Direita ataca estratégia nos lares, Governo contra disputas de sensibilidade
10-09-2020 - 19:40
 • Lusa

João Almeida, do CDS, lembrou os vários surtos que tem havido em lares de idosos e acusou o Governo de ser incapaz de resolver o problema.

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A direita criticou esta quinta-feira a resposta das autoridades à pandemia de Covid-19 nos lares de idosos, num debate no parlamento em que o Governo acusou o CDS de tentar usar o tema como um “ranking de sensibilidade”.

No debate, na comissão permanente da Assembleia da República, proposto pelo CDS, o deputado centrista João Almeida ironizou com a anunciada criação de brigadas de reação para ajudar os lares e acusou o Governo de “não ter sido capaz de responder a quem mais merecia resposta, os mais idosos, os mais vulneráveis”.

Depois de lembrar que 40% das mortes por Covid-19 aconteceram em lares e que existem mais de 100 surtos ativos, João Almeida atacou o executivo por ter deixado os idosos “seis meses à espera de brigadas que lhe podiam salvar a vida”.

Só volvida quase uma hora, após o debate, chegou a resposta da parte do secretário de Estado da Saúde, António Sales, na ausência das duas ministras da área – Marta Temido (Saúde) e Ana Mendes Godinho (Trabalho).

O CDS, acusou Sales em tom exaltado, “fala com a propriedade dos comentadores depois dos jogos”, afirmando não aceitar que esta matéria, a dos lares, “se transforme num ‘ranking’ de sensibilidade para com os idosos”.

“Quando uma morte é uma morte a mais, os idosos o que precisam é quem os defenda e é isso que faremos”, disse.

No debate, iniciado pelo CDS e em que lembrou os casos de surtos em lares, além do de Reguengos de Monsaraz, distrito de Évora, onde morreram 16 pessoas, João Almeida considerou que o executivo foi “incapaz de resolver o problema”.

E questionou porque só seis meses depois do início da pandemia decidiu criar as brigadas.

“É uma decisão ofensiva para quem trabalha nos lares, para os idosos e para as famílias”, disse.

Ao longo de quase uma hora de discussão, contida até à intervenção de António Sales, todos os partidos – à exceção do PS – apontaram falhas à estratégia seguida pelo Governo, embora, à esquerda, tenha havido críticas ao desinvestimento na segurança social quando PSD e CDS foram Governo.

Foi o que fizeram Diana Ferreira (PCP) e Moisés Ferreira (BE), com ambos a defender mais investimento da parte do Estado numa rede de cuidados para os mais idosos.

Da parte do PSD, Clara Marques Mendes disse que a criação das brigadas de emergência representa “a desorientação” do Governo que, acusou, não teve desde o início da pandemia, uma “estratégia, ação global e coerente para os lares”, deixando os “idosos ficarem para trás”.

E no caso de Reguengos, disse, “falhou a fiscalização do Estado antes da tragédia, falhou a Direção-Geral da Saúde ao longo da tragédia, falhou a ministra Ana Mendes Godinho depois da tragédia”, disse.

Ainda pelo Governo, a secretária de Estado da Ação Social, Rita Mendes, respondeu às críticas dos partidos da oposição com alguns números: a distribuição de equipamentos de proteção em 2.300 lares, a testagem feita a 60.000 funcionários de lares ou ainda as mais de mil visitas feitas por equipas dos ministérios do Trabalho e da Saúde a lares, mesmo durante a pandemia.

A pandemia de Covid-19 já provocou mais de 904 mil mortos e quase 28 milhões de casos de infeção em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 1.852 pessoas dos 62.126 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.