​A pressa de Montenegro
11-01-2019 - 12:00

Ex-líder parlamentar tenta derrubar Rui Rio, mas não conseguirá juntar todos os descontentes.

Rui Rio foi eleito líder do PSD há um ano nas diretas de 13 de Janeiro e iniciou de facto funções depois do Congresso de 16, 17 e 18 de fevereiro. Num ano não conseguiu nem unir o partido, nem mobilizar o eleitorado. Revelou uma impreparação imensa para o cargo mais difícil da política: ser líder da oposição.

Mostrou arrogância em relação ao seu próprio grupo parlamentar, desprezo por colegas de partido, indiferença a regras básicas de comunicação, incoerência entre o que diz e o que faz. Esperava-se, naturalmente, mais de alguém que, há anos, preparava este momento.

Rui Rio merece, pois, tudo o que lhe está a acontecer e que tinha obrigação de saber que ia acontecer. Mas também por isso merece ir a votos. A votos dos portugueses. Para que não fique para sempre como um injustiçado pelos seus próprios colegas de partido, para que não fique pelo que podia ter sido, mas foi impedido de ser.

Luís Montenegro tinha deixado bem claro no congresso do ano passado a vontade de, um dia, disputar a liderança do PSD. Mas não quis ir a votos há um ano, num exercício de calculismo de quem acha que as próximas eleições legislativas são ainda para perder e depois é que será o tempo de reconquistar o poder ao PS. O tempo de Montenegro seria, pois, o pós-legislativas de 2019, apostando numa derrota do PSD que teria de levar a uma saída de Rui Rio.

Porquê, então, agora a pressa?, como perguntaria António José Seguro, que foi vitima de uma pressa semelhante de António Costa.

A explicação que tanto apoiantes como críticos de Rio avançam é de ordem interna. Não é a nobre preocupação de achar que o PSD vai ter um péssimo resultado eleitoral e que é preciso ainda tentar evitar. É a comezinha preocupação de quem vai entrar ou não nas listas de candidatos a deputados. É gestão de podres internos, de cargos no aparelho, de lugares no Parlamento. O aparelho não apoiante de Rio e que não conhece outra vida percebeu que seria corrido das listas e que depois poderia perder os próprios lugares nas distritais e pressionou o candidato a avançar para um desafio ao líder para convocar eleições diretas.

E Montenegro, que também não tem outra vida, lá avança, empurrado pelo aparelho ou autoconvencido de que pode ser Costa, ignorando as diferenças de currículo e experiência e de circunstâncias. Não percebendo que ainda merece menos o PSD do que Rui Rio. E que, a julgar pelos sinais já dados, nem os descontentes conseguirá juntar.

Quase de imediato saltou outro candidato: Miguel Morgado, um professor universitário que entrou para a política com Passos Coelho, bom tribuno, deputado, mas que nem o próprio partido conhece.

Pedro Duarte, que também já se tinha posicionado para o pós-Rio, achará que ainda não é o seu momento. Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara de Cascais também com ambições a longo prazo, já disse que não lhe parece o momento certo e que não irá contribuir em nada para derrubar o líder em funções. Pedro Santana Lopes já saiu, desbaratando os seus 46 por cento nas diretas de há um ano. Mas um dos seus apoiantes e diretor de campanha – João Montenegro, que negociou a lista conjunta para o Conselho Nacional, eleita no Congresso – também já veio dizer que lhe parece um erro uma tentativa de destituição de Rui Rio a três meses de eleições.

O PSD entra, assim, em mais intensa convulsão interna num intenso ano eleitoral, á beira de umas eleições para o Parlamento Europeu. Mas esta não é uma situação estranha ao partido que, como gostam de dizer os seus militantes, para o bem e para o mal é o mais português dos partidos. Como dizia ontem um antigo deputado, “o PSD está um bocadinho como o Sporting, mas se até o Sporting aguenta, o PSD também vai aguentar”.