Centenas de milhares participam em "Marcha Pela Vida" em Washington
24-01-2020 - 17:11
 • Filipe d'Avillez

Pela primeira vez, um Presidente americano vai discursar ao vivo na maior manifestação contra o aborto nos Estados Unidos.

Centenas de milhares de pessoas, com uma significativa presença de jovens, viajaram esta sexta-feira de vários pontos dos Estados Unidos para participar na Marcha Pela Vida, em Washington DC.

O evento anual, que acontece desde 1974, no primeiro aniversário da legalização do aborto nos EUA, por decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos, costuma atrair enormes multidões na capital do país.

Este ano, pela primeira vez, o Presidente dos Estados Unidos em funções vai discursar ao vivo no local. Outros Presidentes, incluindo o próprio Donald Trump, já falaram aos presentes por telefone ou por mensagem, mas esta é a primeira vez que um se desloca pessoalmente ao local.

Donald Trump declarou-se pró-vida na sua campanha para as presidenciais, apesar de, anteriormente, ter dito que o aborto não devia ser proibido. “Todos duvidaram da sua sinceridade quanto à questão do aborto. Ele disse aquilo em que acreditava, mas muitos duvidaram. Incluindo eu”, admite, em declarações à “NPR”, Marjorie Dannensfelser, uma ativista pró-vida, que admite que ficou surpreendida com o apoio que Trump tem dado ao movimento.

Ao longo das suas 47 edições, a Marcha Pela Vida tem sido sempre um evento pacífico, vivido num ambiente ora festivo ora solene, marcado por discursos e também por vigílias de oração.

Vários líderes religiosos têm participado e discursado e os bispos católicos têm apoiado sempre a marcha, encorajando os seus fiéis a participar na mesma.

A presença de Trump no ano em que vai disputar a reeleição para a Presidência pode ser entendida como forma de apelar a uma base que não se sente representada por um Partido Democrata que se tem colocado firmemente no lado dos defensores do aborto legal. Contudo, é também um risco. Os antecessores republicanos de Trump nunca arriscaram aparecer pessoalmente numa marcha pela vida, com medo de hostilizar os seus eleitores mais moderados.

Mal chegou à Casa Branca Trump reverteu algumas políticas da administração anterior, incluindo o financiamento de abortos em países em desenvolvimento. Mas talvez a maior ajuda que o Presidente deu aos opositores do aborto na América tenha sido a nomeação de dois juízes conservadores para o Supremo Tribunal. Só esta instituição pode reverter a decisão de 1973, abrindo caminho para que alguns estados proíbam a prática.

O processo Roe v. Wade envolveu uma mulher chamada Norma McCorvey que processou o Governo, reivindicando o direito a abortar. Anos depois de o Supremo ter decidido a seu favor McCorvey admitiu que tinha mentido durante o processo e passou o resto da sua vida a lutar para reverter a lei que tinha ajudado a criar.

Caso a decisão seja revertida a responsabilidade de legislar sobre a legalidade do aborto passará de novo para os Estados. Se em muitos é natural que tudo se mantenha igual, nalguns mais conservadores, sobretudo no sul, é possível que o acesso ao aborto legal seja fortemente restringido, ou mesmo proibido. Vários desses Estados já passaram leis para limitar o aborto, sabendo que estas acabarão por chegar ao Supremo, tentando assim forçar uma reavaliação de Roe V. Wade.