Parecia destinada ao sucesso desde sempre, apesar do susto que a asma lhe pregou a determinada altura da vida e da carreira, e confirmou-se: a primeira corrida que fez ganhou, a primeira maratona que fez, no primeiro Europeu em que a prova se realizou para mulheres, também ganhou.
Estávamos em 1982 e Rosa Mota reconheceu, anos depois, em entrevista à RTP, que tinha descoberto a sua “prova ideal”. E explicou porquê: “Tenho resistência, mas não tenho muita velocidade. Quanto maior a distância, mais confortável me sentia”.
Dois anos depois, nos Jogos Olímpicos de 1984, a “menina da Foz” trouxe a medalha de bronze para casa. Era a primeira de sempre, de uma mulher, no maior evento desportivo do planeta.
Quatro anos depois, já com um currículo cheio de vitórias, incluindo os títulos europeu e mundial, chegou a consagração definitiva: a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos em Seul, triunfo carimbado a 23 de setembro de 1988.
Ao quilómetro 38, da 13.ª maratona da carreira, chegou a ordem de José Pedrosa, o seu médico/treinador de sempre, para atacar e arrancar para a histórica vitória. Pedrosa estava na prova acreditado como jornalista junto de uma televisão coreana.
“O Pedrosa tinha-me recomendado que aos 38 km, se ainda fosse acompanhada, olhasse para ele. Olhei e ele disse: ‘Rosa, é agora ou nunca’. E fui-me embora”, disse.
Rosa Mota tinha 30 anos e, do alto do seu metro e cinquenta e sete, com apenas 45 quilos, bateu a forte concorrência. Destaque para duas atletas: a australiana Lisa Martin, detentora da melhor marca mundial desse ano, e a alemã Katrin Dorre, que tinha 13 triunfos em 16 maratonas disputadas.
À chegada ao Estádio Olímpico de Seul, a portuguesa tinha 12 segundos de vantagem sobre a concorrência e na meta o avanço ainda subiu para 14.
Parece sina mas, tal como o ouro de Carlos Lopes, quatro anos antes, os portugueses acabaram a ver a prova de madrugada.
No rescaldo, a atleta aproveitou para deixar o recado: “Dedico esta vitória a todos os que me ajudaram. Os outros, os que só guerrearam, por favor não se aproveitem, não se metam em nada, não têm nada com isto”.
É que, convém lembrar, nem tudo foram “rosas” neste percurso. A cerca de dois meses de Seul, atleta e treinador decidiram não participar no Mundial de Estrada e a federação não gostou. Chegou a haver castigo: Rosa Mota foi proibida de participar em provas.
Os treinos foram transferidos para os Estados Unidos e o treinador, que ficou em Portugal para tentar resolver o imbróglio com o federação, dava as indicações por telefone.
Após os 42 quilómetros e uns metros, ainda se deu mais um incidente. A portuguesa foi impedida pela organização de dar a volta olímpica ao estádio.