Zeca: a história e as estórias do português capitão da seleção da Grécia
27-05-2021 - 12:30
 • Eduardo Soares da Silva

O médio deixou Portugal aos 22 anos para rumar ao Panathinaikos e mudou por completo a sua vida. Zeca é internacional grego e um dos capitães da seleção. Hoje representa o Copenhaga e, apesar de ainda não pensar no fim da carreira, já lançou outros projetos.

Zeca Rodrigues é uma das figuras do futebol grego e da seleção helénica, apesar de ter nascido, crescido e começado a jogar futebol em Portugal.

O médio de 33 anos, hoje no Copenhaga, foi formado no Casa Pia e destacou-se no Vitória de Setúbal, em 2010/11, com a ajuda do treinador Manuel Fernandes e do seu filho, Tiago Fernandes.

A estadia na I Liga durou apenas uma época. Zeca pegou nas malas, mudou-se para o Panathinaikos, numa transferência que lhe mudou a vida por completo. O médio fez seis temporadas no clube, tornou-se capitão, ícone e foi convidado para representar a seleção da Grécia.

Ainda com a mágoa do Euro 2004 bem presente, Zeca aceitou o convite e é uma das figuras da seleção da Grécia, que procura voltar aos tempos áureos, com o médio como um dos capitães de equipa.

Em 2017, Zeca trocou o Panathinaikos pelo Copenhaga, onde conquistou o seu primeiro título de campeão, em 2019. Aos 32 anos, e com contrato por mais duas épocas na Dinamarca, Zeca ainda não pensa no fim da carreira de futebolista, apesar de ter arrancado outros projetos no mundo digital.

Começamos mesmo pelo início, de que região é que o Zeca é natural e como é que começa a jogar futebol?

Sou de Lisboa, mas nasci e fui criado no bairro do Zambujal, em Alfragide. A minha família vivia toda lá e foi aí que comecei a dar os meus primeiros toques bola, na rua. Aos 10 anos, tinha um amigo que vivia lá e treinava no Casa Pia e perguntou se queria ir lá treinar às captações. Gostaram de mim, fiquei e assinei ao fim de dois dias.

Já passaram pelo Casa Pia jogadores que fizeram carreiras relevantes. Na sua geração na formação teve o Pedro Santos e o Diogo Salomão, três jogadores que tiveram um grande sucesso. Já naquela altura perspetivava este sucesso?

O Casa Pia sempre teve jogadores bons que passaram por lá e fizeram grandes carreiras. Sentia que eu, o Pedro Santos e o Salomão, e mais dois ou três, só precisávamos de uma oportunidade para mostrar o nosso talento. Nós os três conseguimos esse feito.

Ainda mantém o contacto com eles ou acabaram por perder?

Mantemos. O Pedro é o meu melhor amigo, sou padrinho do filho dele. Estamos sempre em contacto. Com o Salomão não é tão regular, mas também mantemos contacto.

Foram três épocas no Casa Pia e sobem duas divisões até à II Liga, sempre com o Pedro Santos e com o Diogo Salomão nas duas primeiras épocas. Eram as peças chave da equipa, apesar de serem novos ainda?

Éramos muito importantes na equipa. Esse grupo era marcado por jogadores com muita qualidade. Tínhamos vários jogadores com qualidade que não era para aqueles campeonatos. Trouxemos algo extra à equipa e eles sentiam isso também. Até hoje temos um grupo, todos os anos fazemos um jantar de Natal e outro no verão.

Épocas de grande sucesso individual e coletivo e que o lançaram para o futebol profissional.

Subimos duas vezes de divisão, o ano em que não subimos estivemos muito perto. Foram três anos a cumprir os objetivos do clube. Começámos este reerguer do Casa Pia para estar onde estão hoje, com o mérito das equipas que vieram depois. Metemos o clube duas divisões acima e deixámos um caminho para os outros.

Ainda assim, em 2010 salta diretamente da terceira divisão para a I Liga, para o Vitória de Setúbal. Lembra-se como foi quando soube que o Vitória estava interessado em si?

Tudo começou com um jogo entre o Casa Pia e o Alcochetense. O Tiago Fernandes jogava lá e o pai, Manuel Fernandes, foi ver esse jogo. Fiz dois golos, tinha tudo para correr bem, sou um jogador que não faz golos e nesse jogo fiz logo dois. Joguei bem, o Tiago veio falar comigo no fim do jogo. Na segunda volta, voltou a vir falar comigo, a dizer que estavam muito interessados. Só esperava impacientemente que a proposta chegasse para assinar e dar o salto para a I Liga. Foi assim que aconteceu e foi na hora certa.

