​A vontade dos povos
13-09-2019 - 06:46

O que se tem passado depois do Brexit confirma aquilo que os observadores mais atentos têm vindo a apontar: o problema está na União e não no Reino Unido.

A decisão pelo Brexit é considerada, desde o início, pelos meios federalistas e grupos de interesse ligados às instituições europeias (grupos fortíssimos, especialmente nos media e nos meios académicos) como tendo sido consequência de uma loucura do eleitorado britânico, na maioria idosos e aproveitando o facto dos jovens e os “bons” britânicos (ou seja os europeístas) não terem ido votar. Além disso, acrescentam que a margem do sim ao Brexit foi demasiado pequena para ser significativa- esquecendo convenientemente que o sim francês à moeda única ainda conseguiu uma margem inferior.

Para eles, a União é perfeita, tudo o que faz é bom e tudo os que os estados fazem (com excepção da Alemanha e da França) é mau. Por isso, nunca lhes passou pela cabeça pôr a questão em sentido inverso, ou seja, se não terá sido o mau funcionamento da União e das suas inadequadas instituições que são a causa última do Brexit.

A verdade é que o que se tem passado depois do Brexit confirma aquilo que os observadores menos enfeudados e mais atentos têm vindo a apontar desde há alguns anos: o problema está na União e não no Reino Unido.

Quando, a partir do sim , temos vindo a constatar que são as instituições comunitárias, ajudadas por um parte dos deputados britânicos, a tentarem inverter a decisão da saída, jogando no pior, melhor e criando um ambiente impossível para a existência de um acordo de saída, o que estamos é a confirmar que a União entrou já numa fase inédita e deplorável que é a de obrigar à pertença dum país mesmo contra a vontade da maioria do seu povo. Pessoalmente estou mesmo convencido que, se tal fosse possível (o que felizmente não é o caso) as instituições europeias apelariam à violência para manterem o Reino Unido no clube.

Não tenhamos ilusões. Se a União ganhar em relação ao Brexit será uma vitória de Pirro e ninguém mais acreditará na União amiga e respeitadora das vontades dos povos com que a propaganda não se cansa de acenar.