​A Europa e os EUA
30-05-2017 - 06:15

Os europeus não podem contar com uma infalível protecção militar americana. Nem britânica.

“Nós, europeus, devemos tomar em mãos o nosso próprio destino”. Esta frase da chanceler Merkel correu mundo. Ela traduz a frustração de Merkel quanto ao fraco empenhamento de Trump na NATO. E talvez envolva também o “brexit”.

Depois do fim da II Guerra Mundial, os dirigentes americanos impulsionaram a integração europeia, como primeira linha de defesa contra o expansionismo soviético e contra a influência considerável dos partidos comunistas em França e na Itália. Por isso surgiu o Plano Marshall, uma ajuda financeira maciça à recuperação de uma Europa devastada pela guerra – mas impondo aos países beneficiários a gestão em conjunto das verbas vindas dos EUA. Assim nasceu a OECE, Organização Europeia de Cooperação Económica, mais tarde OCDE.

A URSS e os países da área soviética recusaram esse auxílio. Salazar começou também por não incluir Portugal na lista de beneficiários do Plano Marshall (era já o síndroma do “orgulhosamente sós”), mas recuou e aceitou receber ajudas a partir de 1949.

Mas o derradeiro empurrão para criar a Comunidade Económica Europeia veio de um “fiasco” europeu: a falhada resposta militar do Reino Unido e da França, em 1956, em apoio a Israel, depois da nacionalização do canal do Suez pelo presidente egípcio Nasser. O presidente dos EUA, Eisenhower, opôs-se publicamente à operação franco-britânica, humilhando os aliados europeus, que tiveram que retirar as suas tropas. Pouco depois era assinado o Tratado de Roma (sem o Reino Unido), criando a CEE.

O apoio americano à Europa comunitária foi importante e prolongou-se até Obama. Apesar de ter terminado a guerra fria, a agressividade de Putin ameaçava, e ameaça, vários países da antiga órbita soviética. Mas, em 1956, uma falha na solidariedade transatlântica, como foi a crise do Suez, provocou o impulso final para seis países europeus darem um grande passo no sentido da integração.

Agora, face ao desinteresse de Trump na NATO e à saída do Reino Unido da UE, tomar o destino nas suas mãos significa para os europeus, antes de mais, levarem a sério a sua própria defesa.