Como foi esse salto da terceira para a primeira?

Senti a diferença em termos futebolísticos, nos treinos e nos jogos. Era uma intensidade diferente, o jogo era muito mais rápido, mais técnico e tático. Tive de ter um período de adaptação. O "mister" Manuel Fernandes ajudou-me muito na minha adaptação. Tive grandes colegas como o Hugo Leal, Zé Pedro, Neca, Ricardo Silva, o Miguelito, o Cláudio Pitbull. Era um balneário de jogadores mais velhos, com carreiras importantes, ajudaram-me muito.

Ia todos os dias para Setúbal com o Hugo Leal, falava comigo sobre como um jogador profissional tinha de se comportar, teria de focar-me muito no futebol. Isso foi-me ajudando. Consegui beber dessa água para ganhar um pouco mais de experiência e estar mais à vontade e aprender.

Fez 32 jogos, 16 como titular, o que para muitos é um salto difícil. Uma temporada em 12º, mas longe da descida. Que balanço faz da época?

Não estava à espera de fazer tantos jogos nessa época. Consegui isso por mérito próprio, trabalhei muito e também porque tive uma pessoa que arriscou em mim, que foi o "mister" Manuel Fernandes. Arriscou num jogador que vinha da terceira divisão. Não estava à espera que a primeira época fosse tão boa.

Faz dois golos essa época, um deles contra o Sporting que dá a passagem aos quartos de final da Taça, como foi esse momento para si?

Esse jogo foi incrível. Estava muito nervoso, comecei no banco, mas entrei aos 20 e tal minutos porque o Hugo Leal lesionou-se. Jogava contra o Sporting pela primeira vez. Marcar o golo e passarmos foi incrível para mim, foi naquele momento que dizes que todos os sacrifícios estão a resultar e que estava no bom caminho. Foi o que senti nessa altura.

No final dessa época, surge a oportunidade de assinar pelo Panathinaikos, que veio a mudar a sua vida por completo. Como foi esse verão? Já tinha o objetivo de ir para o estrangeiro, tinha outras propostas de Portugal?

O meu objetivo era continuar no Setúbal, tinha isso na minha cabeça. No final dessa temporada, o treinador Bruno Ribeiro disse-me que poderia acontecer algo muito bom para a minha carreira, mas não disse o quê.

Fui de férias e recebi uma chamada de um empresário que me dizia que o Panathinaikos tinha uma proposta por mim. Disse-lhe para falar com o meu empresário e eles trataram das coisas. Entretanto, o meu empresário tinha-me dito que já trabalhavam nisso há alguns meses, mas nada aconteceu.

Voltei para a pré-época, nada acontecia. Quando temos o jogo de apresentação com o Estoril fiquei no banco, não jogo nem um minuto. O treinador disse que quase tudo estava certo para ir e não valia a pena arriscar a lesão. E foi assim que tudo aconteceu.

Jesualdo Ferreria era o treinador do Panathinaikos. Foi ele que o quis na Grécia?

Foi ele que quis contar comigo, foi ele que me quis ir buscar e me queria na equipa. Fez força para ir para o Panathinaikos.

O balneário tinha vários jogadores importantes. Campeões europeus como o Katsouranis e o Karagounis, que tinham estado em Portugal, o Seitaridis, também ex-Porto, e até o Gilberto Silva durante um tempo. Como foi chegar a esse balneário?

O primeiro impacto foi incrível. Estava a entrar num balneário com campeões europeus pela Grécia. Não consegui estar com o Gilberto Silva, quando assinei, ele saiu pouco depois. Eram todos uns monstros, tinham feito grandes carreiras, mas o grande problema foi a língua na altura.

O Seitaridis e o Katsouranis falavam português. Foi um choque ao início entrar no balneário, porque não estava habituado. O clube era grande e ia lutar por outros objetivos que em Setúbal não tinha oportunidade.

Como foi ser treinado por Jesualdo Ferreira?

Foi o melhor treinador que tive até hoje. Tudo o que hoje utilizo no futebol aprendi com ele. Perdeu muito tempo, até brincava comigo a dizer que eu era burro e não aprendia [risos]. Andou muito em cima de mim, eu vinha de escalões inferiores, não vinha de uma formação de um grande, em que aprendemos a movimentação, as posições do corpo. Ele perdeu tempo para me ensinar e estou grato por tudo ao "mister" Jesualdo.

Não é um médio goleador, mas curiosamente o seu primeiro golo é mesmo ao Olympiacos, estou certo? E há uma grande rivalidade.

