EUA. O que são as "midterms"? E porque é que os Republicanos são favoritos a controlar o Congresso?
08-11-2022 - 07:00
 • João Malheiro

As sondagens indicam que o partido da oposição pode retomar o controlo tanto da Câmara dos Representantes como do Senado. Republicanos pró-Trump podem alcançar vitórias decisivas. Alguns estados decisivos podem demorar a anunciar resultados definitivos.

É já esta terça-feira que quase 250 milhões de norte-americanos são chamados às urnas, dois anos depois da vitória de Joe Biden sobre Donald Trump, nas Presidenciais de 2020.

Dois anos depois da vitória Democrata, são os Republicanos que partem como favoritos para conseguir ganharem controlo das duas câmaras do Congresso.

Mas, afinal, em que consistem as "midterms"? Porque é que os Republicanos partem em vantagem? E o que é que pode significar uma vitória Republicana para os próximos dois anos?

O que são as "midterms"?

As "midterms" são as eleições gerais que se realizam a meio de um mandato presidencial, geralmente, na terça-feira depois da primeira segunda-feira de novembro - daí a data de 8 de novembro, este ano.

Todos os 435 lugares da Câmara dos Representantes - a câmara baixa do Congresso - vão ser decididos pelos eleitores dos respetivos estados, assim como, aproximadamente, um terço dos mandatos do Senado - a câmara alta. Em 2022, serão 35 senadores a serem eleito dos 100 que ocupam o orgão legislativo. Um dos 35 só terá um mandato de quatro anos, em vez dos habituais seis, porque estará a substituir um senador que se vai reformar.

Além das eleições federais, 36 dos 50 estados que compõe o país vão escolher os seus governadores. A maioria destes representantes locais são eleitos por quatro anos, mas os governadores do Vermont e de New Hampshire são eleitos de dois em dois anos - ou seja, em 2024, vão voltar a ir a eleição.

Geralmente, as "midterms" têm uma taxa de abstenção superior à das Presidenciais. Em 2016, por exemplo, apenas 36,7% dos eleitores elegíveis foram às urnas. No entanto, em 2018, a meio do mandato de Trump, houve um aumento significativo para 50% de participação.

As "midterms" têm tendência a servir de contrabalança ao mandato presidencial, ou seja, costumam resultar numa formulação do Congresso que recompensa o partido da oposição e pune o partido que ocupa, no momento, a Casa Branca.

O que dizem as sondagens?

Devido ao vasto número de eleições, quer para a Câmara dos Representantes, quer para o Senado, as grandes projeções focam-se na probabilidade de cada partido controlar as duas principais câmaras, depois de ter em conta as sondagens locais, feitas em cada estado em que se realizam as eleições.

Neste momento, é unânime entre todas as sondagens e as próprias fontes dos dois partidos que os Republicanos vão tomar controlo da Câmara dos Representantes. O modelo do site "FiveThirtyEight" diz que os Republicanos têm 84% de hipóteses de ter o número de lugares desejados para conseguirem uma maioria na câmara baixa, enquanto os Democratas só têm 16% de chance. O modelo do "Decision Desk HQ" é mais conservador e dá apenas 78,8% de hipótese aos Republicanos - ainda um número considerável.

No Senado, tudo é mais complicado. Neste momento, todos os modelos de previsão definem o controlo do Senado como um "Toss Up", ou seja, estatisticamente, está no ar quem poderá tomar controlo da câmara alta do Congresso norte-americano. Isto é devido a certas eleições para o Senado estarem dentro da margem de erro das sondagens locais, sendo incerto para que lado os eleitores vão virar, no fim.

No entanto, os modelos atribuem uma ligeira vantagem ao Partido Republicano. O "FiveThirtyEight" diz que há 55% de chances de uma vitória "vermelha", enquanto os Democratas ficam-se pelos 45%. Já o "Decision Desk HQ" dão 57,2% de hipóteses aos Republicanos e só 42,8% aos Democratas.

Ambas as projeções concordam que, o mais provável, é que o partido vencedor só ter maioria por um senador (51/49 em 100).

Porque é que os Republicanos partem em vantagem?

2022 não tem sido um ano fácil para Joe Biden. O início da guerra na Ucrânia trouxe um aumento de custos significativo para o país que tem contribuído mais no apoio económico e militar.

Por outro lado, o aumento da inflação e do custo de vida dos norte-americanos tem pesado no bolso e na tendência de voto. Há ainda problemas que vêm de 2021, como a saída desastrada das tropas norte-americanas do Afeganistão e dificuldades em aprovar um plano económico no Congresso.

