A linha de alta velocidade entre Porto e Valença apenas vai permitir velocidades de 250 km/h, ao contrário dos 300 km/h entre Porto e Lisboa. A Infraestruturas de Portugal (IP) contratou os estudos ambientais para a linha que vai ligar o Porto à fronteira com Espanha e seguir para Vigo, e manteve a velocidade máxima projetada em 2010, pela antiga RAVE.
Segundo os cadernos de encargos – que são públicos e fazem parte das peças do procedimento de contratação -, a linha de 115 km que vai atravessar as regiões do Porto e do Minho tem uma velocidade máxima de 250 km/h, e velocidade mínima de 160 km/h. Outro requisito técnico é a construção em via dupla banalizável - isto é, permitindo a circulação dos comboios nos dois sentidos em ambas as vias.
Segundo fonte oficial da IP, o projeto cumpre o “objetivo” de ligar o Porto a Vigo com uma viagem de uma hora, e vai permitir uma viagem “abaixo desse tempo” com a conclusão da segunda fase – o troço entre o aeroporto Francisco Sá Carneiro e Nine (o início do Ramal de Braga, na Linha do Minho). Veja o mapa do traçado aprovado em 2010 mais abaixo.
Por outro lado, o terreno mais acidentado da região Norte, com vários vales e montanhas, já obriga à construção de mais túneis e viadutos. Optar por uma velocidade máxima de 300 km/h poderia fazer escalar os custos, pela necessidade de reduzir ainda mais as pendentes do traçado — isto é, a inclinação.
A velocidade de 250 km/h não desclassifica esta linha como de alta velocidade. Segundo a atual regulamentação europeia, as linhas são consideradas de alta velocidade se forem construídas para velocidades de pelo menos 250 km/h, ou se forem modernizadas para velocidades na ordem dos 200 km/h. Para a União Internacional de Caminhos de Ferro, as linhas de pelo menos 250 km/h fazem parte da categoria principal da ferrovia de alta velocidade.
A primeira fase da ligação entre Porto e Vigo inclui o troço entre Braga e Valença e a ligação da estação de Porto Campanhã ao aeroporto Sá Carneiro (onde a IP quer um Parque de Materiais e Oficinas para servir os comboios). A previsão é que a construção aconteça entre 2027 e 2032. A segunda fase fica para depois de 2030.
A IP admite construir esta linha de alta velocidade com via única “em partes da extensão”, faseando a construção da segunda via – tal como acontece no Corredor Internacional Sul, na nova linha (também de alta velocidade) construída entre Évora e Elvas. A decisão final vai depender dos estudos de procura e exploração, que estão a ser desenvolvidos em conjunto com a ADIF (homóloga espanhola da IP).
Confirmada a hipotética estação em Ponte de Lima
Tal como aconteceu com os troços da linha entre Porto e Lisboa, os estudos ambientais agora contratados não são novos, mas uma atualização dos que foram realizados pela extinta RAVE (Rede Ferroviária de Alta Velocidade) na primeira década deste século. O troço entre Braga e Valença chegou a ter autorização ambiental emitida, no final de dezembro de 2010.
Além de autorizar “todas as alterações/retificações necessárias” no ramal de Braga e na Linha do Minho “para permitir a integração do ramal de Braga na linha de alta velocidade”, o caderno de encargos do troço minhoto confirma a existência de uma estação em Ponte de Lima, assim como em Braga e Valença.
A possibilidade de criação de uma estação ferroviária no concelho do Alto Minho surgiu no Plano Ferroviário Nacional apresentado pelo anterior Governo, em novembro de 2022. Como sempre, a existência da estação não significa que todos os comboios têm de parar em Ponte de Lima.
A localização da estação está em aberto — só será definida com a emissão da declaração de impacte ambiental, após a fase de consulta pública —, mas a IP definiu a área possível como o ponto de ultrapassagem e estacionamento de comboios previsto no estudo da RAVE.
Em 2010, as hipóteses de traçado colocavam estes pontos ora na freguesia de Brandara, ora na freguesia de Estorãos mas foi o traçado que passava na Brandara, a cerca de 6 km do centro de Ponte de Lima, a ser aprovado pela Agência Portuguesa do Ambiente.
A Infraestruturas de Portugal definiu ainda o estudo de três possíveis localizações para a estação de alta velocidade de Braga – incluindo duas hipóteses subterrâneas, quer na proximidade da atual estação, quer no cruzamento da linha de alta velocidade com o ramal de Braga (em Tadim). O projeto aprovado em 2010 previa a passagem da linha na zona oeste da cidade em túnel.
Há também duas localizações possíveis para a estação de Valença. Uma das hipóteses é adaptar a atual estação para receber os comboios de alta velocidade; a outra é optar pela localização projetada pela RAVE em 2010.
A utilização das estações existentes tem sido um critério da IP no renascimento do projeto da alta velocidade ferroviária em Portugal. A estação de Valença tem mais espaço à volta que a de Braga, que foi remodelada em 2003 e 2004 e está rodeada de urbanização, mas ambas vão testar esta preferência da gestora da rede ferroviária.
Onde vai ser obrigatório construir uma nova estação é no aeroporto Francisco Sá Carneiro. Em 2022, a IP propôs ao Governo a antecipação desta ligação dos comboios de alta velocidade ao aeroporto em troca do adiamento da terceira fase da linha Porto – Lisboa, entre o Carregado e Lisboa.
Ainda não existe um custo estimado para a linha de alta velocidade entre Porto e Valença. Mas os dois contratos celebrados agora – com estudos separados para o troço Braga — Valença e para a ligação Porto Braga – ultrapassam os 980 mil euros.