Na querela sobre o pagamento, ou não, do tempo congelado aos professores e a outros profissionais foi impressionante a quantidade de valores diferentes apresentados sobre o custo para as finanças públicas desse pagamento. Os valores divulgados variaram entre 800 milhões de euros e metade disso. O próprio Governo e o PS apresentaram vários números diferentes ao longo do tempo.
A UTAO, Unidade Técnica de Apoio Orçamental, que funciona na Assembleia da República, apresentou esta semana valores muito abaixo dos divulgados por M. Centeno - que logo veio classificar de “totalmente arbitrários” os cálculos da UTAO.
É uma característica nacional discutir não só opiniões como também factos, o que torna infernal e interminável qualquer discussão. Não defendo a ingenuidade de afirmar que todos os factos são meramente objetivos e, por isso, fora de controvérsia. Um acidente rodoviário será relatado de forma não idêntica por duas testemunhas que a ele assistiram – depende do ponto de vista onde cada uma se situava. Os historiadores apresentam descrições frequentemente diversas sobre os factos passados que investigam.
Mas é normalmente possível assentar em alguns factos. Neste assunto, certamente muito complexo, a responsabilidade maior cabia ao Governo. Mas o ministro Centeno foi parco em explicar e justificar os seus cálculos – só quase no fim veio dizer o motivo por que, ao contrário da UTAO, o ministério das Finanças não deduzia as receitas adicionais de impostos das despesas envolvidas no pagamento retroativo de salários congelados.
Ou seja, podia ter-se avançado mais na caracterização dos factos – neste caso, o custo futuro para o Estado daquele pagamento. Assim, assistimos sobretudo a uma desagradável troca de insultos, o que só desprestigiou ainda mais a classe política.