Costa coloca transportes públicos na pasta do Ambiente. Ou como isto ainda vai dar a Sócrates
30-11-2015 - 18:46
 • José Pedro Frazão , em Paris

Num dia em que foi provavelmente o único chefe de Governo presente em Paris que não discursou na Conferência do Clima, o novo primeiro-ministro desvaloriza o caso e anuncia uma surpreendente passagem de pasta na orgânica do novo executivo. Inédito não fosse um certo Governo de gestão de Guterres, pela mão de José Sócrates.

António Costa vai colocar os transportes públicos urbanos na tutela do Ministério do Ambiente. O anúncio foi feito pelo próprio primeiro-ministro esta segunda-feira, em Paris, à margem de um encontro com a presidente da Câmara local.

É a segunda vez que o Ministério do Ambiente tutela a pasta dos Transportes desde o 25 de Abril, quando se esperava que ficasse no novo Ministério do Planeamento e das Infraestruturas, liderado por Pedro Marques.

A primeira vez que um ministro do Ambiente tutelou a pasta dos Transportes aconteceu com José Sócrates no Governo de gestão de António Guterres. Com a saída de Ferro Rodrigues da pasta do Equipamento Social, para concorrer às legislativas de 2002 como secretário-geral do PS, Guterres chamou Sócrates, então ministro do Ambiente para ocupar interinamente ambas as pastas, juntando tutelas durante pouco mais de dois meses.

Política ambiental baseada na experiência autárquica

Costa fez este anúncio na Câmara de Paris, depois de um encontro de uma hora com a socialista Anne Hidalgo. A mulher que lidera a autarquia parisiense, nascida na Andaluzia, disse ter “grandes esperanças” em António Costa cuja nomeação para chefiar o Governo constituiu “uma das mais belas novidades da última semana”, premiando um “amigo de Paris” que lidera um "projecto de economia, ecologia e social-democracia".

António Costa pode ter saído da Câmara de Lisboa, mas a experiência autárquica parece não ter saído da sua visão política. “Salvar o planeta das alterações climáticas está nas mãos dos presidentes de câmara”, sublinhou o governante, que defende uma “grande aliança com as cidades” para travar o fenómeno.

Depois de desvalorizar a sua ausência no púlpito da Cimeira do Clima, que atribuiu a problemas burocráticos, o primeiro-ministro assumiu a mobilidade e a reabilitação urbanas como as suas prioridades no combate às alterações climáticas.

Na “vanguarda" do paradigma energético

Sem detalhar os seus planos, Costa repetiu várias vezes estas duas dimensões da sua política climática, baseada na ideia de "melhor cidade” como arma importante para a luta contra as alterações climáticas. Tal como na campanha eleitoral, defendeu que a prioridade a dar à reabilitação urbana é uma forma de gerar crescimento económico, de criar emprego e melhorar a eficiência energética.

“Como tive oportunidade de dizer à presidente da Câmara de Paris e nas minhas anteriores funções, esse grande desafio civilizacional que é o controlo das alterações climáticas perde-se ou ganha-se nas cidades, com a reabilitação urbana e com a mobilidade urbana. Por isso concentrámos essas políticas no Ministério do Ambiente porque acima de tudo são políticas que têm a ver com ambiente”, justificou o primeiro-ministro que promete “acelerar” o trabalho dos governos anteriores no domínio climático.

"Valorizo aquilo que é a proposta central de Portugal. Portugal quer estar na vanguarda do paradigma energético. É hoje um pais que tem uma intensidade de energias renováveis superior à media europeia”, continuou Costa que acentuou ainda que a “nova organização” do Ministério do Ambiente é “a melhor tradução daquilo que iremos fazer.

António Costa visitaria ainda o Bataclan numa homenagem às vítimas do massacre de 13 de Novembro, depois de expressar condolências por um atentado que visou o "mundo livre”.

[notícia corrigida às 22h15 - É a segunda e não a primeira vez que o Ministério do Ambiente tutela a pasta dos Transportes]