"Sobranceria" do dragão levou a eliminação "nefasta" da Liga dos Campeões
14-08-2019 - 12:45
 • José Pedro Pinto

Cândido Costa, antigo médio do FC Porto debruça-se, em Bola Branca, sob todas as vertentes da ausência da Champions e as consequências para uma época que pode já ficar com caminho traçado até ao final de agosto.

"Estava em causa muita coisa". É desta forma, com a inevitável dose de desilusão à mistura, que Cândido Costa olha, em Bola Branca, para as "consequências nefastas" da eliminação precoce do FC Porto das fases de qualificação para a Liga dos Campeões, após a inesperada derrota da noite de terça-feira, diante do Krasnodar (2-3).

O antigo jogador dos azuis e brancos e atualmente comentador televisivo não poupa num discurso recheado de palavras fortes. Até porque o momento assim o exige. E o "duro revés em todas as vertentes" tem impacto imediato nos milhões que deixam de entrar nos cofres do Dragão.

"[Eliminação] Coloca uma série de pontos de interrogação e tem consequências nefastas ao nível financeiro: perder a oportunidade de arrecadar 44 milhões de euros. O que estava em causa era muita coisa. Mesmo muita coisa", enfatiza, debruçando-se sobre os pontos-chave da derrocada portista diante de um adversário que a equipa de Sérgio Conceição havia vencido na primeira mão da terceira pré-eliminatória, em solo russo.

"Eu tinha dito que este Krasnodar não estava fora da eliminatória e não seria o Krasnodar da primeira mão. Na Rússia, o FC Porto foi competente, estratégico e seguro. Acho que houve alguma sobranceria e o FC Porto achava que seria um figurino de uma equipa algo arrogante pelo primeiro jogo no Dragão. Alguns jogadores ainda não estão rotinados com aquilo que é preciso para jogar de forma agressiva e, em contra-ataque, o FC Porto foi claramente dilacerado", dispara, sem reservas.

"É impossível elogiar o que quer que seja"

Para Cândido Costa, "salta à vista que o FC Porto ainda não tem capacidade física para dar resposta ao raciocínio" competitivo que Sérgio Conceição pretende ver em campo. O traço identitário da "vontade" e da "entrega" está à vista de todos mas, em plena crise energética no país, o antigo médio recorre a uma expressão bem própria para traduzir a ideia que lhe vai na cabeça.

"A vontade está lá mas o tanque não está cheio para dar ideia ao seu futebol e isso tem vindo a revelar-se muito nefasto", prossegue, concluindo que, nesta altura, encontrar uma escapatória sob a forma de elogio pode ser ainda pior.

"É impossível elogiar o que quer que seja sob pena de estarmos a crucificar de morte tudo aquilo de bom que esta equipa e esta forma de jogar do Sérgio Conceição já mereceu. Acho que o caminho é reconhecer que as coisas não estão a correr nada bem, redefinir o planeamento dos objetivos. O FC Porto está mais que a tempo disso", prossegue.

"Muito mau" não ir à Champions na sequência do "maior investimento de sempre"

Entronca, então, nesta ideia de recusa de elogios quando nada o justifica, a questão premente: sem o incremento financeiro de uma presença na Champions, haverá margem para evitar pelo menos uma saída por muitos milhões que permitam equilibrar as contas?

"É o maior investimento de sempre no FC Porto e nesse cenário, não ir à Liga dos Campeões é muito mau. O FC Porto tem vindo a assentar a recuperação e saúde financeira nas participações na Liga dos Campeões. Havendo um plano B, esse advém muito do mérito do Sérgio Conceição. O FC Porto pode hoje olhar para os seus ativos e encontrar numa venda uma solução deste problema fruto da catapultação que o Sérgio Conceição fez de todo o plantel. Agora, o FC Porto pode vender o Marega e há uns anos era alvo de chacota", salienta.

Vitória de Setúbal e Benfica: "rastilho para coisas muito más ou rampa" de relançamento

O querido mês de Agosto surge, bem cedo no calendário da época, como o período em que os principais objetivos do FC Porto se decidem. A Champions já era e a entrada em falso no campeonato leva a encarar os dois jogos que restam este mês com espírito de missão.

A três pontos do líder e campeão Benfica, Cândido Costa só vê um caminho: triunfar na receção ao Vitória de Setúbal, no sábado, antes da visita à Luz para o clássico da jornada três da Primeira Liga.

"O FC Porto perde o primeiro jogo do campeonato, falha o acesso à Liga dos Campeões e o jogo com o Vitória de Setúbal é a rampa de lançamento. Há aqui dois cenários: este duplo desafio para o campeonato pode ser o rastilho para coisas muito más como a tal rampa. Um triunfo sobre o Vitória e um FC Porto ferido a ter um bom resultado na Luz pode abanar positivamente o momento da equipa", completa.