Legionella em Vila Franca de Xira. Não há responsáveis, um ano e 12 mortos depois
06-11-2015 - 10:25

“Sinto muitas dores nos pulmões”, confessa uma moradora. O presidente da Câmara entende as queixas da população e pondera uma acção judicial contra o responsável pelo surto… assim que ele seja formalmente encontrado.

Um ano depois, as vítimas do surto de legionella em Vila Franca de Xira continuam à espera que sejam encontrados os responsáveis. A doença do legionário fez 12 mortos e que infectou 375 pessoas no concelho.

“Sinto muitas dores nos pulmões, estou muito cansada. Desde há um ano e tal, a minha vida mudou”, admite à Renascença Benta Ramos, que vive numa das três ruas em Forte da Casa, onde se registaram mais casos de legionella e, portanto, mais vítimas.

Quase todos admitem ter medo de ali viver. O presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Alberto Mesquita, entende as queixas da população e diz que também as suas. Pondera, por isso, interpor uma acção judicial contra o responsável pelo surto, quando for formalmente encontrado.

“Efectivamente, a Câmara Municipal pondera avançar com uma participação para ser ressarcida, não só da sua imagem, como dos meios que disponibilizou para colaborar com todas as entidades que tiveram interveniência neste processo”, admite à Renascença.

Quanto à legislação, o autarca considera necessário “encontrar as medidas legislativas para que a prevenção seja mais efectiva e para que estas empresas sejam empresas de sucesso, mas amigas do ambiente e não contribuam para problemas de saúde pública”.

Há um ano, os resultados laboratoriais apontaram para uma relação entre as bactérias recolhidas em doentes e as que foram encontradas numa torre de refrigeração da empresa Adubos de Portugal. Mas, até hoje, não existe um responsável formal.

“É uma injustiça, de facto”, afirma Madalena Santos, vila-franquense. Mas, para Maria Pedro, proprietária de um salão de cabeleireiro, não é de estranhar. “Isto sempre foi assim. A nossa Justiça sempre foi assim. Portugal sempre foi isto!”

A doença do legionário é provocada pela bactéria “Legionella pneumophila” e contrai-se por inalação de gotículas de vapor de água contaminada (aerossóis) de dimensões tão pequenas que transportam a bactéria para os pulmões, depositando-a nos alvéolos pulmonares.

Pode originar infecções sintomáticas ou assintomáticas, de forma menos ou mais severa, podendo evoluir para pneumonia grave e causar a morte.

“Não houve reforço de mecanismos”

O director-geral de Saúde, Francisco George, garante que os riscos em Vila Franca de Xira foram perfeitamente controlados, mas, em declarações à Renascença, sublinha que não foram reforçados os mecanismos de defesa.

“Foi identificada a fonte, foi selada e naturalmente todas as medidas de protecção dos cidadãos foram tomadas. Hoje, todos reconhecem que as operações em termos de saúde pública foram rápidas, eficazes e o problema terminou”, começa por dizer.

“Naturalmente, há um maior alerta para o problema, mas não houve reforço de mecanismos”, admite.