Portugal está sem líder ambiental. E o mundo só tem o Papa Francisco
05-06-2017 - 23:34
 • José Pedro Frazão

O filósofo Viriato Soromenho-Marques reflecte sobre o estado do ambiente em Portugal, no programa “Da Capa à Contracapa” que trouxe ainda a investigadora Sofia Guedes Vaz ao debate.

A rotina instalou-se e Portugal perdeu a capacidade de gerar líderes na área ambiental. A tese é do filósofo Viriato Soromenho-Marques, catedrático da Universidade de Lisboa e antigo presidente da Quercus. Para este ambientalista, essa rotina pode não ter razão de existir mas provocou uma seca na produção de figuras ambientais de primeira linha, em especial na política.

“Perdemos alguma capacidade de liderança no sector ambiental. Há muitos anos que não temos ninguém que possa ser apontado como um líder, como um engenheiro Carlos Pimenta, que ainda hoje é recordado por pessoas que nem o conheceram na altura como dirigente politico”, afirma Soromenho-Marques na edição desta semana do programa “Da Capa à Contracapa”.

A ONU está a falhar

A falta de uma referência política na área ambiental está longe de ser um exclusivo português, observa o antigo conselheiro da Comissão Europeia.

“A ONU, no estado em que está estruturada, distribui um pouco o jogo e as responsabilidades. Faltaram as vozes que reforçassem essa perspectiva, não apenas nos EUA, mas também na Europa. Por exemplo, a liderança alemã da União Monetária não é correspondida de modo algum por um apelo vibrante em matéria ambiental”, insiste o professor de Filosofia no programa da Renascença em parceria com a fundação Francisco Manuel dos Santos.

Também Sofia Guedes Vaz, convidada do programa, investigadora em matérias ambientais, detecta uma passividade na acção das Nações Unidas em matéria ambiental.

“Ban-Ki-Moon falava muito de ambiente mas ninguém nunca o ouviu. O Acordo de Paris não foi mau. E ainda não ouvi Guterres a abraçar esta área de alma e coração. Não que seja contra, mas ainda não é uma liderança ambiental”, analisa Sofia Guedes Vaz.

Papa assume liderança mundial

Os convidados do “Da Capa à Contracapa” consideram que a única figura global de referência na área do ambiente é o Papa Francisco.

“Na encíclica Laudato Si’ faz uma espécie de programa básico de mundialização. Ao mesmo tempo, através do conceito de ecologia integral, toca naquele aspecto de comprometer os indivíduos. Não se trata de uma questão para chefes de estado, mas de algo que passa por nós, pelo nosso estilo de vida, pelas nossas escolhas”, complementa Viriato Soromenho-Marques.

Os portugueses podem fazer mais pelo ambiente, argumenta Sofia Guedes Vaz, para quem os portugueses ficaram com a ideia de reciclar é fazer tudo aquilo que se deve.

“O grande problema ambiental está ligado ao sistema económico e ao sistema de produção e de consumo. Temos que produzir menos e consumir menos, sobretudo produtos ou serviços com mais impacto no ambiente”, insiste Sofia Guedes Vaz.

Para Viriato Soromenho-Marques, é preciso fazer mais do que ser apenas cidadãos cumpridores das obrigações e consumidores muito atentos.

“Quando mudamos o nosso padrão individual de transportes ou de consumo estamos a assumir um controlo inteligente sobre as nossas vidas. É uma chave muito importante da nossa vida”, remata Soromenho-Marques.