​Ministério Público investiga fuga de informação no exame nacional de Português
21-06-2017 - 13:42

Gravação áudio circulou nas redes sociais revelando os principais temas que seriam abordados na prova, dois dias antes da realização da mesma.

O Ministério Público está a investigar uma alegada fuga de informação sobre o conteúdo do exame de nacional de Português, avança a edição digital do "Expresso”.

De acordo com o jornal, dois dias antes do exame de Português do 12.º ano, realizado esta segunda-feira, circulou nas redes sociais e no WhatsApp uma gravação que revelava exactamente o que ia sair.

Segundo o áudio a que o “Expresso” teve acesso, a fuga partiu da “presidente de um sindicato de professores”. O Instituto de Avaliação Educativa abriu um inquérito e pediu ao Ministério Público para averiguar o caso.

"Ó malta, falei com uma amiga minha cuja explicadora é presidente do sindicato de professores, uma comuna, e diz que ela precisa mesmo, mesmo, mesmo e só de estudar Alberto Caeiro e contos e poesia do século XX. Ela sabe todos os anos o que sai e este ano inclusive. E pediu para ela treinar também uma composição sobre a importância da memória...", ouve-se na gravação, cuja autora não foi identificada.

A informação revelou-se certeira. "Não passa pela cabeça de ninguém que seja possível, por coincidência, acertar nas três coisas. É óbvio que houve uma fuga", diz ao "Expresso” Miguel Bagorro, professor na Escola Secundária Luísa de Gusmão, em Lisboa.

O professor teve conhecimento da gravação no sábado, dois dias antes do exame, através de um aluno a quem dava explicações de Português e que, por sua vez, recebeu o áudio por WhatsApp através de um grupo de estudantes.

"Na altura não liguei, até porque todos os anos há boatos a circular sobre o que vai sair nos exames. Mas, na segunda-feira, quando vi o que saiu na prova, fiquei estupefacto. O que foi dito na gravação foi exactamente o que saiu. Logo nesse dia, escrevi uma denúncia ao Ministério da Educação", contou ao “Expresso” Miguel Bagorro.

O ministério reencaminhou a denúncia para o Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), responsável pelos exames nacionais, que está a investigar. O IAVE remeteu ainda para a Inspecção Geral de Educação e para o Ministério Público "todas as informações de que dispõe sobre o caso para efeitos de averiguação disciplinar e criminal".

Na denúncia que enviou ao Ministério da Educação e ao Júri Nacional de Exames, o professor Miguel Bagorro refere que esta alegada fuga de informação "compromete seriamente a justiça do exame de Português" e defende que este "deveria pura e simplesmente ser repetido".

"Houve alunos que só estudaram o referido ou pelo menos dedicaram-se mais ao referido, o que os beneficiou", justifica.

Ao “Expresso”, o professor diz "compreender que anular a prova também pode causar injustiças, nomeadamente para os estudantes que a realizaram sem ter acesso àquela gravação e a quem o exame correu bem", pelo que considera que esta "é uma decisão muito difícil".

"Independentemente de vir ou não a ser anulada, o que me parece óbvio é que tem de haver um controlo muito maior sobre as provas porque o que aconteceu descredibiliza totalmente os exames nacionais", diz.