​Escultor do busto polémico: "O Cristiano disse-me que gostou"
29-03-2017 - 18:13
 • João Carlos Malta

Foi um dos momentos da cerimónia que colou o nome de Cristiano Ronaldo ao aeroporto da Madeira. A escultura foi tema de conversa durante muitas horas e alvo de críticas e comentários jocosos. O autor, um autodidacta desempregado, que fez limpezas no aeroporto, garante que quase só tem recebido boas avaliações.

Emanuel Santos, de 40 anos, fala com a Renascença desde Machico, na Madeira, ainda mal refeito do impacto mundial do busto em bronze de Cristiano Ronaldo, de sua autoria. A fama não tem uma carga de todo positiva, como tem sido visível nas redes sociais e junto de alguma imprensa internacional.

Emanuel assume-se como um autodidacta que, desde há dois anos, se dedica a 100% à escultura. Trabalhou nas limpezas do aeroporto da Madeira, mas está desempregado desde o início do ano.

Tinha o sonho de fazer uma escultura de Cristiano Ronaldo e conseguiu. Mal apareceu a oportunidade, aproveitou-a. Ninguém lhe pediu o trabalho, foi ele que propôs fazê-lo.

No currículo conta com duas obras que estão expostas na Madeira - uma de pescadores para Machico e outra de lenhadores na mesma freguesia -, mas nenhuma teve a repercussão pública da que fez do craque da selecção nacional e do Real Madrid.

Após lhe perguntarmos como reage aos comentários nas redes sociais, Emanuel questiona se estão a ser assim tão negativos porque ainda não teve tempo para assentar e ver. Dizemos-lhe que sim e ele responde que isso o surpreende porque as pessoas que o abordam afirmam o contrário. Mas, ainda assim, deixa o recado aos críticos: “Uma escultura é uma escultura e uma fotocópia uma fotocópia.”

No entanto, Emanuel Santos deixa uma garantia: Cristiano, a família dele, o aeroporto da Madeira e o Governo Regional da Madeira gostaram.

Como surgiu a oportunidade de fazer o busto do Cristiano Ronaldo para o aeroporto?

Eu tinha o conhecimento de que se ia associar o nome do Cristiano Ronaldo ao aeroporto da Madeira e, por iniciativa própria, propus fazer um trabalho, um busto que pudesse ficar associado à cerimónia. Falei com as entidades competentes, a direcção do aeroporto da Madeira, expus a minha ideia e mandaram avançar. Entretanto, quando já tinha o busto em gesso, mostrei à direcção, eles gostaram do que viram e mandaram-me seguir.

A direcção do aeroporto da Madeira gostou?

Exactamente, mas, como isto envolve direitos de imagem e o Governo Regional, houve a necessidade de haver um parecer. A família teve de ver para concordar ou não.

Quem viu?

A família do Ronaldo.

A mãe?

A mãe e o irmão.

E aprovaram?

Sim, e mandaram avançar com o trabalho. E o Governo Regional também. E assim foi.

O Cristiano também viu?

O Cristiano viu as fotos que o irmão lhe mandou. Eu estive com o irmão no museu do Cristiano e, pelas mensagens do Ronaldo, percebi que ele gostou do que viu. Só mandou alterar umas rugas, que dão uma certa expressão no rosto quando ele se está a rir. Ele disse que estava um bocadinho saliente, que o fazia mais velho. E pediu para desbastar mais um bocadinho, para ficar mais liso e mais jovial. Mas mandaram avançar porque gostaram do que viram.

Viram a versão final antes de ser descerrada?

Supostamente, sim. Eu não estava lá. Quando cheguei ao aeroporto, já tinha sido descoberto [o busto] para começar a cerimónia. Entretanto, o Cristiano foi dos últimos a chegar ao local.

Falou com ele hoje?

Falei na sala VIP, onde houve um pequeno convívio, e ele gostou. Perguntei o que é que ele achou do trabalho e ele disse que gostou.

Mas, nas redes sociais, houve muitas críticas. Está a par delas?

Ainda não tive tempo para me sentar e ver o que se diz. A verdade é que em qualquer trabalho há críticas, sabe-se disso. Não conseguimos agradar a gregos e a troianos. Uma escultura é uma escultura e uma fotocópia é uma fotocópia. As coisas são como são, mas é preciso saber gerir as críticas.

São muitas?

A mim não me chegaram nenhumas. Tenho amigos no Facebook e o “feedback” tem sido positivo. Claro que há um ou outro que diz que podia melhorar uma ou outra coisa. Mas é complicado. Isto não se consegue agradar a todos. É um trabalho complexo. Não é fácil de fazer.

Qual foi a complexidade deste trabalho?

Fazer uma figura pública é um desafio, isto não é fazer uma figura aleatória. É complicado ver o perfil, lado e atrás. Uma coisa é basearmo-nos em fotografias, outra é ter a pessoa ao lado e tirar medidas para fazer tal e qual.

E nunca o teve à sua frente?

Claro que não. Ele é muito ocupado. Onde é que iria arranjar tempo?

Em que é que se inspirou?

Já era um objectivo que tinha, fazer uma escultura. Já tinha feito uma para ficar à frente do seu museu, mas já tinha pensado em fazer o busto dele noutra dinâmica, noutra temática. E surgiu esta oportunidade e fiz com esta intenção de fazer uma coisa diferente.

Partiu da sua iniciativa fazer o trabalho, mas foi-lhe pago?

Sim, sim.

Quanto recebeu?

Isso não posso divulgar. Sinto muito.

Acha que este trabalho pode-lhe abrir portas?

Uma das ideias de tomar esta iniciativa era essa mesma. Estou a dar os primeiros passos neste trabalho e fazer uma obra desta grandeza é para abrir portas. Tenho outros trabalhos, já, mas quantos mais melhor.

O que é que gostava de fazer?

Isso é que é uma boa pergunta.

Que tipo de trabalhos?

Isso agora é que não lhe sei dizer. Tudo o que vier, virá.