"Esperança", "derrocada" e cautela. Reações portuguesas às eleições em França
07-07-2024 - 20:25
 • Ricardo Vieira , Alexandre Abrantes Neves

"O que o povo decide está bem decidido", declarou Marcelo Rebelo de Sousa sobre a vitória da aliança de esquerda sobre a extrema-direita em França, de acordo com as estimativas.

"Esperança", "derrocada" europeia e alguma cautela, foram estas algumas das reações de políticos portugueses às estimativas dos resultados da segunda volta das eleições legislativas em França, que apontam para uma vitória da aliança de esquerda Frente Nacional Popular e para uma derrota da União Nacional, de extrema-direita.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, está alinhado com a posição do homólogo francês, Emmanuel Macron, e prefere para já não alongar-se em comentários. Sublinha apenas que a decisão do povo é sempre uma boa decisão.

“Se o Presidente francês não sabe o que dizer, imaginem o Presidente português sobre o que se passa num país amigo. Observo atentamente o que se passa, porque é muito importante para a Europa. Vamos esperar os resultados finais e depois, amanhã ou depois de amanhã, falarei. O que o povo decide está bem decidido”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações aos jornalistas à saída da Sé de Beja, no final da cerimónia de ordenação episcopal do novo bispo, D. Fernando Paiva.

O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, felicita a esquerda francesa por um “extraordinário resultado” nas eleições legislativas e diz que “a extrema-direita foi claramente derrotada”.

“‘A França merece melhor do que uma alternativa entre neoliberalismo e fascismo, como disse Olivier Faure’, secretário-geral do Partido Socialista francês”, refere Pedro Nuno Santos.

O líder socialista português considera que “a melhor barreira contra a extrema-direita está na defesa e aprofundamento do Estado Social”.

“Unida, a esquerda venceu a extrema-direita nas urnas, agora terá de a vencer na governação e nas políticas públicas”, sublinha Pedro Nuno Santos.

Já o presidente do Chega, André Ventura, fala numa “derrocada para a Europa”, com a vitória da aliança de partidos de esquerda e extrema-esquerda.

“Desastre para a economia, tragédia na imigração e mau no combate à corrupção. Se se confirmarem estes resultados em França é uma verdadeira derrocada para a Europa!”, alerta André Ventura, nas redes sociais.

A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, escreveu na mesma rede social que “a esquerda derrotou a extrema-direita”. “O povo francês mostrou que a escolha não é entre o centrão neoliberal e a extrema-direita. A vitória da esquerda, liderada pela @FranceInsoumise, abre caminho a um projeto radicalmente social e ecologista. A esperança ganha força na Europa”, salientou a bloquista.

Já Catarina Martins, antiga líder do Bloco de Esquerda, escreve que "a esperança, a solidariedade venceram o ódio de extrema-direita e a irresponsabilidade liberal". A eurodeputada dá os parabéns à Nova Frente Popular, de Jean-Luc Mélenchon.

Na mesma rede social, a porta-voz do PAN considerou que “o povo francês derrotou a extrema-direita”, defendendo que “foi um dia bom para a democracia, que mostra que nunca se devem decretar vencedores antecipados e a vitória do progresso social e ambiental”.

Em comunicado, o Livre assinalou que “os eleitores franceses mobilizaram-se e afluíram em massa às urnas para evitar o primeiro governo de extrema-direita desde a Segunda Guerra Mundial”, mas referiu que este é, “de longe, o melhor resultado de sempre da extrema-direita em eleições legislativas em França”.

O Livre destacou que este é “o momento de agir e de pôr em prática as medidas sociais, ecologistas, progressistas que respondam aos anseios de todas e todos os que vivem em França”, considerando ser necessário “criar uma República social e ecologista que seja clara e indubitavelmente feminista, antirracista, ecologista e progressista”.

O partido salientou ainda que “este resultado mostra que a convergência de forças progressistas, ecologistas e de esquerda é a melhor forma de, em paralelo, combater a extrema-direita e criar uma alternativa de governação”.

D. José Ornelas e as "boas notícias" de França

E também dentro da Igreja já há reações aos resultados das legislativas francesas. O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) diz que a derrota da extrema-direita é uma “boa notícia”.

À margem da ordenação episcopal de D. Fernando Paiva como bispo de Beja, D. José Ornelas mostra-se aliviado por a França não desistir dos valores europeus.

“O bom-senso tem acabado por reinar na maioria dos casos. Espero que seja assim e que tenhamos sempre caminhos mais possíveis de entendimento para revitalizar os valores de uma Europa que luta por valores sérios e não simplesmente por pseudo-valores ou reações extemporâneas e descabidas que não vão melhorar a situação. São boas notícias”, declarou D. José Ornelas.

Já o cardeal D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal, não fala diretamente da derrota da União Nacional, de Marine Le Pen, mas sublinha que os franceses deram um sinal de que não querem o país governado por extremos.

O patriarca de Lisboa também comentou os resultados em França. D. Rui Valério elogia a forte participação eleitoral e diz mesmo que é de “tirar o chapéu aos franceses”.