Centenas de civis morrem em Mossul por seguir conselho do Governo, diz Amnistia
28-03-2017 - 00:39

Para a AI, as forças da coligação não tomaram as precauções adequadas para prevenir as mortes de civis, violando o direito internacional humanitário.

Centenas de civis morreram em bombardeamento no interior das suas casas ou em refúgios depois de o Governo do Iraque lhes ter pedido para não fugirem durante a ofensiva na cidade de Mossul, denunciou esta segunda-feira a Amnistia Internacional.

Testemunhas e sobreviventes que residem a este de Mossul, norte do Iraque, zona reconquistada ao grupo extremista Estado Islâmico no final de Janeiro, asseguraram à Amnistia Internacional (AI), que receberam instruções das autoridades iraquianas para ficarem em casa e não fugirem.

“As provas reunidas a este de Mossul mostram uma pauta constante e alarmante de ataques aéreos da coligação, liderada pelos Estados Unidos, que destruíram casas inteiras com famílias que se encontravam no seu interior”, assegurou a conselheira de resposta a crises da AI, Donatella Rovera.

Waad Ahmed al Tai, residente do bairro de al Zahra, a este de Mossul, é um dos civis que seguiu os conselhos do Governo iraquianos.“Seguimos as instruções do Governo, que nos disse para ficarmos em casa e evitarmos fugir”, relatou.

Segundo a AI, as “forças da coligação não tomaram as precauções adequadas para prevenir as mortes de civis, violando o direito internacional humanitário”, o que a organização qualificou de “crimes de guerra”.

O comunicado da AI faz referência ao bombardeamento relacionado com a aviação norte-americana lançado a 25 de Março, durante o qual morreram pelo menos 150 pessoas.

“O Governo iraquiano e a coligação devem investigar de imediato e de forma independente e imparcial o terrível número de baixas civis durante a ofensiva de Mossul”, sublinha.

Em muitos dos casos investigados pela AI, onde civis morreram devido aos ataques aéreos da coligação, os residentes e vizinhos que sobreviveram disseram que os combatentes do grupo extremista Estado Islâmico estavam presentes na zona das casas, geralmente no telhado ou nos jardins.

“O [grupo radical] Estado Islâmico recorre à utilização de civis como escudos humanos. Numa zona residencial densamente povoadas, os riscos para a população civil são enormes”, refere.

No entanto, o que o grupo extremista faz, afirmou Donatella Rovera, “não isenta as forças iraquianas e a coligação da sua obrigação de não lançar ataques desproporcionadas”.

A aviação iraquiana e da coligação internacional realizaram um elevado número de bombardeamentos para as tropas terrestres conseguirem entrar naquela cidade, que foi um dos grandes feudos do grupo extremista Estado Islâmico.