Vacinação 5-11 anos. "Seria absurdo que um grupo de médicos estragasse a festa"
08-12-2021 - 00:55
 • André Rodrigues

Presidente do colégio da especialidade de Pediatria da Ordem dos Médicos manifesta reservas em relação ao processo que levou à recomendação, pela DGS, da vacinação de crianças a partir dos 5 anos. "Pedir aos pais que decidam sobre um assunto que exige conhecimentos específicos, parece-me injusto”, avisa Jorge Amil Dias.

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O presidente do colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos (OM) critica o processo que culminou, esta terça-feira, com a recomendação, pela Direção-Geral da Saúde (DGS), da vacinação de crianças dos 5 aos 11 anos.

Em declarações à Renascença, Jorge Amil Dias lamenta que a discussão técnica em torno desta decisão tenha sido mais dominada pela falta de consenso entre especialistas do que pelo esclarecimento aos pais que, agora, têm nas suas mãos a decisão de vacinar, ou não, os filhos.

“Trazer para a praça pública esta discussão dos que são a favor e dos que são contra não terá sido muito útil e coloca um peso e uma ansiedade nos pais que é quase insuportável. Pedir aos pais que, de informação médica têm muito pouco ou nada, decidam sobre um assunto que exige conhecimentos específicos, parece-me injusto”, argumenta o pediatra.

Sem se referir diretamente à diretora-geral da Saúde, Amil Dias ironiza, dizendo que “seria um absurdo que, depois da expectativa que se criou e das personalidades que já sinalizaram o prazer que teriam em anunciar a recomendação da vacina, viesse agora um grupo de médicos estragar a festa”.

Por outro lado, o presidente do colégio de Pediatria da OM refuta o argumento, que tem vindo a público, da necessidade de vacinar as crianças mais pequenas, dada a proximidade dos convívios de Natal, com familiares próximos, avós incluídos.

Jorge Amil Dias diz, até, que esse raciocínio, segundo o qual a inoculação de crianças mais pequenas ajuda a evitar a propagação da Covid-19, é “um alegado argumento um pouco questionável”.

A avaliação sobre a imunização Covid, prossegue, deve ter em conta “o risco individual da criança”, porque “há situações em que a ocorrência de uma infeção desequilibra gravemente uma doença crónica que uma criança possa ter ou a medicação que uma criança possa estar a cumprir por determinada doença crie um risco infecioso acrescido”.

“Da mesma maneira que, nessas crianças, frequentemente aconselhamos a vacina da gripe – o que não se faz por sistema em todas as crianças – também nesses casos recomendamos todas as vacinas que tenham um perfil de risco mais pequeno do que o perfil de risco associado à doença crónica que a criança tem”, sublinha.

Recomendação da DGS não impede pediatras de desaconselhar a vacina

Jorge Amil Dias lembra que a recomendação emitida nesta terça-feira pela DGS não significa que os pediatras tenham de convencer os pais a vacinar as suas crianças nem os impede de desaconselhar a administração da vacina, se assim o entenderem.

“O que há é uma recomendação da autoridade de saúde. Sobre a decisão de recomendação que cada médico fará aos pais das crianças, é um assunto individual e a decisão é tomada individualmente. Haverá situações em que a criança terá um risco ou um contexto diferente e poderá justificar uma decisão e, meia hora depois, outra criança, noutro contexto, poderá justificar uma recomendação de sentido diferente”, sublinha Jorge Amil Dias.