"Não serei idiota útil" para “derrubar ministros”. Deputado do PSD processa TVI/CNN
25-05-2023 - 13:34
 • Renascença com lusa

Deputado do PSD Carlos Eduardo Reis é um dos visados na Operação Tutti Frutti, sobre um alegado "pacto secreto" entre PSD e PS antes das autárquicas de 2017.

O deputado do PSD Carlos Eduardo Reis disse esta quinta-feira que não está disponível para ser o “idiota útil” do partido para que se possam derrubar dois ministros e haver eleições antecipadas.

Na reunião da bancada parlamentar, segundo relatos feitos à Lusa, o deputado abordou “por transparência e lealdade” as reportagens emitidas na terça e quarta à noite pela TVI/CNN Portugal relacionadas com a Operação Tutti Frutti.

De acordo com as estações, no âmbito desse processo foram intercetadas escutas e comunicações que apontam para um alegado "pacto secreto" entre PSD e PS para cada partido manter a liderança de determinadas juntas de freguesias de Lisboa nas eleições autárquicas de 2017.

Carlos Eduardo Reis já anunciou que vai processar a TVI/CNN e o jornalista Henrique Machado por notícias que considera “incompetentes, mentirosas e mal trabalhadas”.

Antes disso, perante os deputados, negou ter cometido qualquer ilegalidade, disse que nunca foi ouvido pela justiça, e mostrou desconforto com o facto de o líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento, ter abordado o tema na quarta-feira no debate com o primeiro-ministro sem lhe ter dado “uma palavra” prévia.

“Não estarei disponível para ser o idiota útil e muito menos sangrado na comunicação social porque dá jeito tirar dois ministros do Governo para haver eleições antecipadas”, avisou, ressalvando que não está a dizer que é essa a intenção da direção do PSD.

Na resposta, o líder parlamentar do PSD considerou ter separado bem o que tinha ver com a justiça e a política, justificando que havendo um caso que “envolve os dois maiores partidos do regime seria incompreensível que o PSD não trouxesse a questão ao debate” com o primeiro-ministro.

TVI/CNN e jornalista alvos de processo

Carlos Eduardo Reis anunciou entretanto que vai processar a TVI/CNN e disse concordar com a posição do partido de não pactuar com ilegalidades, esperando que “os grandes padrões de ética” se apliquem a todos.

Em declarações aos jornalistas no final da reunião do Grupo Parlamentar do PSD, Carlos Eduardo Reis respondeu a perguntas sobre as reportagens emitidas na terça e quarta-feira à noite pela TVI/CNN Portugal – em que o seu nome é envolvido.

Questionado sobre as condições políticas para se manter como deputado, Eduardo Reis disse que essa será uma avaliação sua, que fará diariamente.

“Quem faz essa avaliação sou eu, o que está em causa é a minha atividade empresarial de há muitos anos, não é o meu mandato aqui na Assembleia da República, nem o meu exercício de cargos públicos. É importante que essa linha seja traçada. Confiança, como viu, tenho de todos os meus colegas”, disse, referindo-se a manifestações de solidariedade que recebeu na reunião.

O deputado disse que nunca foi chamado pela Justiça, apesar ter “pedido para ser ouvido” por várias vezes, e sublinhou que não é arguido, reiterando que nunca corrompeu ninguém.

Carlos Eduardo Reis anunciou que irá processar a TVI/CNN e o jornalista Henrique Machado por notícias que considera “incompetentes, mentirosas e mal trabalhadas”.

Sobre a forma como o PSD reagiu a este processo, repetiu o que tinha dito na reunião do grupo parlamentar: “Não vou ser o idiota útil, nem me vão utilizar para fazer combate político ao Governo”.

Questionado se critica o facto de o líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento, ter levado este tema ao debate com o primeiro-ministro na quarta-feira, respondeu: “Não, concordo com o secretário-geral do partido quando diz que devemos ser absolutamente intransigentes com ilegalidades e mantemos aqui grandes padrões de ética. Isso aplica se naturalmente a todos”, frisou.

Tutti Frutti marca reunião do PSD

Antes da intervenção de Carlos Eduardo Reis, já a deputada Joana Barata Lopes tinha alertado que, aquando das notícias sobre o processo a envolver o ex-deputado Joaquim Pinto Moreira, o PSD traçou linhas vermelhas claras, dizendo que não deve aproveitar notícias deste teor apenas quando convém.

Depois da intervenção de Carlos Eduardo Reis, foram vários os parlamentares a manifestar-lhe solidariedade, como Miguel Santos – que recordou o caso de Miguel Macedo, cujo processo se arrastou por anos e foi depois absolvido -, ou o vice-presidente da bancada Paulo Rios – que considerou “um nojo” arrastar um nome na praça pública durante cinco anos sem direito a defesa.

Segundo relatos feitos à Lusa, o deputado Nuno Carvalho lembrou que ainda há algumas semanas também o presidente do PSD foi envolvido em notícias de processos judiciais e questionou qual a estratégia da direção da bancada.

André Coelho Lima, ex-vice-presidente de Rui Rio, insurgiu-se contra o que chamou de “julgamentos de tabacaria”, dizendo que estes princípios se têm de aplicar tanto para o Carlos Reis como para os restantes envolvidos, como os ministros Fernando Medina e Duarte Cordeiro.

O nome do atual deputado Carlos Eduardo Reis é citado na reportagem por alegadamente ter havido favorecimento a uma empresa que detinha na altura para a construção de um campo desportivo. À TVI/CNN, o deputado já tinha negado a relação com alegado esquema de corrupção na Câmara de Lisboa: “Nunca corrompi ninguém", referiu.

Primeiro num ‘tweet’ do presidente Luís Montenegro e, depois, de viva voz, pelo secretário-geral, Hugo Soares, o PSD afirmou na terça-feira que o partido “não pactuará com qualquer falha ética ou de legalidade”, pedindo rapidez na investigação judicial sobre uma alegada troca de favores entre o partido e o PS nas autárquicas de 2017.

[atualizado às 15h30]