​Covid-19: “Descontrolo em Lisboa pode ser uma ameaça para o país”
16-06-2021 - 18:49
 • Pedro Mesquita , com redação

Presidente da República “teve um discurso menos prudente e não adequado à altura das circunstâncias", ao dizer que com ele não haverá "volta atrás" no processo de desconfinamento, diz Bernardo Gomes, especialista em saúde pública, que também é membro do chamado Grupo das linhas vermelhas Covid.

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O descontrolo da pandemia de Covid-19 em Lisboa e Vale do Tejo (LVT) “pode ser uma ameaça para o país” e o recuo no desconfinamento é inevitável, afirma à Renascença Bernardo Gomes, médico de saúde pública, que também é membro do chamado Grupo das linhas vermelhas Covid.

O Governo volta, na quinta-feira, a analisar a evolução da pandemia concelho a concelho, com Lisboa a viver uma espiral diária de novas infeções. Portugal registou, nas últimas 24 horas mais de 1.300 novos casos e, destes, 928 são na região de LVT.

Na leitura do médico em saúde pública, Bernardo Gomes, em Lisboa e Vale do Tejo “não há grande alternativa ao recuo nas zonas onde existe um número acima da linha vermelha”.

“Tem que ser reforçada a questão da testagem e a capacidade de realizar os inquéritos epidemiológicos, que começa, certamente, a acusar o toque da pressão, começam a ser demasiadas pessoas e a perda de controlo das cadeias de transmissão é fácil”, defende o especialista.

Esta quarta-feira, perante o aumento da pandemia na região da capital, o primeiro-ministro António Costa salientou que o tratamento em Lisboa não seria diferente do aplicado ao resto do país. Ou seja, mediante a matriz de risco definida pelo Governo, a região e o concelho de Lisboa poderão recuar no desconfinamento.

Menos deslocações, mais fiscalização

Nestas declarações à Renascença, Bernardo Gomes defende que a solução não é “colocar as pessoas dentro de casa, novamente”, mas evitar que “sejam expostas a riscos desnecessários”.

Para isso, “o teletrabalho obrigatório poderia e deveria ser prolongado por mais tempo, diminuindo o número de pessoas nas ruas e nas deslocações”.

Tem de haver, também, “capacidade de fiscalização de espaços fechados”, de forma mais apertada, nomeadamente “nas zonas mais críticas” em matéria de Covid-19.


O especialista em saúde pública defende uma estratégia de comunicação “dirigida a Lisboa, muito especificamente aos mais jovens”.

“Apesar de já haver uma desconexão importante entre o número de casos, internamentos e óbitos, essa desconexão não é completa e vamos continuar a ver nos próximos dias uma subida, ainda que ligeira, dos internamentos, com uma possibilidade de compromisso parcial dos serviços de saúde em Lisboa”, sublinha.

Bernardo Gomes deixa um forte alerta às autoridades: “ou se pega na situação específica de Lisboa e se aplicam medidas que diminuam a mobilidade dos indivíduos e lhes permitam estar mais protegidos, ou o próprio descontrolo em Lisboa e Vale do Tejo pode ser uma ameaça para o país”.

Esta preocupação relativamente à região de Lisboa e Vale do Tejo contrasta com as notícias que chegam hoje de Espanha e França, onde o uso de máscara nas ruas deixará de ser obrigatório.

Marcelo “teve um discurso menos prudente"

Em França a medida entra em vigor já esta quinta-feira, salvo em algumas circunstâncias, como em lugares onde se verifique grande concentração de pessoas, incluindo estádios de futebol. O primeiro-ministro francês, Jean Castex, sustenta a sua decisão com a evolução da favorável da pandemia em França.

Espanha vai fazer o mesmo em breve, com o presidente do Governo, Pedro Sanchez, a justificar a medida com o elevado ritmo de vacinação.

Na leitura de Bernardo Gomes, esse também deveria ser o caminho a seguir em Portugal, com uma ressalva: este não é bom momento para dar sinais de “relaxamento”, nomeadamente em Lisboa e Vale do Tejo.

Neste ponto, o especialista dirige críticas ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que acusa de ter avançado para um discurso menos prudente e não adequado a este momento ao dizer que, com ele, não haverá recuo no desconfinamento.

Questionado se esse é o “discurso assustador” do especialista, como referiu o Presidente da República, Bernardo Gomes considera que Marcelo Rebelo de Sousa “teve um discurso menos prudente e não adequado à altura das circunstâncias”.

“Num momento tão delicado, em que nós precisamos de contar mais do que tudo com a cautela individual do que estarmos a impor restrições, porque ninguém as quer colocar, comunicar relaxamento era tudo aquilo que não precisávamos”, mas foi aquilo que o Presidente fez, sublinha o médico de Saúde Pública.

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