas, é o primeiro a sugerir que o café e o arroz branco podem estar mais contaminados do que outros alimentos. Os investigadores suspeitam que, no caso do arroz, se pode dever à contaminação dos solos ou de águas agrícolas.
Nenhum alimento está totalmente a salvo de contaminação porque os PFAS são utilizados em milhares de produtos de consumo e processos industriais e a água utilizada nas culturas ou para o gado pode estar contaminada, além dos pesticidas.
“O peixe de água doce também pode estar altamente contaminado. Por isso, essa é também outra fonte, mas depende da localização e do grupo demográfico”, relembra a investigadora.
Roupa “antiaderente” e (com) químicos resistentes
Para Stoiber, há claramente palavras-chave utilizadas pelas marcas que devem ser evitadas e deixa uma dica para estarmos atentos: “Temos algumas pistas sobre o que podemos procurar em certos casos. Uma boa indicação de onde os podemos encontrar é através de palavras de marketing que os fabricantes e vendedores utilizam. Palavras como antiaderente, sem rugas, resistente a nódoas são uma boa indicação de que poderá haver algum tipo de PFAS nesse produto. Isto é uma grande parte da consciencialização”.
De acordo com uma investigação da Ethical Consumer, que examinou 27 empresas que fabricam vestuário de desporto, 82% ainda utilizam PFAS. Os "químicos eternos" são usados para conferir propriedades de impermeabilização ao vestuário de exterior, como casacos, luvas e calças.
Marcas como a Patagonia, The North Face e Columbia, atualmente, já têm opções sem PFAS e outras como a Páramo e a Finisterre não os utilizam de todo.
Maquilhagem que dura horas e químicos que ficam para sempre
Muitos cosméticos também podem conter PFAS, incluindo bases, corretores, bálsamos para manchas, delineadores de lábios, produtos de limpeza, produtos para o cabelo e barba ou vernizes, citando apenas alguns exemplos.
Em 2021, um estudo publicado na revista científica revista científica “Environmental Science & Technology Letters” revelou que mais de três quartos das máscaras de pestanas à prova de água (de marcas americanas testadas), quase dois terços das bases e dos batons líquidos e mais de metade dos produtos para olhos e lábios tinham altas concentrações de flúor.
Perante estes factos, a investigadora sugere que os consumidores optem pela utilização de produtos rotulados como “PFAS free” ou verifiquem as listas de ingredientes para os compostos de PFAS conhecidos.
Stoiber apela a que se verifiquem principalmente produtos “à prova de água”, à procura de “compostos fluorados” – como o polytetrafluoroethylene (PTFE), polyperfluoromethylisopropyl ether, polytetrafluoroethylene, DEA-C8-18 perfluoroalkylethyl phosphate.
Os “químicos eternos” também podem ser encontrados numa larga gama de produtos de higiene pessoal, incluindo produtos menstruais.
“Comprar em retalhistas que assumem compromisso de não utilizar PFAS”
A investigadora reconhece a dificuldade de contornar a compra destes produtos: “É muito, muito difícil para o consumidor individual fazer compras por forma a se livrar deste tipo de exposição devido à falta de transparência, em primeiro lugar. E, em segundo lugar, porque são utilizados com muita frequência”.
A EWG tem apelado à “regulamentação global destes produtos químicos e à remoção do maior número possível” e têm sido bem-sucedidos a nível estatal.
Apesar de terem conseguido ver no estado do Maine e em Minnesota uma proposta para a proibição quase total de PFAS nos bens de consumo e de a Califórnia ter proposto a sua remoção dos produtos como os cosméticos, produtos para crianças e utensílios de cozinha, Stoiber defende que o mais eficaz seria as pessoas deixarem de adquirir os produtos.
“Penso que, provavelmente, o mais eficaz seria as pessoas não quererem os produtos se souberem que contêm PFAS. E esse será o melhor incentivo, porque as empresas querem ganhar dinheiro”.
Tasha Stoiber relembra que há “uma força de lobbying extremamente forte a favor” destas empresas e recorda a “campanha concertada para manter os perigos e os danos para a saúde escondidos do público”, quando a DuPont e a 3M já tinham conhecimento dos mesmos há décadas.
O que podemos fazer para contrariar esta “poluição eterna”?
Em 2019, o Painel Científico Mundial dos PFAS recomendou que se começasse a eliminar gradualmente a produção e a utilização dos PFAS a nível mundial, começando pelas utilizações não essenciais.
Vários investigadores afirmam que a proibição dos produtos químicos, exceto para utilizações essenciais – como em dispositivos médicos –, é a única forma de começar a abordar o problema transversalmente. Ainda assim, esta medida não ia “livrar” os ecossistemas europeus, já que os produtos que utilizamos até hoje vão continuar a contaminar solos e aquíferos.
