A travagem
14-11-2021 - 00:01
 • José Bastos

José Alberto Lemos, Nuno Botelho e Carvalho da Silva na análise dos ventos de frente na economia, da instabilidade política e da Operação Miríade.

Com o avanço das campanhas de vacinação e a supressão progressiva das restrições, assistiu-se na primavera à retoma do crescimento cujo dinamismo prosseguiu ao longo do verão e teve por base a reabertura da economia. De acordo com as previsões económicas do Outono 2021 da Comissão Europeia, a economia da União Europeia tem vindo a recuperar mais rapidamente do que o previsto, após a recessão desencadeada pela pandemia.

Não obstante o crescente peso de fatores adversos, prevê-se que a economia da UE continue a expandir-se ao longo do período abrangido pelas previsões e antecipa-se que as taxas de crescimento da área do euro sejam idênticas às da UE em 2021 e 2022, atingindo 2,4 % em 2023. Estas perspetivas dependem, em grande medida, de dois fatores: a evolução da pandemia de COVID-19 e o ritmo ao qual a oferta se adaptará à rápida recuperação da procura após a reabertura da economia.

Mas e no caso de Portugal? Depois de crescer a ritmos superiores a 4% e a recuperar níveis pré-Covid, a economia portuguesa deverá travar a fundo em 2023 apresentando uma das maiores reduções de crescimento da UE só superada pela Áustria (3%). Assim, Portugal deve crescer 4,5% este ano e 5,3% em 2022, para travar a fundo em 2023, crescendo apenas 2,4%.

A expectativa de abrandamento do crescimento é comum a quase todos os países (a Roménia é exceção), mas Portugal destaca-se pela dimensão da travagem. O executivo comunitário referiu mesmo que “o ritmo da recuperação é desigual entre países”. Assim, Portugal vai convergir com os restantes Estados-membros apenas em 2022, voltando a ficar bem abaixo da média em 2023.

Segundo a Comissão, o crescimento da economia portuguesa “está baseado no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e no turismo, e no geral, há mais riscos negativos devido sobretudo “à grande dimensão do efeito do turismo internacional” no PIB, onde a incerteza continua elevada face ao quadro de pandemia.

Também o chumbo da proposta de Orçamento do Estado opara 2022 “é fator de risco acrescido” tanto para a economia quanto para as finanças públicas portuguesas, alerta Bruxelas. De resto, “só um marciano diria o contrário” ironizou o comissário para os assuntos económicos, Paolo Gentiloni.

Como vai a economia portuguesa enfrentar as várias ameaças dos próximos tempos – inflação, possível subida de juros, crise energética, estrangulamentos nas cadeias de distribuição e falta de mão de obra – é uma das questões em debate tal como a crise política – entrevistas de Costa, Rio e Rangel – e a Operação Miríade envolvendo capacetes azuis portugueses na RCA.

A análise é de Nuno Botelho, líder da ACP Câmara de Comércio e Indústria, Manuel Carvalho da Silva, professor do CES e do jornalista José Alberto Lemos.