​Autarca de Pedrógão admite "uma ou outra falha", mas "nunca pode haver fraude"
12-09-2018 - 18:59

Valdemar Alves disse aos jornalistas que as buscas da Judiciária nas instalações câmara são “um alívio” e não acredita em "compadrio" na atribuição de apoios para a reconstrução de casas destruídas pelo fogo.

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As buscas realizadas esta quarta-feira na Câmara de Pedrógão Grande são “um alívio”, disse aos jornalistas o autarca Valdemar Alves. O responsável admite que podem existir casos de habitações não permanentes reconstruídas com apoios, ponderando avançar com um processo interno.

O presidente do município explica que os investigadores “verificaram os processos um a um, os computadores dos funcionários, o meu computador e os telemóveis”.

Valdemar Alves referiu ainda que "poderá haver algumas declarações erradas" nos processos de reconstrução, esperando agora que, com a investigação, fique tudo esclarecido.

Em causa estão alegadas irregularidades na atribuição de fundos para a recuperação de casas destruídas no grande incêndio do ano passado.

“Não acredito em compadrio. Aqui somos todos primos. Não pode haver. Poderá haver coincidências, mas nunca compadrio”, afirma Valdemar Alves.

“Fraude nunca pode haver. Não há hipótese para que aconteça uma fraude ou um desvio”, garante o presidente da câmara, que admite a possibilidade de surgir "um ou outra falha administrativa".

O autarca admite que “poderá estar em falta uma ou duas declarações” e adianta que, até ao momento, ninguém foi constituído arguido.

Questionado se pondera apresentar a demissão, Valdemar Alves responde: “nem pensar nisso, não há razão para isso, nunca pedirei, isso seria trair a maioria dos pedroguenses que votaram em mim”.

Duas dezenas de casas sob suspeita

Em causa neste processo estão denúncias feitas por duas reportagens, uma da Visão e outra da TVI, que aludiam a situações ilegais na atribuição de fundos para a reconstrução de habitações.

As duas reportagens referiam que casas que não eram de primeira habitação foram contempladas com obras em detrimento de outras mais urgentes e também que casas que não arderam foram reconstruídas com fundos solidários.

A presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, Ana Abrunhosa, negou a existência destas situações, mas, ainda assim, enviou para ao Ministério Público 21 processos para análise.

O presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, também negou estas acusações, mas enviou igualmente para análise um conjunto de processos.

O incêndio que deflagrou em 17 de junho de 2017, em Escalos Fundeiros, concelho de Pedrógão Grande, e que alastrou depois a concelhos vizinhos, provocou 66 mortos e 253 feridos, sete deles com gravidade, tendo destruído cerca de 500 casas, 261 das quais eram habitações permanentes, e 50 empresas.

Em junho, no inquérito relacionado com a responsabilidade do incêndio, eram 10 os arguidos, todos pessoas singulares, de acordo com a Procuradoria-Geral Distrital de Coimbra.