Vigorexia, uma doença que atinge cada vez mais jovens
30-11-2018 - 11:00

À semelhança da anorexia, a vigorexia causa uma distorção da imagem corporal e pode levar à obsessão pelo aumento da massa muscular.

Uma distorção da imagem corporal pode levar jovens à obsessão pelo aumento da massa muscular, ao recurso a horas de ginásio e a uma alimentação com restrições. O alerta para os casos de vigorexia é feito por um pediatra.

Pascoal Moleiro, responsável pela consulta de Medicina do Adolescente, no serviço de Pediatria do Centro Hospitalar de Leiria, admite à agência Lusa que os casos ainda são raros, mas que a doença é também desconhecida da maioria das pessoas e, que por isso, poderá chegar aos consultórios já num quadro avançado.

O pediatra alerta que a fronteira entre a doença e apenas a vontade em querer aumentar a massa muscular é ténue. “O ponto fundamental é que há distorção da sua imagem. Podem ter uma massa muscular já relativamente aumentada, mas continuam a se percecionar como tendo pouca. Nesta procura incessante de massa muscular, começam a entrar numa tentativa de fazer exercício intenso para esse efeito", explica.

Pascoal Moleiro sublinha que a vigorexia "não é um distúrbio alimentar, embora, às vezes, possa entrar no conjunto dos distúrbios alimentares, porque há algumas características que podem ser partilhadas".

"A parte comum com o distúrbio alimentar é que começam a entrar em dietas para aumentar a massa muscular, comendo mais proteína, mais arroz e deixando alguns alimentos de parte. Daí que, às vezes, se possa um pouco confundir esta entidade com os distúrbios alimentares".

As causas da vigorexia são tão variadas como na anorexia. O pediatra explica que dentro dos casos que conhece, “há alguma baixa autoestima, estão constantemente no ginásio, aproveitando todas as horas vagas e sentem-se mal quando falham um exercício”.

Revelando que ainda só diagnosticou dois casos de rapazes, Pascoal Moleiro sublinha a necessidade de advertir para esta doença. "É preciso alertar para os riscos e fazer o diagnóstico correto. O médico de família terá um papel importante na deteção e saber que existe esta entidade para ser detetada".

"Não é algo novo. Está descrito em termos de classificação médica há algum tempo, mas fala-se pouco. Como agora há estas questões da moda do ginásio e de fazer desporto, começa a existir mais foco e mais alertas para a existência destes casos", adianta o especialista.

Os riscos para a saúde podem passar por "grandes sobrecargas de exercício", que podem provocar lesões musculares e "carências" alimentares, devido a uma dieta de restrição. "Diria que um aspeto fundamental é o psicológico. Muitas vezes existe psicopatologia", como "depressão e ansiedade", o que "também pode passar despercebido".

A "obsessão" pelo exercício pode ser um dos pontos de alerta. "Por exemplo, há pessoas que podem achar que têm os lábios muito alterados e estão constantemente a fazer cirurgias e acham sempre que aquilo não está perfeito. É um pouco neste grupo de doenças que entra a vigorexia, com a imagem corporal e com os comportamentos associados a isto, claro que é obsessivo e muito focado".

Quando é diagnosticado, a intervenção é feita através de uma equipa multidisciplinar, que inclui não só um pediatra, como um pedopsiquiatra e psicólogo. "Poderá ser necessário fazer alguma psicoterapia e fazer algum suporte familiar e também dar algumas competências ao jovem para aquilo que é o seu autoconceito que está um pouco em baixo".