Ajudar empresas, ajudar a economia
30-06-2020 - 06:11

Carlos Moreira da Silva, um dos mais destacados empresários e gestores portugueses, alerta: “empresas que dão prejuízo não devem ser ajudadas”. Creio que é um exagero, se os problemas financeiros das empresas dependem da pandemia. Mas não se as empresas são mal geridas e os recursos nela existentes puderem ser melhor aplicados em empresas eficientes.

No momento em que escrevo parece que, afinal, a lista dos países com “corredores", cujas chegadas ao Reino Unido vão ser isentas de quarentena, não foi divulgada ontem. Diz-se que será anunciada no final da semana.

A exclusão de Portugal da lista de destinos considerados seguros para os turistas britânicos – um grupo de países que terá direito aos chamados corredores aéreos – seria uma forte machadada na recuperação do turismo estrangeiro no nosso país.

Sem turistas britânicos, Portugal deixaria de receber quase 4 mil milhões de euros em julho e agosto. O Algarve, que recebe cerca de dois terços dos turistas que nos visitam, provenientes do Reino Unido, seria particularmente atingido se Portugal ficar fora da lista britânica.

Sabe-se como o turismo vale perto de 15% do PIB nacional e, em condições normais, contribui muito para as contas externas do país – contribuição que o turismo interno não pode dar.

Não quer isto dizer que o turismo interno não seja essencial, pelo menos neste ano. Poderá ajudar a reduzir, mas não a eliminar, as perdas das empresas turísticas. E talvez induza a criar novos locais de turismo, que, a prazo, também venham a atrair estrangeiros. Estou a pensar sobretudo em zonas do interior, onde se podem concretizar unidades que proporcionem um descanso tranquilo no meio de paisagens magníficas. Já abriram algumas unidades turísticas no interior, com sucesso. Portugal não é só praias.

Mas, no turismo e noutros sectores, as ajudas estatais e de Bruxelas colocam problemas que devem ser equacionados agora, e não depois de essas ajudas se concretizarem.

Numa entrevista ao “Público” de ontem, um dos mais destacados empresários e gestores portugueses, Carlos Moreira da Silva, alertava: “empresas que dão prejuízo não devem ser ajudadas”. Creio que esta afirmação não pode ser tomada à letra, se o prejuízo for provocado pela pandemia (como é o caso do turismo), mas que ela coloca um problema real.

Em Portugal, muitas empresas ineficientes são mantidas artificialmente a funcionar com ajuda de crédito bancário renovável. Assim, há recursos que ficam retidos em empresas pouco produtivas, em vez de serem melhor aplicados em empresas eficientes. O que trava a indispensável renovação empresarial.

Será que as ajudas extraordinárias por causa da pandemia terão, ainda que parcialmente, este efeito, que tem atrasado a modernização da economia nacional?