Foi incrível. Lembro-me que fui a viagem toda até ao estádio a tossir. O "mister" veio até mim dizer que se estava nervoso e não conseguia jogar estes jogos ficava de fora. Fiquei a prender para não tossir, para ele não ouvir. Não queria sair do 11 inicial. Fiz o meu primeiro golo contra o rival, no estádio deles, no meu primeiro dérbi, não podia desejar uma maneira melhor de marcar o meu primeiro golo.

Como é o ambiente do futebol na Grécia? Há a reputação de viverem o futebol de forma muito intensa.

Vir de um campeonato em que praticamente os jogos tinham quase sempre menos de 5 mil pessoas, exceto com os grandes. O primeiro jogo que fiz foi na Luz, com 30 mil pessoas. É diferente um Benfica-Setúbal para um Panathinaikos-Olympiacos. Nunca tinha visto, sentias os adeptos e a forma como puxavam pela equipa.

Não conseguiu quebrar essa hegemonia forte do Olympiacos, ficou essa pequena mágoa dos seis anos em que lá esteve?

Ficou essa mágoa. No primeiro ano, a cinco jornadas do fim estávamos em primeiro, com seis ou sete pontos de avanço, mas não conseguimos ganhar, também por motivos fora do campo. Essa é a mágoa que tenho, ganhei uma Taça, mas o que queria mesmo era o campeonato.

Ainda assim, venceram a Taça em 2014. Foi esse o momento mais alto da sua carreira na Grécia?

Já era o capitão, foi o momento mais alto que tive na Grécia, porque conseguimos ganhar algo para o clube, que não vencia nada desde 2010. Até hoje continua a ser o último troféu que ganharam. Teve um sabor especial. O mais importante era ganhar a liga, mas fiquei feliz por ter dado essa alegria aos adeptos.

Quando chegou lá não falava grego. Como foi o processo de adaptação ao país? Foi aprendendo a falar? Começou a gostar e a relacionar-se muito com o país em si?

Quando cheguei não falava inglês nem grego. Tive de começar pelo inglês e aprender as coisas básicas do dia a dia para comunicar com os meus companheiros, mas depois, aos poucos, fui-me identificando mais com o país e o clube.

Aprendi a amar e a sentir-me parte do clube. Comecei a aprender o grego com os meus amigos no balneário e isso ajudou-me depois a ter a nacionalidade. Viam que dava entrevistas em grego, quanto gostava do país e do clube. Foram sentindo que era um deles. Chegar à seleção tornou-se mais fácil, todos diziam que eu era grego já, até os adversários. Isso ajudou a adaptar-me na seleção.

Pediu a nacionalidade grega já com a intenção de representar a seleção grega? Foi abordado pela federação?

Foi uma conversa com o presidente do Panathinaikos. Ele dizia que eu ia ficar no clube até acabar a carreira, perguntou-me porque não me tornava grego. Eu disse que se ele me ajudasse, não teria problema nenhum em ter o passaporte grego.

Ele trabalhou nisso, pediu documentos meus e da minha família e vi que era a sério. Chegou aos ouvidos do selecionador, que era o Michael Skibbe, e ele convidou-me para ir tomar um café com ele. Perguntou-me se estava disponível e tinha vontade. Eu disse que sim e que seria um orgulho. A federação ajudou-me, as coisas foram tratadas e ao fim de quatro ou cinco meses já tinha o passaporte na mão.

Sentia que não iria ter oportunidade na seleção portuguesa? A verdade é que Portugal tinha vencido o Euro um ano antes, com um meio-campo também recheado.

A verdade é que vi que não tinha possibilidade de representar a seleção portuguesa e, se tivesse, seria um jogo e depois se calhar não voltaria mais. A seleção portuguesa estava longe, quando a Grécia me falou sobre tornar-me internacional num país onde tenho tanto carinho e pessoas que gostam de mim, só podia optar por esse caminho. A opção da seleção nacional já a via muito longe.

Como foi a estreia pela seleção grega? 23 de março de 2017, jogo de qualificação para o Mundial contra a Bélgica.

Foi na Bélgica, joguei sete minutos. Lembro-me que foi um dia muito emotivo para mim. Passei o dia todo a pensar de onde tinha vindo e onde tinha chegado. Pensei na minha família, no meu pai e no que conquistei. Saí de um clube como o Casa Pia e ia jogar a qualificação para um Mundial.

A seleção da Grécia teve o seu apogeu alguns anos antes, em 2004 quando ganhou o Euro. Os portugueses têm muito a tendência de estar ressentidos com os gregos, porque foi contra Portugal e em Lisboa. Quando chegou à Grécia também faziam essas piadas ou brincavam consigo com isso?

