"Joker: Loucura a Dois" estreia esta quinta-feira, em Portugal. Trata-se da sequela direta de "Joker", um dos filmes mais bem-sucedidos na bilheteira em 2019, que resultou em 11 nomeações nos Óscares, incluindo a vitória de Joaquin Phoenix na categoria de Melhor Ator.
Pelo desfecho e contexto do filme, uma continuação era improvável, contudo foi mesmo para a frente. A narrativa coloca Joker (Joaquin Phoenix) em tribunal, pelos seus crimes. Enquanto luta no julgamento, conhece Harley Quinn, uma paciente que está internada no mesmo asilo do vilão e fica obcecada com ele. Juntos, como é habitual na banda desenhada, desenvolvem um romance tóxico e letal.
Desengane-se quem pode achar que "Loucura a Dois" vai ser mais do mesmo. O escritor e realizador Todd Philips decidiu arriscar e apresentar esta história em formato musical.
Ao todo, esperam-se 15 números, a maioria músicas pré-existentes, dentro do jazz clássico dos anos 50 e 60. As canções "Smile" e "That's Life" foram usadas no filme de 2019 e servem de base para o género do que se pode esperar ouvir Joaquin Phoenix e Lady Gaga cantarem. A compositora islandesa Hildur Guðnadóttir, que venceu o Óscar de Melhor Banda Sonora pelo primeiro "Joker", está, igualmente, de regresso.
O casting de Lady Gaga fez furor e a artista não se ficou pela interpretação do filme. A cantora lançou, na semana passada, um álbum entitulado "Harlequin", em que canta as músicas do filme, com novos arranjos. O disco inclui, ainda, "Happy Mistake", uma canção original que não aparece em "Loucura a Dois".
Harley Quinn: de mera ajudante a ícone
Joker é, talvez, o vilão de banda desenhada mais reconhecido no mundo. O palhaço criminoso foi introduzido em 1940 e, desde então, mantém-se um dos antagonistas mais marcantes de Batman e da cultura pop, em geral.
No Cinema, é uma de três personagens que valeram Óscares a dois intérpretes diferentes: Heath Ledger, pelo papel em "O Cavaleiro das Trevas", em 2008, e, como já mencionado, Joaquin Phoenix. Também Jack Nicholson e Jared Leto deram vida a outras versões do supervilão.
É uma marca forte, capaz de entusiasmar os consumidores a gastar dinheiro para ver filmes, séries, videojogos e bandas desenhadas em que a personagem tem um papel relevante. O cabelo verde, a cara branca, com um (sor)riso permanente e a gabardine roxa são tão reconhecíveis como os morcegos de Batman. No entanto, nas últimas décadas, outra personagem tem emergido da sombra de Joker e tornado-se, ela própria, numa figura reconhecida pelo grande público.
Harley Quinn, ao contrário de grande parte dos seus colegas de quadradinhos, não é uma personagem original de banda desenhada. Surgiu sim, pela primeira, na televisão. Em 1992, num episódio de uma série animada de Batman, Harleen Quinzel, uma psicóloga levada à loucura por Joker, foi introduzida como ajudante do antagonista.
Era suposto ser um papel curto, mas a resposta dos fãs foi tão positiva que os argumentistas decidiram incluir a personagem de maneira recorrente. A popularidade de Harley Quinn perdurou e, sete anos depois, foi canonizada no universo de banda desenhada.
Desde então, tornou-se das figuras femininas mais reconhecidas da marca DC, quer seja herói ou vilão. Por muitos anos associada a Joker, eventualmente foi protagonista das suas próprias histórias, às vezes num papel de maior ambiguidade moral, em vez de maldavez pura.
Arleen Sorkin foi a atriz que deu voz à primeira versão da personagem. Muitas outras artistas assumiram o papel, ao longo dos anos, incluindo Tara Strong e Kaley Cuoco.
O filme de 2016 "Esquadrão Suicida" marcou a estreia da personagem em imagem real. O filme fracassou, mas a interpretação da atriz Margot Robbie tornou-se icónica, influenciando a caracterização futura da personagem, e resultou em mais dois filmes.
A popularidade da personagem disparou e é presença cada vez mais recorrente e de destaque em várias formas de média. Desde 2019, a série "Harley Quinn" tem sido dos projetos de animação de maior longevidade da HBO Max. A quinta temporada vai estrear este novembro.
Por um lado, foi este um dos motivos do furor à volta do anúncio da aparição da personagem em "Joker: Loucura a Dois".
O outro, claro, é a própria Lady Gaga, que interpreta uma versão mais manipuladora e psicótica da personagem, com um visual distinto, quer do tradicional aspeto de bobo da corte e do moderno punk rock. A sua performance está a ser dos pontos mais elogiados do filme.
Se esta versão se tornará, igualmente, icónica só o tempo dirá. Assim como ainda não se sabe se "Joker: Loucura a Dois" pode recriar o sucesso de 2019.
O que é certo é esta versão de Joker chega ao fim. Todd Philips já admitiu que quer seguir em frente e Joaquin Phoenix rejeitou voltar ao papel por uma terceira vez.
A despedida dos palcos pode ser vista a partir desta quinta-feira, nas salas de Cinema.