Tempos difíceis para os cristãos? Se não fossem difíceis, não seriam para nós
24-09-2018 - 12:00
 • Com Ecclesia

Catedral Luterana de Riga acolheu encontro de oração com milhares de pessoas. Papa teceu um argumento com base no órgão da catedral, que já foi o maior do mundo.

O Papa Francisco participou, esta segunda-feira, numa oração ecuménica na catedral Luterana de Riga, com representantes de várias Igrejas, perante os quais admitiu que o Cristianismo enfrenta tempos “difíceis e complexos”.

“Alguns podem chegar a dizer: são tempos difíceis e complexos, estes que nos cabe viver. Outros podem chegar a pensar que, nas nossas sociedades os cristãos têm cada vez menor margem de ação e influência devido a inúmeros fatores, como, por exemplo, o secularismo ou as lógicas individualistas. Isto não pode levar a uma atitude de fechamento, de defesa, nem de resignação”, declarou, num encontro que reuniu milhares de pessoas na capital da Letónia.

Como exemplos dessas dificuldades, Francisco evocou os cristãos de todo o mundo que, ainda hoje, “vivem na sua carne o exílio e até o martírio por causa da fé”.

“Se Cristo nos considerou dignos de viver nestes tempos, nesta hora – a única que temos –, não nos podemos deixar vencer pelo medo nem deixar que ela passe sem a assumir com a alegria da fidelidade. O Senhor dar-nos-á a força para fazer de cada tempo, de cada momento, de cada situação uma oportunidade de comunhão e reconciliação com o Pai e com os irmãos, especialmente com aqueles que hoje são considerados inferiores ou matéria de descarte”, acrescentou.

"Se Cristo nos considerou dignos de fazer ecoar a melodia do Evangelho, deixaremos de o fazer?", perguntou o Papa.

O encontro começou com um ato de veneração junto ao túmulo de São Meinardo, bispo que era monge na Alemanha quando, já em avançada idade, partiu para evangelizar a Letónia.

O Papa mostrou-se “feliz” por visitar este país do Báltico, elogiando o “caminho de respeito, colaboração e amizade entre as diferentes Igrejas cristãs”, um “ecumenismo vivo”.

“Que as nossas diferenças não se tornem divisões”, apelou.

A intervenção utilizou como pano de fundo a presença, na catedral luterana, de um dos órgãos mais antigos da Europa que, no momento da sua inauguração, era o maior do mundo.

“Se a música do Evangelho cessar de repercutir nas nossas casas, nas nossas praças, nos postos de trabalho, na política e na economia, teremos extinguido a melodia que nos desafiava a lutar pela dignidade de todo o homem e mulher, independentemente da sua proveniência”, assinalou.

Francisco alertou para o perigo de “passar de residentes a turistas”, fazendo daquilo que identifica as comunidades “um objeto do passado, uma atração turística e de museu”.

“Com a fé, pode acontecer exatamente a mesma coisa. Podemos deixar de nos sentir cristãos residentes, para nos tornarmos turistas”, precisou.

O Papa defendeu que o único caminho para o ecumenismo é “a cruz do sofrimento de tantos jovens, idosos e crianças, frequentemente expostos à exploração, ao absurdo, à falta de oportunidades e à solidão”.

“Enquanto fixa o olhar no Pai e em nós, seus irmãos, Jesus não cessa de implorar: que todos sejam um só”, prosseguiu.

A celebração concluiu-se com uma oração proferida pelos responsáveis locais das Igrejas Católica, Luterana, Batista e Ortodoxa, seguindo-se uma procissão de crianças com velas, para a fonte batismal.

A viagem apostólica aos países bálticos começou este sábado, na Lituânia, e prossegue esta terça-feira, na Estónia.


A jornalista da Renascença Aura Miguel acompanha o Papa Francisco na sua Viagem Apostólica à Lituânia, Letónia e Estónia com o apoio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.