​Autárquicas. Algumas dúvidas e uma certeza
06-10-2017 - 18:52

O PSD não está sozinho na lista dos derrotados. A derrota do PCP pode abanar também a própria geringonça?

Não é a primeira vez que as eleições autárquicas condicionam fortemente a política nacional.

Basta recordar que o engenheiro António Guterres, na altura primeiro-ministro, anunciou a sua demissão numa noite eleitoral autárquica em que os resultados não sorriram ao PS.

Agora coube a fava ao PSD e ao seu líder. Pedro Passos Coelho foi melhor primeiro-ministro do que líder da oposição. Enquanto chefe de Governo cometeu erros e não foram poucos. Mas teve a virtude essencial de cumprir um programa tão impopular, quanto crucial para se chegar ao momento em que estamos. O governo atual seria muito diferente se em vez de um país em recuperação, António Costa tivesse herdado um Estado à beira do abismo, como acontecia em 2011.

Em todo o caso, a saída de Pedro Passos Coelho da liderança do PSD lança, entre outras, uma dúvida importante: que PSD teremos a partir do próximo ano?

O PSD que aí vem procurará seduzir o PS para os encantos do bloco central, resgatando António Costa dos braços da geringonça? Ou desejará relançar, em qualquer modalidade a estudar, uma alternativa ao governo, mas com o CDS?

Na hora de escolher, os militantes do PSD hão-de ser confrontados com este dilema que mais cedo ou mais tarde se estenderá ao país.

Acontece que o PSD não está sozinho na lista dos derrotados. O PCP é outro dos grandes perdedores das autárquicas. E neste caso, a dúvida é saber em que medida esta derrota do PCP pode abanar também a própria geringonça?

De facto, a geringonça parece ter impulsionado eleitoralmente o PS, mas tudo indica que enfraqueceu o PCP. Nos últimos dois anos, o PCP amaciou as ruas e amaciou-se no parlamento. Foi amigo do governo. E a CGTP deu a mão: ameaçou mais do que fez.

Por isso, um dos dados – positivos - da atual solução governativa, é o governo não ter caído em desgraça na rua, por tudo e por quase nada.

Mas se o preço por estar com um pé no governo for entendido como demasiado alto, o PCP pode estar de volta à rua. Vai fazê-lo? E em que medida pode fazê-lo, sem que António Costa decida precipitar os calendários eleitorais?

Um PC duro no parlamento e agreste na rua poderia constituir o pretexto adequado para o governo concluir que não dispõe de condições para completar a legislatura.

Nesse contexto, a alteração dos calendários eleitorais imputada à radicalização do PC daria vantagem a António Costa: roubaria tempo para a afirmação do novo líder do PSD e reduziria espaço à consolidação da liderança de Assunção Cristas. Porque essa, entre tantas dúvidas, é uma das certezas que sai deste ato eleitoral: Assunção Cristas assumiu-se como líder, nas decisões que tomou e na campanha que dirigiu. Revelou-se e fez história com os resultados de Lisboa.

E se o PSD guinar à esquerda, Cristas e o CDS não deixarão de aproveitar.