Restrição da entrada de refugiados e muçulmanos nos EUA é "página negra da história", diz bispo
30-01-2017 - 11:40
 • Filipe d'Avillez

De Chicago ao Iraque, responsáveis da Igreja Católica condenam as medidas de imigração e de asilo do novo Presidente.

As novas medidas restritivas de asilo e imigração, adoptadas pelo Presidente Donald Trump, são uma “página negra na história dos Estados Unidos”, considera o arcebispo Blase Cupich, de Chicago.

Donald Trump decidiu proibir a entrada nos Estados Unidos de refugiados durante quatro meses (e, por tempo indeterminado, dos refugiados oriundos da Síria). Mandou também suspender por 90 dias a entrada de quase todos os cidadãos de sete países de maioria muçulmana: Iraque, Síria, Irão, Líbia, Somália, Sudão e Iémen.

Num comunicado publicado no site da diocese, o cardeal tece fortíssimas críticas à medida de Donald Trump e diz que esta contraria os valores americanos e católicos.

“Este fim-de-semana provou ser uma página negra na história dos Estados Unidos. A ordem executiva para barrar a entrada na nossa nação àqueles, em particular muçulmanos, que fogem da violência, da opressão e perseguição contraria os valores católicos e americanos. Não estamos nós a repetir as decisões desastrosas daqueles que no passado fecharam as portas a quem fugia da violência, deixando certas etnias e religiões marginalizadas e excluídas? Nós, católicos, conhecemos bem essa história porque, tal como outros, já tivemos do lado de lá desse tipo de decisões”, escreve.

Cupich critica a medida por ter sido feita à pressa e de forma caótica e desconfia da justificação da administração de que não se trata de uma proibição dirigida especificamente a muçulmanos. “Dizem que não se trata da proibição de entrada de muçulmanos que foi falada durante a campanha, mas este acto dirige-se unicamente a países de maioria muçulmana. Abrem excepções para cristãos e minorias não-muçulmanas, mas não para muçulmanos que fogem para salvar as suas vidas.”

A tomada de posição de Cupich segue-se a outra por parte do arcebispo de Detroit, Allen H. Vigneron, numa carta enviada ao Concelho de Imãs. O arcebispo afirma que a comunidade católica "continuará a erguer a voz por, e a cuidar de, imigrantes e refugiados, independentemente da religião ou país de origem".

A região do Detroit alberga a cidade de Dearborn, que tem a maior população muçulmana nos Estados Unidos.

"Armadilha"

O facto de a ordem executiva permitir excepções para cristãos e membros de outras minorias religiosas também já foi criticado por responsáveis eclesiais do Médio Oriente, com o patriarca da Igreja Católica Caldeia, no Iraque, a dizer que se trata de uma “armadilha”, pois aumenta a percepção que já existe entre muitos muçulmanos de que os cristãos são estrangeiros no seu próprio país, aumentando assim também a perseguição a que são sujeitos.

No seu comunicado, o cardeal Cupich recorda ainda o historial da Igreja Católica de ajudar a acolher refugiados. “Vimos o medo inicial transformar-se em vontade generosa das comunidades para aceitar e integrar refugiados. Aqui em Chicago, gerações de migrantes encontraram uma nova casa. Somos melhores por causa disso”.

A ordem executiva de Trump, com efeitos imediatos, causou o caos em vários aeroportos americanos, com turistas e viajantes a serem barrados e impedidos de entrar no país, nalguns casos apesar de terem vistos válidos.

Trump já afirmou que a medida é temporária e que será levantada dentro de 90 dias, quando a segurança nos aeroportos e pontos de entrada no país tiver sido fortalecida.