Walid Regragui, o selecionador amigo que leva chá para o balneário
08-12-2022 - 18:30
 • Carlos Dias , Inês Braga Sampaio

O selecionador de Marrocos gosta de longas conversas com os jogadores, define a cultura do país como chave do sucesso e abateu duas das maiores forças do Mundial. O perfil de Walid Regragui, segundo Raul Costa, que trabalhou com ele no Qatar.

Jovem, amigo dos jogadores e fã de chá. É este o perfil de Walid Regragui, que está a fazer Marrocos a grande surpresa do Mundial 2022.

Depois de ter vencido um grupo com Bélgica, segunda classificada do "ranking", e Croácia, vice-campeã do mundo - tendo derrotado os centro-europeus e empatado com os balcânicos -, Marrocos mostrou ao mundo que a prestação na fase de grupos não fora coincidência ao eliminar a Espanha nos oitavos de final. Os leões do Atlas contiveram a Fúria espanhola e fizeram sorrir Portugal.

Antigo internacional por Marrocos, Walid Regragui era lateral-direito e jogou principalmente em França, em clubes como Toulouse, Ajaccio ou Dijon. Também chegou a alinhar em Espanha, no Racing Santander. Terminou a carreira no final da época 2010/11 e, depois, começou a trabalhar como adjunto da seleção marroquina.

Passou pelo Rabat, do seu país natal, mas foi na segunda passagem pelo futebol marroquino que foi mais feliz, ao vencer o campeonato e a Liga dos Campeões asiática ao comando do Wydad. O sucesso em Casablanca catapultou-o para a seleção. Pelo meio, uma breve aventura no Al Duhail, que conduziu à conquista da Liga do Qatar.

O português Raul Costa trabalhou com Regragui no Al Duhail entre janeiro e setembro de 2020. O técnico traça, em entrevista à Renascença, o perfil do selecionador marroquino, de 47 anos. Antes de mais, a liderança do treinador que terminou, na altura, a época iniciada pelo português Rui Faria: "É uma pessoa que procura a sua liderança através da amizade e da convivência com os jogadores."

"O Walid Regragui tem uma personalidade forte quando é preciso, mas é uma pessoa muito chegada aos jogadores. Quase todos os dias ia ao balneário, convivia com os jogadores, levava o seu chá, conversava com eles sobre tudo, sobre o futebol e outras coisas, e tentava, através dessa relação de proximidade, ter o grupo controlado", revela o português, que está há seis épocas no Ai Duhail.

Raul Costa, também de 47 anos, descreve Walid Regragui como um treinador "que procura sempre ganhar os jogos, ter a bola e ser dominador do jogo".

A nível tático, Regragui costumava utilizar um 4-3-3, com um pivô, dois "oitos", dois alas e um ponta de lança. Algo que não difere muito do 4-1-4-1 que agora utiliza.

"Ele adorava a pressão alta. Ele na seleção está mais num 4-1-4-1, que, se formos, a ver vai buscar um bocadinho o que ele nos pedia no clube. A estrutura e as dinâmicas que ele pedia no nosso clube com bola não fogem muito do rigor da seleção de Marrocos", assinala.

O treinador português admite-se "surpreso" por ver Marrocos chegar tão longe no Campeonato do Mundo. O próprio Walid Regragui está menos surpreendido e atribui à herança cultural do país o sucesso no torneio - tanto aqueles que lá nasceram como os que vieram da Europa, ao contrário do que clamavam as vozes que o selecionador tem tratado de calar.

"Antes deste Mundial, tivemos muitas discussões sobre os jogadores que nasceram na Europa. Às vezes, as pessoas diziam que estes jogadores não amam Marrocos, que quem devia jogar eram os que nasceram em Marrocos. Mostrámos ao mundo que todos os marroquinos são marroquinos e que, quando um marroquino chega à seleção, dá a vida pelo nosso país", disse Regragui, em conferência de imprensa, após eliminar a Espanha.

Marrocos é a equipa sensação do Mundial 2022 e Walid Regragui o general que, tal como sucedeu em 1415, tentará derrotar a armada portuguesa nos quartos de final. Novamente sem intervenção da Espanha, desta feita não por inação, mas porque já foi derrubada pelo pelotão marroquino no Qatar.