Nunca conseguiremos limpar de forma sustentável e económica a longo prazo todos estes fluxos de poluição e toda a contaminação atual”
Apesar da abundância de provas científicas que descrevem os riscos destes produtos químicos, tem havido falta de políticas coesas que abordem a questão. Esta falta de regulamentação não é apenas um problema nos EUA, é também um problema na Europa.
“Não tenho a certeza de que haverá, à escala, bons métodos de eliminação”, defende Stoiber, acrescentando que “é impossível para os indivíduos resolverem este problema sozinhos” e, por isso, “precisamos de regulamentos governamentais para retirar os químicos dos produtos”.
Só em 2020, as vendas de fluoropolímeros (um subgrupo de PFAS) ultrapassaram as 39 mil toneladas na Europa.
“É importante criar esse sentimento público e essa pressão para que as empresas tentem voluntariamente retirar os PFAS e, depois, para os governos desenvolverem políticas mais fortes para proteger a nossa saúde e prevenir doenças a longo prazo”, apela.
Stoiber acredita que parte da inação se deve ao facto de os danos de saúde da exposição a estes químicos serem a longo prazo e defende “a regulamentação de toda a classe de PFAS, e não apenas os químicos individuais, que é o que está a acontecer”.
Com tantos “químicos eternos” já no ambiente, os esforços para os tentar eliminar são caros e a investigadora explica que, “economicamente, nunca conseguiremos acompanhar e pagar por isso”.
Um relatório recente da ChemSec concluiu que os custos sociais globais - incluindo a reparação - dos produtos químicos PFAS ascendem a 16 mil milhões de euros por ano.
A contaminação da água consumida por 1,2 milhões de pessoas, perto do aeroporto de Düsseldorf, representou um custo de 100 milhões de euros. Filtrar a água de Veneto, em Itália, custou mais de 16 milhões de euros. Enquanto a limpeza dos aeroportos civis e militares em toda a Europa custaria 18 mil milhões de euros.
“Há um artigo que descreve que nunca conseguiremos limpar de forma sustentável e económica a longo prazo todos estes fluxos de poluição e toda a contaminação atual”, refere, explicando que a incineração, por exemplo, é controversa e é um processo incompleto que gera “poluição adicional e emissões atmosféricas” e que requer “muita energia e pressões muito elevadas”.
“Tem havido alguns estudos económicos sobre a limpeza desta poluição ambiental e, na verdade, a única forma economicamente viável e sustentável de resolver este problema é deixar de os utilizar”, defende.
Tapar o sol com a peneira
Em janeiro de 2023, cinco Estados-membros apresentaram uma proposta que visa a substituição e proibição da produção e aplicação de PFAS em 2026, que podem agora ser consultados no site da Agência Europeia dos Produtos Químicos (ECHA), mas a morosidade do processo implica que serão necessários anos para se verificar a eliminação dos produtos.
Quanto aos PFAS mais estudados (incluindo o PFOS, o PFHxS e PFOA), estes são proibidos a nível mundial ao abrigo da Convenção de Estocolmo das Nações Unidas, mas à medida que estes foram sendo eliminados, “foram substituídos por outros PFAS semelhantes e assim continuamos a ter este problema", explica Stoiber.
É preciso evitar a substituição de um produto químico prejudicial por um outro produto químico igualmente prejudicial. A cientista refere que quanto mais estudam “esses substitutos, mais descobrimos que têm efeitos semelhantes na saúde e que todos eles têm o problema de não se decomporem no ambiente”.
Perante todos estes factos, Tasha Stoiber defende que continua a ser melhor ter um rótulo que diga "sem PFAS", já que um produto rotulado como "sem PFOA" ou "sem PFOS" refere-se apenas ao reduzido número de químicos que são globalmente proibidos e não abrange as outras dezenas de milhares que agora sabemos que existem.
Um relatório baseado no estudo TFA: The Forever Chemical in the Water We Drink apela à rápida implementação pela Agência Europeia dos Produtos Químicos (ECHA) da proibição dos PFAS ao abrigo do regulamento REACH (Registo, Avaliação, Autorização e Restrição de Substâncias Químicas) da UE, o estabelecimento de um limite seguro de água potável e que sempre que seja necessário purificar a água devido a contaminação química os custos não recaiam sobre os cidadãos, mas que "seja aplicado o princípio do poluidor-pagador".
Os Comités de Avaliação dos Riscos (RAC) e de Análise Socioeconómica (SEAC) da UE têm estado a analisar os setores que poderão ser afetados pela proposta de restrição das substâncias per e perfluoroalquiladas na UE.
Várias ONG ambientais sugerem que os desenvolvimentos em torno das propostas de restrição dos PFAS devem ser seguidos por todos, para garantir que as pressões políticas e da indústria não bloqueiam esta reforma.
Por tudo isto, a EWG defende a necessidade de uma ação global, porque estes químicos não devem durar para sempre.