​As raízes políticas de Trump
26-03-2018 - 06:24

O presidente americano herdou dos neoconservadores de George W. Bush boa parte das suas posições.

Como se esperava, Trump despediu o seu Conselheiro Nacional de Segurança, general McMaster. O substituto, John Bolton, é um belicista do tempo de George W. Bush, tendo então sido embaixador na ONU. Entusiasta da invasão do Iraque (que Trump na altura criticou), Bolton é partidário de guerras preventivas – contra o Irão e a Coreia do Norte. Aplaudiu o Brexit e quer acabar com o acordo nuclear do Irão.

Esta nomeação evidencia algo a que se tem prestado pouca atenção: aquilo que Trump, que de intelectual tem pouco, herdou dos intelectuais neoconservadores que rodearam Bush filho. É verdade que este e o seu pai, um político respeitável, já publicamente se distanciaram de Trump. Mas foi George W. Bush quem, depois do trauma dos atentados do 11 de Setembro de 2001, iniciou a deriva nacionalista e hostil à ordem internacional construída pelos próprios americanos após a II Guerra Mundial.

A ideia da “America first” foi, sem esse nome, ardentemente advogada pelos “neo-cons”, que detestavam organizações multilaterais (incluindo a NATO e sobretudo a ONU) e até tratados internacionais. Washington, defendiam, devia fazer alianças pontuais com os países que para aí estivessem virados e desprezar o direito internacional. Era a lei da força da única superpotência, orgulhosa do seu poder depois do colapso do comunismo.

Os neoconservadores não se opunham à tortura de suspeitos de terrorismo, realizado em território americano, em Guantánamo e em inúmeras prisões secretas espalhadas pelo mundo. Obama travou a tortura, mas ela volta agora pela mão da nova Diretora da CIA, que aprecia esse tipo de violação dos direitos humanos.

As posições de extrema-direita dos “neo-cons” foram depois em larga medida assumidas pelo movimento radical Tea Party, que colonizou o Partido Republicano, afastando os moderados.

Nunca a Casa Branca havia sido ocupada por uma pessoa com o perfil de Trump, que assusta. Mas importa não ignorar quem, com mais cultura e experiência política do que ele, lhe preparou o terreno e indicou o caminho. Um caminho que Trump irá percorrer com cada vez menos obstáculos internos.

Julgava-se que Trump respeitava os generais e que estes seriam capazes de moderar algumas das suas loucuras. Infelizmente, parece que não. Só falta sair o chefe de gabinete, general John Kelly – possivelmente por iniciativa do próprio, farto do caos que supostamente dirige – para Trump ficar à solta.