​Paz social
29-10-2018 - 06:16

A apregoada paz social que o governo da “geringonça” trouxe nos seus primeiros tempos acabou. Há um ano o PCP percebeu que apoiar o governo socialista lhe tirava votos e mandou avançar o seu braço sindical.

Na sexta-feira passada a função pública, da administração central e local, fez greve, decretada por sindicatos da CGTP e da UGT. Uma novidade para o governo da “geringonça”. Apesar de ter sido retomado o horário das 35 horas (um erro responsável por grande parte dos problemas nos hospitais públicos e noutros serviços do Estado) e de terem sido revertidos os cortes salariais decretados no tempo da troika e ainda de ter sido revogada a lei que permitia despedimentos na administração pública, os sindicatos não estão satisfeitos. Querem mais.

No dia da greve da função pública, que teve expressiva adesão, a manchete do jornal “Público” informava que houve mais greves durante o governo de Costa do que com Passos. O próprio “Público” matizava um pouco a sua manchete, sublinhando no texto que há mais greves, mas mais curtas, durante o atual governo, e que não são, agora, convocadas greves gerais (juntando sindicatos do sector público e do sector privado), greves que eram frequentes no mandato do governo PSD-CDS.

De qualquer forma, a apregoada paz social que o governo da “geringonça” trouxe nos seus primeiros anos manifestamente acabou. É simples a explicação do principal fator deste fenómeno. Nas autárquicas de 2013 o PCP-PEV (verdes) obteve mais de 11% dos votos globais. Em 1 de outubro de 2017 desceu para 9,5%. Ou seja, o apoio parlamentar ao governo socialista tirou votos aos comunistas.

Naturalmente que um partido com a tradição institucional do PCP não iria, por causa desse desaire eleitoral, rasgar os acordos que celebrou com António Costa para permitir que este chegasse a primeiro-ministro. A resposta foi outra: endurecer o combate sindical da CGTP. E a UGT teve, até certo ponto, de acompanhar.

Veja-se o que aconteceu, em matéria de greves, no ano decorrido desde as últimas autárquicas, nomeadamente na Educação, mas também na Saúde, nos transportes, na administração pública…

Trata-se, também, de um aviso para o futuro: o PCP não alinhará, daqui a um ano, numa eventual nova “geringonça”. Também não creio que A. Costa queira solicitar, de novo, o apoio parlamentar de dois partidos de extrema esquerda, caso não obtenha uma maioria absoluta. Ainda que tenha de enfrentar muitas greves, se for governo.