​A ideologia do populismo
07-08-2018 - 06:38

O ex-ideólogo de Trump criou um movimento internacional que pretende destruir a UE por dentro.

Há cerca de um século, a democracia liberal era vista como algo ultrapassado, um regime próprio do século XIX. Modernas eram, alegava-se, as doutrinas nazi-fascistas e o comunismo soviético. Doutrinas que, então, não eram meras teorias, mas eram aplicadas em países reais: a Itália e a Alemanha, por um lado, e a União Soviética, por outro.

Se bem que inimigas, essas doutrinas ditas modernas tinham alguns pontos em comum. Por exemplo, todas elas defendiam Estados totalitários. E, mesmo na extrema-direita, tinham raízes socialistas. Não é irrelevante que Mussolini tenha sido, inicialmente, um militante socialista. E o nazismo era... nacional-socialista.

Do lado das democracias, que contra a maioria dos prognósticos, renasceram em força após a II guerra mundial, exageraram-se os benefícios da economia de mercado. A crise financeira global desencadeada em 2008 veio, porém, desfazer as ilusões quanto à capacidade de os mercados, só por si, alcançarem resultados justos. E se auto regularem. A democracia liberal passou a uma posição defensiva.

Hoje, numa época aparentemente menos dominada pelo combate ideológico, vemos Trump, presidente dos EUA, mostrar-se mais próximo de Putin e de outros autocratas do que das democracias liberais. Existem nacional-populismos de direita e também de esquerda, mas ambos detestam a democracia liberal.

Nem Trump nem Putin são ideólogos. Já o presidente da China, Xi Jinping, não rejeita o capitalismo de Estado, que proporcionou à economia chinesa um crescimento fulgurante, mas oficialmente defende o marxismo, “à chinesa”, claro. E restringe as liberdades cívicas e políticas.

Ora o populismo xenófobo e eurocético precisa de alguma ideologia para se tornar num eficaz movimento mundial. Uma ideologia certamente pouco elaborada, assente mais em sentimentos – de frustração, ressentimento, etc. – do que em raciocínios de filosofia política. Como era, aliás, o célebre livro de Hitler, publicado em 1925, “Mein Kampf”,

(“O meu combate”) - um instrumento de propaganda de nível intelectual muito fraco.

O ex-ideólogo da Casa Branca, Steve Bannon, lançou a partir de Londres um movimento para coordenar o populismo de direita na Europa. O seu modelo preferido é o da Itália, com Salvini (cujo grande adversário no país, sobretudo em matéria de imigração, é a Conferência Episcopal Italiana, como notava há dias Jorge Almeida Fernandes no jornal “Público”). S. Bannon não rejeita Marine Le Pen, nem o partido anti-UE alemão, ou os entusiastas do Brexit. E também há partidos populistas de extrema-direita, com certa relevância política, na Holanda, na Suécia, na Dinamarca, na Áustria, na Polónia, na Hungria, etc.

O objetivo próximo de A. Bannon é juntar todas essas forças para que das próximas eleições para o Parlamento Europeu, em 2019, saia um forte grupo parlamentar hostil à integração europeia.

É conveniente não ignorar este movimento que pretende destruir a UE por dentro.


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