​Transição energética e petróleo barato
24-04-2020 - 06:40

O petróleo barato complica a transição para fontes alternativas de energia. O mesmo se diga do dinheiro que será imperativo aplicar na recuperação económica europeia, para combater a depressão. O mercado petrolífero mundial viverá anos de incerteza.

Uma das prioridades estratégicas apresentadas pela Comissão Europeia é acelerar a transição energética na Europa comunitária, com menor recurso aos combustíveis fósseis e maior utilização de fontes alternativas, como a energia solar e a eólica. Esta louvável intenção encontra, porém, alguns obstáculos recentes.

A pandemia fechou milhões de pessoas em casa, deixando quase desertas as ruas e as estradas. A aviação comercial reduziu brutalmente o número de voos, face à falta de passageiros. O turismo em grandes barcos de cruzeiro quase desapareceu. Há dezenas de milhões de fábricas encerradas. Tudo isto levou a uma enorme baixa no consumo mundial de petróleo.

No próximo dia 1 de maio deverá entrar em vigor o acordo sobre cortes na produção petrolífera desencadeado pela Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) e liderado pela Arábia Saudita, a que se juntaram outros países, como a Rússia e – com grande empenho – os Estados Unidos, hoje o maior produtor mundial de “crude”, graças ao petróleo de xisto.

É natural que o preço do petróleo em maio suba um pouco por efeito desses cortes. Mas aquele preço continuará barato durante vários anos, até que o mercado consiga absorver os grande excedentes de petróleo existentes no mundo, o que levará tempo. Será um período muito difícil para países produtores como Angola, Nigéria, Argélia, Iraque, Brasil, Venezuela, etc.

Ora um petróleo barato não incita à promoção de energias limpas de CO2. A desejável transição energética vai ser agora mais complicada.

No mesmo sentido joga a prioridade atual para aplicar o máximo de dinheiro possível em programas de relançamento económico na UE. A transição energética não será barata, pois exige avultados investimentos em novas fontes de energia. Com o imperativo de combater a depressão económica decorrente da pandemia, não restará muito dinheiro para financiar aquela transição.

Claro que o petróleo barato também não induz as empresas petrolíferas a fazerem grandes investimentos na pesquisa e exploração de “crude”, sobretudo em zonas onde é caro extrair petróleo (no mar, por exemplo). Daqui a alguns anos os excedentes de petróleo provavelmente terão desaparecido do mercado mundial. Mas, até lá, não será fácil a gestão das fontes energéticas convencionais (petróleo, gás natural, carvão) nem das alternativas. Será um tempo de incertezas.