Quando cheguei à Grécia não paravam de brincar comigo sobre isso. No início ficava magoado, porque falavam que foram campeões em Portugal contra Portugal. Sentia de uma forma diferente, perguntavam onde estava, se tinha chorado. A certa altura percebia que já era uma brincadeira, mas até hoje, às vezes, ainda mandam uma brincadeira ou outra.

Têm a expetativa de que a Grécia possa voltar a esses patamares de lutar pelas competições? Quais são as expetativas?

Tenho o sonho de representar a Grécia num Mundial ou Europeu. Também vejo que a equipa tem capacidade para isso. Por alguma razão ainda não conseguimos, mas a qualidade está lá. Com um pouco mais de sorte, vamos conseguir. Se for comigo na equipa, melhor. Se não for, quero é que eles se qualifiquem e deem uma alegria aos gregos.

Continua a sentir-se também muito português ou neste momento mais ligado à Grécia?

Nunca deixei e nunca vou deixar de ser português, todos na Grécia sabem isso. Sinto-me português, porque sou, mas também me sinto grego. É um país de que aprendi a gostar, com que me identifico, que me deu todas as oportunidades e mais algumas para estar onde estou hoje e ter a carreira que tenho.

O Zeca era capitão do Panathinaikos, internacional grego, figura de peso na Grécia. Como é que surge a decisão de trocar o clube para assinar pelo Copenhaga?

O clube estava a passar por uma fase muito má economicamente, eu devia ser dos contratos mais altos, era uma oportunidade do clube encaixar dinheiro. Tivemos uma conversa, achei que era melhor, o clube também também viu que era bom para eles. Tínhamos essa abertura e esse respeito para tomar essa decisão de forma tranquila e boa para as duas partes.

Mas uma saída difícil na mesma?

Muito difícil, quando recebi a proposta, a minha intenção não era sair, era continuar no clube. Por diversas situações que aconteceram, na altura quando chegou a proposta, percebi que se calhar era a altura de sair e tomar outro caminho. Saí de coração partido.

Como foi a adaptação no Copenhaga? O futebol nórdico é bastante diferente, o país também.

O primeiro impacto foi que fazia muito frio mesmo. Lembro-me de pensar como é que iria viver ali, tinha contrato de quatro anos. É uma maneira diferente de viver, uma cultura diferente, mas adaptei-me muito rapidamente. Só não me adaptei ao frio.

Ainda fez os primeiros jogos na Grécia e quando se transfere marca logo um golo ao Midtjylland, que viria a ser campeão. Foi uma boa maneira de começar.

Tinha chegado quatro dias antes, fui titular e marquei, ganhámos 4-3, eu fiz o último de cabeça. Mais uma vez foi a melhor forma de começar. É muito trabalho, também com um pouco de sorte nos momentos cruciais. É diferente chegar a um clube e fazer um bom jogo na estreia, dá logo outra motivação, as pessoas começam logo a ver-te de forma diferente. Correu tudo na perfeição nesse dia.

O Copenhaga é um clube muito vencedor, o antigo treinador tinha vencido imensas ligas. Mas, curiosamente, apanha um momento de menor fulgor aí na Dinamarca, com o Mitdjylland muito forte. A mentalidade de conquistar títulos foi também o que o fez ir para aí?

Também foi isso. Queria ganhar títulos e jogar regularmente competições europeias, quiçá uma Liga dos Campeões, porque nunca joguei. No ano passado fizemos uma campanha extraordinária na Liga Europa, fomos até aos quartos de final, que foi um feito histórico no país e no clube, que nunca tinha ido tão longe.

Fomos eliminados pelo Manchester United no prolongamento, com um golo de penálti do Bruno Fernandes. Tudo isso pesou na balança para vir.

Houve um momento nesse jogo que ficou viral com o Solskjaer e com o Bruno Fernandes.

Nunca escondi que sou do Sporting, e a outra equipa preferida é o Manchester United. Por coincidência, o Bruno saiu do Sporting para o Manchester United. Disse-lhe que fiquei triste por ter saído, mas contente porque foi para o United e conseguiu fazer uma grande carreira e elevar o nome do clube outra vez.


Venceu o seu primeiro título de campeão em 2019, já com 30 anos. Como foi esse momento? É o auge até agora?

