“Educação em Portugal penaliza o pobre" e "é fator de exclusão"
23-04-2022 - 08:00
 • Henrique Cunha

O padre Jardim Moreira diz à Renascença que, em matéria de luta contra a pobreza, “deve ser tudo revisto, se queremos que não seja o próprio sistema a criar exclusão”. Congresso que assinala os 30 anos da Rede Europeia Anti-Pobreza em Portugal começa no final do mês.

“A educação em Portugal penaliza o pobre" e "é fator de exclusão", afirma o presidente da EAPN Portugal/Rede Europeia Anti-Pobreza.

Em declarações à Renascença, o padre Jardim Moreira considera que “nós temos uma educação em Portugal que penaliza os pobres”.

As respostas no combate à pobreza devem "apostar no desenvolvimento integral da pessoa humana".

“As respostas têm sido muito a nível individual e a nível assistencialista e achamos que devem ser mais a nível de família, a partir da habitação, da educação e da saúde, e apostando no desenvolvimento integral da pessoa humana”, reforça.

Para o presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza, “um dos problemas sérios que nós encontramos situa-se no âmbito da educação, pois nós temos uma educação em Portugal, que neste momento penaliza os pobres”.

“Se o pobre vai sujo é posto fora; se o pobre não tem alimentação tem dificuldades, porque se não foi alimentado suficientemente na primeira infância tem dificuldades de aprendizagem e é considerado burro, e é posto de lado”, sublinha.

O sacerdote afirma, por isso, que “o próprio sistema exclui mais do que inclui” e deve ser “tudo revisto se queremos que não seja o próprio sistema a criar pobreza e exclusão”.

Milhões a caminho da pobreza extrema

O padre Jardim Moreira considera “assustador” o número projetado pela organização internacional humanitária Oxfam para o conjunto de pessoas em situação de pobreza extrema.

A confederação indica que a pandemia da Covid-19 e o aumento do preço dos alimentos, provocado pela guerra na Ucrânia, vai atirar mais de 260 milhões de pessoas no mundo para a pobreza extrema. É o equivalente à população conjunta do Reino Unido, França, Alemanha e Espanha.

O padre Jardim Moreira refere que “a realidade vai ser ainda mais compungente”, e alerta para “uma sociedade agressora que agride os mais fracos e onde parte da humanidade é posta à parte”.

“Estes números são um juízo terrível sobre esta sociedade e sobre este sistema. A humanidade prefere armar-se até aos dentes, prefere encontrar formas de autodestruição do que humildemente reconhecer que errou”, lamenta.

O responsável entende que “só há uma solução” e que passa pela “ideia e prática da partilha”, como forma de se impor “ao individualismo das pessoas que escondem os seus bens, e fogem com eles para outros sítios”.

“O que está em causa aqui, em meu entender, é a necessidade urgente de conversão da humanidade para se amarem, para se respeitarem, para construírem a paz”, sublinha.

O sacerdote diz que “estamos dominados pelas trevas, pelo ódio e pela ganância que destrói esta humanidade”, e que este “é o momento de reflexão e de mudança profunda na vida da história da humanidade”.

Diálogos sobre a pobreza em Congresso Nacional

Para assinalar os 30 anos de vida em Portugal, a Rede Europeia Anti-Pobreza está a organizar um congresso sobre a pobreza, composto por quatro seminários temáticos a realizar em quatro cidades, Porto, Aveiro, Braga e Lisboa, entre 30 de abril e 3 de junho.

De acordo com um comunicado da European Anti Poverty Network (EPAN), o evento comemorativo “conta com o alto patrocínio do Presidente da República e procurará envolver outras entidades oficiais como o presidente da Assembleia da República, o primeiro-ministro, a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e a ministra da Saúde”.

O padre Jardim Moreira diz à Renascença que “o Presidente da República achou que esta data e que estas circunstância da rede anti-pobreza, tendo em conta a pobreza e a luta contra a pobreza devia ser celebrada de uma forma visível e com impacto nacional”, e que isso levou à decisão de se organizar “um congresso, em conjunto, em quatro cidades”.

O presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza entende que esta manifestação de Marcelo Rebelo de Sousa significa “a importância que merece ao país a luta contra a pobreza e as perspetivas que a rede tem apresentado e que estão em parte consignadas no programa da estratégia de luta contra a pobreza aprovada pelo Governo e pelo conselho de ministros e que se espera que venha agora a ser aplicada”.