Ruben Alfredo Andresen Leitão é o nome completo do escritor que assinava com o nome Ruben A. e cujo centenário agora se comemora. As celebrações também foram afetadas pela situação de pandemia. Estava previsto um congresso que está para já adiado, mas acaba de ser lançado esta semana um dos livros mais importantes da sua obra literária, “A Torre da Barbela”.
A edição é da Livros de Brasil que edita uma versão de bolso já disponível nas livrarias que, entretanto, reabriram portas, mas também numa versão em livro digital que pode ser adquirida nas plataformas eletrónicas.
Ruben A., que era primo da poeta Sophia de Mello Bryner Andresen, é contudo, um autor que nem todos conhecem e cuja obra vale a pena descobrir. São José Sousa, editora da Livros do Brasil, diz à Renascença que Ruben A. “foi sem dúvida, um autor de uma originalidade impar, um irreverente que teve a ousadia de tão jovem ter escritor os três volumes da sua autobiografia em ‘O Mundo à Minha Procura’ e que é um grande criativo da linguagem”.
Nascido em Lisboa, a 26 de maio de 1920, Ruben A. era formado em Ciências Histórico-Filosóficas pela Universidade de Coimbra e foi docente na área da Língua e Cultura Portuguesas na Universidade de Londres entre 1947 e 1952. Alguns meses antes da sua morte, foi convidado a dar aulas na Universidade de Oxford e veio a morrer aos 55 anos em Londres, a 26 de setembro de 1975.
O livro agora editado, “A Torre da Barbela”, passa-se entre tempos, na margem esquerda do rio Lima, numa antiga torre de vigia, um monumento cheio de memórias de Portugal que – quando os turistas saem da visita – há um novo mundo vindo de oito séculos diferentes que habita a torre. Uma história escrita com mestria e humor afirma a editora da Livros do Brasil.
“É um livro onde coexistem o momento atual em que a torre existe como monumento que é visitado por turistas e é apresentado pelo caseiro guia que tem uma linguagem muito rica e popular e, simultaneamente, à noite, existe um outro mundo que nasce, o dos mortos da Barbela, que é o mundo da História de Portugal. É um livro de uma grande arte. Tem bastante humor. É um livro que por um lado emociona porque tem uma história de amor muito forte à mistura, mas que também faz rir pela linguagem e pela forma que nos faz refletir sobre a forma de ser português que parece que se arrasta pelos séculos”.
Sobre Ruben A, disse o ensaísta Eduardo Lourenço, que tinha sido “uma das pessoas mais originais” que tinha conhecido. Mas o livro ‘A Torre da Barbela’ não foi por exemplo aceite pelo académico Óscar Lopes num concurso literário.
A obra Ruben A. não foi por isso sempre entendida pelos que partilharam consigo o tempo de vida. Talvez por isso, a sua obra que tem vindo a ser reeditada pela Assírio e Alvim não seja conhecida do grande público e o livro ‘A Torre da Barbela’ possa agora servir “como porta” de entrada para a escrita deste autor refere São José Sousa.
“A Torre da Barbela” é nas palavras da editora da Livros do Brasil “um livro tão diferente que não se encaixava em nenhuma das correntes literárias da época. Talvez por isso o autor tenha sido na época um pouco deixado de parte, por ser difícil de engavetar.”
As celebrações do centenário estão agora condicionadas pela situação da pandemia, mas mais para a frente haverá um congresso dedicado à obra de Ruben A. A editora Assírio e Alvim que tem vindo a publicar a obra deste autor que quando terminou o liceu decidiu, aos 18 anos, em 1938, viajou sozinho durante dois meses para Viena e Berlim para conhecer a Alemanha de Hitler, vai ainda reedição algumas obras esgotadas no mercado
Entre os títulos a saírem em edições futuras está a novela de 1973, “Silêncio para 4” e a autobiografia “O Mundo à Minha Procura” que, em vez de três volumes, será reeditada num só livro. Será assim possível conhecer melhor a obra deste escritor exemplar da língua portuguesa, tão esquecido e por vezes desconhecido junto dos leitores.