​A ironia como arma política
29-12-2017 - 06:14

Um separatismo (satírico) dentro da Catalunha evidencia as contradições do independentismo.

A ironia, quando utilizada com inteligência, pode ser uma poderosa arma política. É o caso do movimento “Barcelona não é Catalunha”, ou Plataforma pela autonomia de Barcelona, que agora afirma pretender criar, não um estado independente de Espanha, mas uma nova comunidade autónoma desligada do resto da Catalunha e inserida no Estado espanhol. E que lá permaneceria, assim como na UE, caso a Catalunha se tornasse independente, ficando fora de Espanha e da UE.

Essa nova comunidade incluiria as províncias de Barcelona e Tarragona – daí o nome de Tabarnia. A sua concretização dependeria de um referendo a realizar nessas duas províncias. Ora, aí, os votos unionistas foram claramente superiores aos votos independentistas nas eleições autonómicas do passado dia 21. Por outro lado, os adeptos da Tabarnia querem recuperar o condado de Barcelona (sécs. IX a XVIII) e a sua autonomia. A sátira está em que os defensores da Tabarnia utilizam em relação à Catalunha argumentos muito parecidos com os invocados pelos independentistas catalães contra o Estado espanhol.

Por exemplo, dizem eles, o município de Barcelona paga à Generalitat (governo autónomo da Catalunha) 87% das receitas desse órgão, mas apenas recebe 59% dos seus gastos. E dizem ainda os promotores da Tabarnia que essa região industrial tem uma elevada densidade populacional, com rendimentos em média superiores aos do resto da Catalunha (porque a sua economia é mais dinâmica), bem como uma mentalidade aberta – pelo que se orgulham do bilinguismo ali prevalecente (catalão e castelhano). Além de uma intensa relação comercial com o resto de Espanha.

A Tabarnia não será uma nação, é uma ficção, ao contrário da Catalunha, que é de facto uma nação. Não obstante toda a diversidade e todas as contradições existentes na população catalã, há na Catalunha uma língua viva, uma cultura florescente, uma história própria, que a permitem catalogar como nação. Creio, aliás, ser um erro Madrid não reconhecer o óbvio: que a Espanha é um Estado plurinacional. Pelo que, sem pôr em causa a unidade do Estado espanhol, poderia tornar-se um Estado federal, como são a Alemanha, o Reino Unido, os EUA, o Canadá, a Itália (em menor grau), etc.

De qualquer forma, os promotores da Tabarnia, manifestação satírica contra os independentistas, lançaram uma iniciativa política que torna mais evidente que reclamar a independência em nome de todo o povo da Catalunha é uma atitude de má fé, muito pouco séria.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus