Jovens saem "apaixonados" do Dia da Defesa, mas “às armas, às armas” dizem que não
15-02-2023 - 18:00
 • Beatriz Lopes

Tendo em conta as novas ameaças de terrorismo transnacional, faria sentido o regresso do Serviço Militar Obrigatório ou a criação de um exército único europeu?

Os três ramos das Forças Armadas precisam de 30 a 32 mil militares, "um número definido já nos tempos da Troika, inferior ao necessário". Desde então, Portugal continua a perder, em média, mil efetivos por ano e o número reduz-se agora a cerca de 25 mil. A renovação das carreiras militares parece ser "impossível". Os jovens até "saem apaixonados" do Dia da Defesa Nacional, mas hoje já sabem o que a carreira militar lhes oferece: baixos salários, horas extraordinárias que não são pagas e mesmo com formação superior "lavam convés".

O diagnóstico é feito no Geração Z desta semana por António Mota, presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA), que acredita que as baixas remunerações estão entre as principais razões que afastam os jovens da carreira militar.

"Um oficial da GNR ganha, em média, mais 700 euros que um oficial do Exército com o mesmo posto (....) E cada vez existe mais precariedade. Um militar chega a trabalhar 70 horas por semana quando sabe que na função pública trabalha 35, a diferença é que ele não é pago nem mais um cêntimo por isso".

António Mota não se mostra por isso surpreendido quando nesta altura há jovens militares portugueses a trocar a carreira militar por uma caixa de supermercado. A justificação é simples: o risco não compensa.

"Ser militar não é o mesmo que estar a trabalhar numa loja de pronto a vestir ou num balcão do McDonalds, o risco é maior. Nós temos nesta altura pessoas em vários teatros de operações na República Centro-Africana, na Roménia... No entanto, ganham o ordenado mínimo nacional (....) Há uns três ou quatro anos, o Mercadona abriu no Norte as primeiras lojas e foi buscar a uma unidade do exército 130 pessoas de uma só vez".

De acordo com o estudo "Os jovens e as Forças Armadas", realizado pela Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional (DGRDN), cerca de 37% dos jovens que participaram na 18.ª edição do Dia da Defesa Nacional manifestaram interesse em ingressar nas Forças Armadas, verificando-se uma tendência de ligeira descida face a anos anteriores.

Mas sendo o Dia da Defesa Nacional o único contacto garantido que todos os jovens têm com a realidade das Forças Armadas, não deveriam ser promovidas mais iniciativas como esta? António Mota reconhece que "eles saem de lá absolutamente apaixonados" com "as missões extraordinárias que a Marinha desempenha", com "os carros de combate e as metralhadoras", "é a loucura total" e "um dia de conto de fadas", mas hoje já são suficientemente informados sobre as dificuldades que o setor enfrenta.

"Para estar a contar histórias da carochinha aos jovens ou histórias como a Alice no País das Maravilhas, um dia já chega." E acrescenta: "Na altura de estabelecerem os contratos é que os jovens se apercebem que são de Lisboa e podem ser mandados para o Porto. Muitos desistem logo depois de entrarem na recruta: ao final do primeiro mês, apercebem-se que vão receber 200 euros, porque afinal não são ainda militares".

No Geração Z desta semana, disparamos perguntas ao alvo: De que forma se pode cativar mais jovens para uma espécie de "serviço militar 2.0"? O que os afasta e o que os aproxima? Quais as saídas profissionais e as especialidades que as Forças Armadas oferecem?

Tendo em conta as novas ameaças de terrorismo transnacional, faria sentido o regresso do Serviço Militar Obrigatório ou a criação de um exército único europeu?