Salvini e o Evangelho
13-08-2019 - 06:30

Um dos traços mais repugnantes do fascizante Salvini é afirmar-se como defensor dos valores judeo-cristãos. Em Itália, a Igreja Católica está a reagir.

Na semana passada, Salvini apresentou uma moção de censura ao seu próprio governo. Masoquismo? Não, vontade de afastar o seu parceiro, o movimento 5 Estrelas, e de governar sozinho ou, pelo menos, com o apoio do partido assumidamente fascista “Irmãos de Itália”. Como ele próprio disse, Salvini queria “plenos poderes”.

As sondagens mostram que a causa anti-imigrante rende votos à Liga, o partido de Salvini. Mas surgiu agora a possibilidade de o movimento 5 Estrelas se aliar ao partido democrático, de centro-esquerda, do antigo primeiro-ministro Renzi, formando um governo de transição até novas eleições. Salvini está contra, claro, mas provavelmente não terá “plenos poderes” tão cedo quanto deseja.

Entretanto, Salvini prossegue a sua permanente campanha contra refugiados e imigrantes. Quando o seu decreto, criminalizando quem salve refugiados de se afogarem no Mediterrâneo, foi aprovado na segunda-feira no parlamento italiano, Salvini agradeceu no Twitter à Virgem Maria. Aliás, faz parte da sua propaganda mostrar-se um defensor dos valores judeo-cristãos.

É um absurdo, claro, que está a ser contestado por responsáveis da Igreja Católica italiana. Como a Renascença noticiou, o bispo de Siena, que é secretário da Comissão das Migrações da Conferência Episcopal Italiana, repudiou este gesto de propaganda e alertou para o risco de a sociedade em Itália acabar num cenário de “total egoísmo”, que considerou “muito contrário aos valores, princípios e ditames do Evangelho”. A. Spadaro, diretor da revista dos jesuítas “Civiltà Cattolica”, apelou a uma “resistência humana, civil e religiosa”. Na passada quarta-feira o Papa Francisco saudou “com afeto” as crianças refugiadas acolhidas por uma cooperativa que ajuda imigrantes que chegam a Itália.

Salvini pode ter as ideias loucas que quiser. Não é honesto, porém, considerá-las cristãs, quando são frontalmente anti-evangélicas.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus