Carlos do Carmo foi “a maior força renovadora do fado depois de Amália"
01-01-2021 - 13:54

Musicólogo destaca "os grandes poetas e compositores de outras áreas que Carlos do Carmo trouxe para o fado" e "as pontes que estabeleceu entre o fado e outros géneros musicais".

Carlos do Carmo "foi a maior força renovadora do fado, depois de Amália Rodrigues (1920-1999)", disse hoje o musicólogo Rui Vieira Nery, em reação à morte do fadista, ocorrida hoje, em Lisboa, aos 81 anos.

Rui Vieira Nery, autor de "Para uma História do Fado", em declarações à agência Lusa, afirmou que "quase todos os momentos de renovação do fado, nos últimos 50 anos, tiveram alguma ligação com Carlos do Carmo".

Vieira Nery referiu "os grandes poetas e compositores de outras áreas que Carlos do Carmo trouxe para o fado" e "as pontes que estabeleceu entre o fado e outros géneros musicais".

Rui Vieira Nery, que era amigo do fadista, sublinhou "o apoio e encorajamento de Carlos do Carmo aos novos fadistas".

O historiador e musicólogo e o fadista colaboraram na série documental "Trovas Antigas, Saudade Louca", exibida em 2010, na RTP.

Vieira Nery realçou também o "apoio de Carlos do Carmo a iniciativas que promoveram o fado" e o seu contributo "para a reconciliação dos portugueses com o fado", e citou, entre outras, o Museu do Fado e a candidatura do fado a património imaterial da Humanidade, que se concretizou em 2011.



Carlos do Carmo morreu hoje aos 81 anos, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, disse o seu filho Alfredo do Carmo à Lusa.

Nascido em Lisboa, em 21 de dezembro de 1939, Carlos do Carmo era filho da fadista Lucília do Carmo (1919-1998) e do livreiro Alfredo Almeida, proprietários da casa de fados O Faia, em Lisboa, onde começou a cantar, até iniciar a carreira artística em 1964.

Vencedor do Grammy Latino de Carreira, que recebeu em 2014, o seu percurso passou pelos principais palcos mundiais, do Olympia, em Paris, à Ópera de Frankfurt, do 'Canecão', no Rio de Janeiro, ao Royal Albert Hall, em Londres.

Despediu-se dos palcos no passado dia 9 de novembro de 2019, com um concerto no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.

A publicação do seu derradeiro álbum, "E Ainda?", prevista para o passado mês de novembro, foi anunciada hoje, para este ano, pela discográfica Universal.

Neste disco, Carlos do Carmo canta também Herberto Helder, Sophia de Mello Breyner Andresen, Hélia Correia, Júlio Pomar e Jorge Palma, que junta aos poetas do seu repertório.

"No Teu Poema", "Um Homem na Cidade", "Flor de Verde Pinho", "Os Putos", "Canoas do Tejo", "Lisboa, Menina e Moça", "Bairro Alto", "Por Morrer uma Andorinha", "Fado do Campo Grande" ou "Fado da Saudade", com o qual ganhou um Prémio Goya, em Espanha, foram alguns dos seus êxitos.