Eu acho que o meu auge é dividido em três partes: ter ido para o Panathinaikos, que é um clube que tenho no coração, o segundo foi ser convidado para a seleção da Grécia e o terceiro foi o campeonato, que era algo que eu ambicionava tanto. Consegui fazê-lo. No dia em que acabar a carreira, posso dizer que fui campeão pelo menos uma vez, espero que seja mais. Cumpri mais do que aquilo que achava que iria conseguir.

O Fernando Santos é um ícone na Grécia. Treinou AEK, Panathinaikos, PAOK e levou a seleção ao Euro 2012 e Mundial 2014. Como é que ele é visto no país?

Todos os jogadores, todas as pessoas falam muito bem do "mister". Na rua percebe-se o carinho e o respeito pelo que fez, pela pessoa que é. Houve uma altura que me perguntaram se eu era o português mais grego, ou com mais reconhecimento na Grécia, mas não. Esse é o Fernando Santos, depois venho eu e o Vieirinha, que também é um ídolo no PAOK. O Fernando Santos está num patamar acima.

Chegou a falar alguma vez com ele? Quando chegou à Grécia, curiosamente, era ele o selecionador grego ainda, e depois também acabou por ser ele que não lhe deu oportunidade na seleção portuguesa.

Encontrei-o só uma vez numa entrega de prémios na Grécia. Estava tão tímido para falar com ele, que só lhe apertei a mão e cumprimentei. Foi a única vez que estive com ele.

Na seleção grega é companheiro de equipa de Vlachodimos, que assumiu que quer sair do Benfica. Acha que ele tem capacidade para dar o salto?

Ele está num grande clube europeu, tem toda a capacidade para jogar no Benfica. São opções, o guarda-redes que tem jogado também está muito bem. Acho que não esteve assim tão mal para perder o lugar, mas são opções.

Ele respeita, mas quer jogar, como todos os jogadores. Só somos felizes a jogar. Ele vê que não vai ter tantas oportunidades como gostaria no Benfica, acho que tem capacidade para jogar num grande clube europeu. Ainda é jovem, para um guarda-redes, e tem um futuro brilhante pela frente.

O que resta fazer na carreira? Já tem 33 anos, tem contrato por mais duas épocas. Pensa acabar a carreira na Dinamarca?

Não penso no fim da carreira, ou onde é que vou acabar. Mais para a frente vou ter tempo para pensar nisso. Sinto-me muito bem ainda. O que ainda me falta é conseguir jogar a fase de grupos da Liga dos Campeões e, se possível, jogar num Europeu ou Mundial pela Grécia.

Durante todo este período, não teve oportunidade de voltar a Portugal?

Nunca tive qualquer proposta para voltar a Portugal, nem dos grandes, nem de outros clubes, como o Braga, que também já considero um grande. Nunca tive essa oportunidade de pensar em voltar a Portugal.

Não pensa no fim da carreira, mas o Zeca já está a preparar a sua vida para o pós-futebol. Um primeiro projeto é a aplicação Remeet. Em que consiste a app?

Foi pensada para reunir as pessoas depois da pandemia e para ajudar os estabelecimentos a voltarem à vida normal e social, fazer com que os estabelecimentos também consigam regressar à normalidade. É trazer os benefícios para as pessoas e para os estabelecimentos. Tudo isto foi pensado pelo meu colega, o Milton, que criou a equipa que está por trás.

O projeto já está a ter adesão?

Ainda é muito cedo. Temos tido já alguma adesão à aplicação, mas vai levar tempo e só daqui a uns tempos é que podemos ver como estão as coisas estão a correr.

É uma forma de preparar também o seu pós-carreira?

Fazia sentido preparar-me para quando deixar o futebol e ter alguma coisa a que me possa focar as atenções. Gosto de experimentar coisas novas, o mundo digital é o futuro, tinha essa vontade de apostar nesses conceitos, gostei da ideia, identifiquei-me com as pessoas envolvidas e decidi investir. É uma boa forma de garantir e estar preparado para o pós-futebol.

Foi um ensinamento que foi aprendendo ao longo da carreira, que é preciso ter algo preparado para o momento de pendurar as botas?

Todos sabemos isso. Com 20 e poucos anos não se pensa nisso, mas quando vemos que o fim está mais perto do que o início, temos de começar a pensar em fazer outras coisas. Não quero perder o tempo de acabar a carreira e só depois pensar no que fazer.

Quero já estar preparado para projetos novos. Apareceu a Remeet, posso agarrar-me ao projeto e fazer disso vida, porque não me vejo a estar parado em casa e pensar que me poderia ter preparado melhor. Quero também outras coisas, quem sabe no mundo do agenciamento, de certeza que vou tirar o curso de treinador, apesar de não ser uma prioridade. É muito importante termos preparado o futuro.