Portugal em 20.º no reforço da vacinação Covid. "Baixámos os braços quando não devíamos"
04-01-2022 - 19:03
 • Pedro Mesquita , André Rodrigues

Bastonário da Ordem dos Médicos lembra que a substituição de Gouveia e Melo foi um processo demorado. Antigo ministro Adalberto Campos Fernandes diz ser fundamental olhar com realismo para o atual quadro pandémico: com prudência, com um discurso para adultos, para aliviar restrições até às legislativas.

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O bastonário da Ordem dos Médicos considera que o desempenho modesto de Portugal no reforço da vacinação contra a Covid-19 se explica com o travão a fundo no processo, após a saída de Henrique Gouveia e Melo da coordenação.

Se é verdade que o país figura no pódio da vacinação primária, já no reforço, Portugal aparece na 20.ª posição.

"Baixámos os braços numa altura em que não devíamos ter baixado os braços", constata Miguel Guimarães, em declarações à Renascença.

Para o bastonário da Ordem dos Médicos, "nós tivemos um desempenho fantástico com a liderança do, agora, almirante Gouveia e Melo e a verdade é que quando se atingiu 87% da população vacinada - que era quase toda a gente, menos 2% ou 3% que não aceitaram ser vacinados - as pessoas pararam".

Por outro lado, o bastonário lembra que a substituição de Gouveia e Melo foi um processo demorado, "isto é, na altura, não se sabia quem é que o estava a substituir, a dra. Graça Freitas veio assumir essa situação, mas a verdade é que aquilo parou. E o número de pessoas que nós precisamos a fazer o reforço da vacina eram, de facto, muitas pessoas".

"Tocar a rebate" e concluir o trabalho

Já o antigo ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes apresenta um ângulo diferente: por um lado, diz, a desaceleração no processo de reforço das vacinas deve-se a "um certo cansaço" das pessoas, associado ao que diz ter sido "um menor empenho e um menor enfoque nas questões de organização, misturado com o período festivo, com o encerramento de alguns centros", durante o mês de dezembro.

Para Adalberto Campos Fernandes, é fundamental agora "olhar para a frente", "tocar a rebate" e acabar o trabalho que falta.

"Há uma manifesta evidência positiva de proteção contra a doença grave provocada pela Ómicron nas pessoas que têm as três doses e, em segundo lugar, está a haver, nalguns países, uma associação que gera moderada preocupação entre o vírus da gripe e a Covid-19. Isto vem apenas reforçar a ideia de que não é bom atrasar a vacinação dos mais velhos e que está na altura de tocar a rebate e acabar o trabalho que falta fazer".

Esta quarta-feira, os peritos voltam a reunir no Infarmed para fazer o diagnóstico do atual momento da pandemia, em Portugal e para apontar caminhos aos decisores políticos.

Para o bastonário da Ordem dos Médicos, é fundamental acelerar a vacinação e simplificar os procedimentos de isolamento profilático.

No plano da vacinação, porque "temos cerca de 480 mil pessoas com 65 anos que ainda não receberam a dose de reforço".

"Prudência" e "discurso para adultos" para aliviar restrições

No caso dos isolamentos, porque, "neste momento, sabemos, com segurança que podemos ter sete dias [de isolamento], mas até podemos ir para os cinco dias, como nos Açores e na Madeira. Porque a pessoa, quando é positiva, é muito infeciosa dois dias antes de ter sintomas e até três dias depois de ter sintomas. Portanto, neste momento, tudo o que seja agilizar processos é fundamental", defende o bastonário da Ordem dos Médicos.

Adalberto Campos Fernandes revê-se nos argumentos de Miguel Guimarães e diz ser importante reforçar a proteção vacinal e olhar com realismo para o atual quadro pandémico: "com prudência, e com um discurso para adultos, será possível aliviar as restrições até às legislativas".

"Vamos projetar as próximas três semanas em que, simultaneamente, tem de haver mais eficácia no processo de vacinação, mas, ao mesmo tempo, também, olhar para os dados que temos - que são dados muito objetivos - que nos permitem avançar para um período de maior normalidade na vida das pessoas. As questões do isolamento, dos testes, das restrições à liberdade, tudo isso estamos em condições de rever com moderada prudência", remata Adalberto Campos Fernandes.