Por isso, nos primeiros meses de 2022, os Republicanos partiam como favoritos para as "midterms", algo que não deixa de fazer sentido também numa análise mais histórica. No entanto, o verão trouxe algum oxigénio há esperança Democrata por um resultado melhor.

As decisões do Supremo Tribunal, com maioria conservadora e, em parte, composta por juízes nomeados por Donald Trump, nomeadamente, a reversão do poder constitucional da decisão Roe v Wade, trouxe indignação por parte de uma fatia considerável do eleitorado. Os Democratas cresceram nas sondagens e o próprio Joe Biden teve uma subida na taxa de aprovação.

Com a chegada do outuno, um agravamento das questões económicas e o início do período de campanha, o Partido Republicano voltou a subir nas sondagens e a tendência tem-se mantido favorável à força da oposição.

Quais podem ser as disputas decisivas?

Há cinco estados fundamentais. Quatro deles são estados que Joe Biden conseguiu virar a favor dos Democratas em 2020. Tratam-se do Arizona, Georgia, Pensilvânia e Wisconsin. Para além destes, há ainda uma eleição muito importante em Nevada.

No Arizona, o candidato republicano pró-Trump, Blake Masters, é negacionista da vitória de Biden nas Presidenciais e está a apenas um ponto percentual nas sondagens locais de derrotar o incumbente Democrata, Mark Kelly. Já na Georgia, o antigo jogador de futebol americano na NFL Hershel Walker, também um candidato apoiado por Trump, lidera, em empate técnico, as sondagens mais recentes, contra o atual senador Raphael Warnock.

No Wisconsin, os Democratas sonham conquistar um novo assento no Senado, com o candidato Mandela Barnes, mas por cerca de dois pontos percentuais, é o senador Republicano Ron Johnson que se mantém na frente da corrida. Em Nevada, uma vitória Republicana de Adam Laxalt pode ser um dos golpes mais fortes para roubar o lugar no Senado à Democrata Catherine Cortez Masto.

Por fim, a Pensilvânia, estado emblemático para a vitória de Biden em 2020, tem uma das corridas mais mediáticas da época eleitoral. A personalidade televisiva, com programas que deram na SIC Mulher, em Portugal, Mehmet Oz (mais conhecido por Dr. Oz), representa os Republicanos, contra o vice governador da Pensilvânia e Democrata John Fetterman. O lugar no Senado está vazio, mas era anteriormente ocupado por um Republicano, como sempre foi, aliás, desde 1968.

Oprah Winfrey, que celebrizou Mehmet Oz nos seus programas, anunciou o seu apoio a John Fetterman, mas é o Republicano que lidera as sondagens, apesar de estar dentro da margem de erro.

Quanto tempo demorará para se conhecerem os resultados?

Os estados mais pequenos devem ter resultados definitivos durante a noite eleitoral norte-americana, ao longo da madrugada portuguesa.

No entanto, tal como em 2020, há estados como Arizona, Nevada e Pensilvânia, que podem demorar dias de contagens de votos para haver um vencedor claro. Se algumas destas eleições forem tão próximas quanto as sondagens indicam, ainda mais difícil será haver vencedores anunciados antecipadamente.

Num Congresso em que um lugar no Senado pode definir a manutenção do poder legislativo Democrata em pelo menos uma câmara ou o controlo absoluto dos Republicanos, todos os votos contam. Esta semana será das mais longas e importantes da Democracia norte-americana, durante os próximos dois anos.

O que é que pode significar uma vitória total Republicana?

O Congresso, até agora controlado pelos Democratas nas duas câmaras, pode virar no sentido inverso. Se o Governo de Joe Biden já tinha dificuldades em aprovar algumas das iniciativas legislativas mais relevantes, agora será mais difícil os Democratas governarem sem fazerem sérias concessões.

Muitos dos candidatos que podem virar as eleições, de forma decisiva, para o lado Republicano, são candidatos pró-Trump que derrotaram, em primárias, elementos mais moderados do partido. Uma "onda vermelha" nas intercalares será um sinal de vida de Donald Trump e a sua influência na política norte-americana. Segundo noticiam os orgãos de comunicação dos EUA, Trump pode muito bem anunciar a sua candidatura às Presidenciais de 2024, depois de uma noite de eleições intercalares bem sucedida.

Muitos dos Republicanos que podem ser eleitos para a Câmara dos Representantes e do Senado são contra o apoio económico e militar à Ucrânia. Apesar da Casa Branca já ter vindo dizer que o apoio dos EUA às forças ucranianas é "inabalável" e Joe Biden continuar, obviamente, a ser o Presidente em funções, a verdade é que será necessário a cooperação do Congresso para aprovar futuras ajudas.