Aliviar medidas "mesmo que por dois ou três dias" no Natal pode gerar novo pico de infeções
16-12-2020 - 18:10
 • Hugo Monteiro com redação

O alerta é feito na Renascença pelo diretor do Serviço de Infecciologia do Hospital Curry Cabral, em Lisboa. "Nesta fase, e a manterem-se estes números até à altura de decisão, o Governo deveria optar por não abandonar nem aligeirar as medidas em vigor", defende Fernando Maltez.

O Governo vai anunciar esta semana se haverá, ou não, um alívio das restrições anti-Covid-19 na época natalícia.

Um pouco por toda a Europa tem havido uma onda contrária, no sentido de aumentar as restrições, como é o caso da Alemanha, que decidiu impor confinamento total no período das festas. Pelo contrário, o Governo de Itália continua a excluir essa hipótese, embora esteja também a avaliar se aperta ou não as medidas já em vigor.

Para o diretor do Serviço de Infecciologia do Hospital Curry Cabral, face aos atuais números da epidemia de Covid-19 em Portugal, o Governo não deve optar por aliviar restrições, sob pena de lidarmos com um novo pico de infeções nos primeiros dois meses do ano.

À Renascença, Fernando Maltez destaca que, "apesar de os números terem diminuído, ainda não diminuíram para um número mais razoável e satisfatório, que nos deixasse mais tranquilos".

"Interpreto o anúncio que tem sido feito até agora por parte dos nossos governantes, de que iríamos aliviar um bocadinho as regras no período de Natal, como um incentivo, um prémio para os portugueses, por de facto terem cumprido até agora as restrições, aparentemente de uma forma exemplar, e tem-se objetivado uma redução no número de novos casos. Contudo, e no meu entender, se estes números não baixarem mais, acho que não se deveria aliviar as medidas que estão implementadas".

Pelo contrário, defende o especialista, "devem manter-se as restrições adaptadas às diferentes áreas conforme os níveis de incidência, de modo a que não nos venha a calhar aqui um período pior após a fase do Natal".

"Embora se note uma diminuição do número de novos casos, essa redução ainda não foi suficientemente significativa para deixar de haver uma pressão ainda problemática sobre o Serviço Nacional de Saúde e, em particular, sobre as Unidades de Cuidados Intensivos. E portanto, é minha opinião que, nesta fase, e a manterem-se estes números até à altura de decisão, o Governo deveria optar por não abandonar nem aligeirar as medidas em vigor."

O infecciologista acredita que, "se houver um alívio das medidas, mesmo que por dois ou três dias", isso poderá "determinar um novo acréscimo de casos" em janeiro e fevereiro.

"Quando o vírus está em circulação na comunidade, isto é assim mesmo: se confinarmos, o número de casos vai diminuir, se desconfinarmos, o número de casos vai aumentar. Enquanto o vírus andar por aí a circular e não tivermos disponível uma vacina, temos de nos mentalizar que temos de confinar com alguma regularidade, de forma a manter o número de casos em valores relativamente aceitáveis, que não pressionem em demasia o SNS, para que possamos dar uma resposta cabal."